170 anos das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo em Mariana

Vindas da França, as Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo estabeleceram um marco na educação feminina em Minas Gerais

No dia 28 de novembro de 1848 partiu do porto de Havre, na França, o veleiro “Etoile du Matin” rumo ao Brasil. A embarcação seguiu viagem levando, a bordo, seis padres, três irmãos vicentinos e doze filhas da Caridade para uma jornada de educação e evangelização no novo mundo.

A vinda das Irmãs para Mariana, só foi possível por um pedido de Dom Antônio Ferreira Viçoso, sétimo Bispo de Mariana, que buscou, em meados do século XIX, na Europa, mais precisamente na França, o apoio da Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, para instalação da primeira Casa da Providência, no país. A Diocese de Mariana, primeira de Minas, encaminhou ao Padre Jean Baptiste Etienne, Superior Geral da Companhia das Filhas da Caridade na França, uma carta, em março de 1848, solicitando a vinda das irmãs para evangelização e educação na primeira cidade de Minas.
 

A solicitação do Bispo de Mariana, D.Viçoso, integrante da vertente masculina dos vicentinos, chamada de Congregação da Missão, ou também conhecidos como Lazaristas. Era um desejo de fortalecer a educação feminina em Minas Gerais, sabendo das necessidades locais por falta de espaços educativos e segundo as idéias ultramontanas na produção de agentes sociais pela via educacional para o catolicismo.

O ultramontanismo consistia em valorizar a figura papal e a Igreja Católica em contraponto ao fortalecimento das idéias liberais que se ampliavam no século XIX. A educação feminina aparecia como um grande instrumento de valorização do catolicismo.
 

A Congregação Vicentina em Paris – França vislumbrou no carisma das Irmãs Vicentinas o caminho para a implantação de uma instituição modelar, que iniciasse o processo de educação feminina e de ação social, destinada aos mais pobres, no coração de Minas Gerais. Assim não hesitou e autorizou a viagem de 12 jovens Irmãs francesas que, após três meses, por mar do porto francês ao Rio de Janeiro e por terra, a cavalo, do Rio a Minas, chegaram a Mariana no dia 03 de abril de 1849, há 170 anos.

Aos obstáculos daquela atribulada, longa e memorável viagem juntou-se o desafio, para as jovens e intrépidas Irmãs, do aprendizado da nova língua, dos novos costumes. O Brasil do século XIX estava sob a regência de Pedro II, o país vivia o Segundo Reinado período de estabilidade política e econômica. O Aumento da industrialização, fábricas têxteis, bancos, entre inúmeras atividades a industriais e de comércio aparecerão em vários lugares, diversificando a economia.
 

O choque cultural foi muito grande, para as Irmãs francesas, principalmente, em Mariana que nesta época tinha como sua fonte de rendimento a agricultura e a mineração de ouro na Mina da Passagem. Nas correspondências Irmã Dubost para a sede da congregação na França (Casa Mãe), observamos a impressão da freira sobre a calmaria da cidade de Mariana:

Nesta cidade, as filhas da caridade de São Vicente de Paulo construíram, com muita luta e persistência, a base da educação feminina em Minas Gerais. O dia 03 de abril de 1848 deverá ser marcado com o inicio de uma grande trajetória de educação, e cultura para todos nos marianense. Parabéns às Filhas da Caridade São Vicente de Paulo, que há 170 anos mudaram o rumo da nossa educação!à

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Cristiano Casimiro dos Santos é editor da Revista Mariana Histórica e Cultural