Bem-Aventuranças
- Andreia Donadon Leal
- 16/04/2019
Ouça o áudio de "Bem-Aventuranças", de Andreia Donadon Leal:
Hoje o dia foi brabo, daqueles de arrancar fios de cabelos. Estou em um momento de mal-aventuramento, com tanta coisa ruim, livre, leve e solta. A política de cada dia vai de mal a pior, em tudo quanto é canto. O povo vai cantando, maldizendo as feituras dos gestores. Gestor-pseudo. Parece que a política nacional patina nos tempos machadianos. Nesse caso, uma declaração ou má feitoria, dá-lhe machadada na cabeça dos incultos e incautos, cegos do presente e do futuro.
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Do céu? Pobres de espíritos são os políticos que roubam do povo. Pobres de espírito são os que se calam com as injustiças. Mas mal-aventurados, aqui na terra, serão os que falam o que pensam. Mal-aventurados os críticos e formadores de opinião, que tomarão pancadas e retaliações de governos ditadores. Mal-aventurados os que lutam por liberdade de expressão e por um país mais justo. Mal-aventurados os que saem às ruas e levantam bandeiras. Mal-aventurados seremos pelos controladores do poder. Mal-aventurada Marielle, defensora ferrenha das minorias. Malfeitor PM, covarde, pau mandado, que soltou tiros para quitar a vida de dois bravos. Mal-aventurado será pela justiça terrena e divina. Mal-aventurados os que sucateiam os serviços públicos. Mal-aventurados os que aproveitam da desinformação dos humildes. Mal-aventurados os pseudo-profissionais que destratam o povo.
Bem e mal-aventurados os que reclamam por ruas, bares, comércio, bancos e rede social. Bem-aventurada a internet; plataforma poderosa para reivindicações e liberdade de expressões. Apesar de quê cronista e crítico devem ter paciência de Jó, para aguentar a enxurrada de comentários a favor e contra. “No que estou pensando?” Na morte da bezerra, que desapareceu do meu campo de visão. Na morte dos mortos, nos entes queridos e não tão queridos que se foram dessa, livres de suas funções vitais, livres das mazelas, das amarras, da violência generalizada, da vergonha e dos descalabros políticos escancarados aos quatro cantos.
E esse calor dos ‘raios que o partam’, que nenhum ventilador abranda. Esse som alto irritante vindo da casa do vizinho mala, que ouve vinte e quatro horas por dia, funk, funk, funk. Olhe que acabo gostando disso. Mal-aventurada serei, pois… Pobre de espírito o sujeito que desconhece fone de ouvido. Mal-aventurada de mim, que leio e escrevo, ao som de guitarras elétricas, baixo, bateria, teclados, metais e o diabo a quatro, parcas linhas do cotidiano.
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