Editorial: Avanços e Recuos

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As últimas semanas, principalmente a chamada Semana Santa, foram pródigas em movimentos para frente e para trás, com idas e vindas tanto na cidade de Mariana, quanto no Estado de Minas Gerais, e até mesmo no país. Sem uma preocupação cronológica, comecemos pela que talvez seja a mais grave: o avanço, aqui entendido em seu pior aspecto, sobre a liberdade de informação, produzido pelo STF, Supremo Tribunal Federal.

Na manhã da segunda-feira (15), os sites de “O Antagonista” e da revista “Crusoé” foram notificados da decisão do Ministro Alexandre de Moraes para a retirada da reportagem e de notas publicadas na semana anterior com menção ao presidente da corte, Dias Toffoli. O não cumprimento da decisão monocrática, proferida em atenção ao pedido do próprio Toffoli, no âmbito de um inquérito aberto pelo STF em março, ensejaria multa diária de R$ 100 mil.
 

Na quinta-feira (18), em pleno recesso da Semana Santa, um recuo em alto estilo e em dose dupla. Primeiro, depois de uma enxurrada de críticas de importantes órgãos de imprensa do exterior, e de pelo menos 2 colegas de tribunal, Alexandre de Moraes anulou sua própria decisão. No mesmo dia foi confirmado que o presidente do STF revogou a decisão do seu colega Luiz Fux que, em setembro do ano passado, impediu veículos como o EL PAÍS e a Folha de São Paulo de entrevistar o ex-presidente Lula.

 

No âmbito estadual, a Defesa Civil de Minas Gerais divulgou nota, anunciando que o tráfego no trecho da rodovia federal BR-356, que funcionava em operação pare e siga desde o dia 21 de fevereiro, seria normalizado a partir da noite da quarta-feira (17). De acordo com a nota, a liberação da rodovia foi acordada em uma audiência com a participação da Vale, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Polícia Militar. Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) formalizou o acordo, baseado em um estudo técnico elaborado por empresa contratada pela mineradora, que demonstrou a viabilidade de uma operação assistida na BR-356.

Foi montada uma estrutura de intervenção que funcionará 24 horas por dia e que permitirá a adoção das medidas necessárias em caso de risco à segurança dos usuários da rodovia.

E chegamos ao nível municipal, quando o prefeito Duarte Júnior informa à reportagem do Jornal Primaz, na noite de terça-feira (16), que anunciará, até o final deste semestre, um pacote de medidas que ninguém imaginaria ser possível, nem mesmo nos melhores momentos de receita do município, segundo suas próprias palavras. Um recuo no pessimismo alardeado no final de março, ou um avanço no processo de confiança e entusiasmo com o futuro próximo da combalida economia marianense?
 

O que gostaríamos de ressaltar em todos esses episódios, é a inconstância dos posicionamentos, o personalismo e as incertezas decorrentes dessas repentinas guinadas. Embora louvável, no sentido de preservação da liberdade de informação, o recuo do ministro Alexandre de Moraes foi baseado em uma explicação muito pouco convincente, enquanto a decisão de Toffoli coloca em dúvida, de forma preocupante, questões fundamentais como motivações políticas que, pelo menos em tese, não deveriam causar a mínima sombra sobre as decisões de nossa suprema corte.

No caso da BR 356 preocupa o véu de mistério que envolve tanto a decisão de instituir o sistema de pare e siga, quanto a falta de detalhes sobre o que é a tal operação assistida e sua real eficácia.
 

Finalmente, em relação ao “anúncio do anúncio” futuro feito por Duarte Júnior, certamente é cedo para um julgamento definitivo, considerando o suspense envolvido. Mas fica sempre a preocupação de que o tal pacote de medidas, a pouco mais de 12 meses da eleição municipal, seja semelhante aos trágicos filmes que já assistimos, e que geraram um número absurdo de obras inacabadas e de utilidade questionável. Pelo bem de Mariana, esperamos que não seja esse o caso.

Luiz Loureiro é jornalista e editor-chefe do Jornal Primaz