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Hoje é sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Bem-Aventuranças

Mulher na praia - Bem-Aventuranças

Ouça o áudio de "Bem-Aventuranças", de Andreia Donadon Leal:

Hoje o dia foi brabo, daqueles de arrancar fios de cabelos. Estou em um momento de mal-aventuramento, com tanta coisa ruim, livre, leve e solta. A política de cada dia vai de mal a pior, em tudo quanto é canto. O povo vai cantando, maldizendo as feituras dos gestores. Gestor-pseudo. Parece que a política nacional patina nos tempos machadianos. Nesse caso, uma declaração ou má feitoria, dá-lhe machadada na cabeça dos incultos e incautos, cegos do presente e do futuro.

Pobres de nós, pobres eleitores! ‘A culpa não foi minha. Eu não carrego essa culpa. A culpa é de fulano. A culpa é de beltrano’. A culpa é de milhões. Ninguém tem culpa de nada, ora pois! Nós é que temos uma lista colossal de péssimos políticos. Nós é que não temos para onde correr. Nós é que carecemos de cabeças pensantes e engenhosas. Nós é que carecemos de eleitores que pensem no bem-estar coletivo e não no próprio umbigo. Nós é que somos paupérrimos de bons gestores. Nós é que estamos malfadados, desaventurados, mal-aventurados e desarvorados.
 

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Do céu? Pobres de espíritos são os políticos que roubam do povo. Pobres de espírito são os que se calam com as injustiças. Mas mal-aventurados, aqui na terra, serão os que falam o que pensam. Mal-aventurados os críticos e formadores de opinião, que tomarão pancadas e retaliações de governos ditadores. Mal-aventurados os que lutam por liberdade de expressão e por um país mais justo. Mal-aventurados os que saem às ruas e levantam bandeiras. Mal-aventurados seremos pelos controladores do poder. Mal-aventurada Marielle, defensora ferrenha das minorias. Malfeitor PM, covarde, pau mandado, que soltou tiros para quitar a vida de dois bravos. Mal-aventurado será pela justiça terrena e divina. Mal-aventurados os que sucateiam os serviços públicos. Mal-aventurados os que aproveitam da desinformação dos humildes. Mal-aventurados os pseudo-profissionais que destratam o povo.

Mal-aventuradas as lojas que vendem produtos de qualidade duvidosa. Mal-aventurados os atendentes de lojas que defendem a premissa de ‘tanto faz se a roupa ficou boa ou má no cliente’. Mal-aventurados os que passam a perna nas pessoas. Mal-aventurados os que perderam a capacidade de aprender a aprender. Mal-aventurados os políticos que deixam o poder falar mais alto do que projetos benéficos para desafortunados. Mal-aventurados os carentes de estudos, que aceitam de cabeça baixa, as escabrosidades públicas. Mal-aventurados os políticos deslumbrados e em estado de emburrecimento. Mal-aventurados os que se arrependeram amargamente dos candidatos que colocaram no pódio.
 

Bem e mal-aventurados os que reclamam por ruas, bares, comércio, bancos e rede social. Bem-aventurada a internet; plataforma poderosa para reivindicações e liberdade de expressões. Apesar de quê cronista e crítico devem ter paciência de Jó, para aguentar a enxurrada de comentários a favor e contra. “No que estou pensando?” Na morte da bezerra, que desapareceu do meu campo de visão. Na morte dos mortos, nos entes queridos e não tão queridos que se foram dessa, livres de suas funções vitais, livres das mazelas, das amarras, da violência generalizada, da vergonha e dos descalabros políticos escancarados aos quatro cantos.

Meu pai bem dizia que tudo podia piorar e sempre nos aconselhava a colocar o pé atrás diante das promessas e falatórios de políticos. O povo merece o governo que tem? Não creio nessa premissa. Ainda bem que a democracia permite correção de rota. Mas, por enquanto, tudo está na mais pura zona. Educação esmaecendo. Cultura desvanecendo. Saúde sucateada. Segurança insegura…
 

E esse calor dos ‘raios que o partam’, que nenhum ventilador abranda. Esse som alto irritante vindo da casa do vizinho mala, que ouve vinte e quatro horas por dia, funk, funk, funk. Olhe que acabo gostando disso. Mal-aventurada serei, pois… Pobre de espírito o sujeito que desconhece fone de ouvido. Mal-aventurada de mim, que leio e escrevo, ao som de guitarras elétricas, baixo, bateria, teclados, metais e o diabo a quatro, parcas linhas do cotidiano.

Picture of Andreia Donadon Leal
Andreia Donadon Leal é Mestre em Literatura, Especialista em Arteterapia, Artes Visuais e Doutoranda em Educação. Membro da Casa de Cultura- Academia Marianense de Letras, da AMULMIG e da ALACIB-MARIANA. Autora de 18 livros

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