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Hoje é domingo, 24 de novembro de 2024

Yasmine Feital e Ingrid Achiever/Agência Primaz

Nesta terça-feira, 21, a Fundação Renova realizou uma coletiva de imprensa para anunciar a o início da nova fase das obras de reassentamento do novo Bento Rodrigues. Durante a entrevista, os principais assuntos abordados foram o andamento das obras nos lugares e os prazos para entrega. Além disso, a fundação também foi questionada sobre a flexibilização destes prazos.

Em Bento Rodrigues, cuja supressão vegetal do loteamento (ou seja, a retirada da vegetação do local) é de 716.453 m³, serão construídos 10 bens coletivos (o que envolve hospital, escola, igreja e praças). O loteamento tem espaço para 240 lotes e 5 sítios, e contará com uma estação de tratamento de água e duas de tratamento de esgoto. Segundo Carlos Rogério, diretor de infraestrutura da Fundação Renova, “o processo de infraestrutura no local está sendo concluído, além de estarmos finalizando a contratação do primeiro pacote de casas que iremos construir”.

O chamado “Plano de Arranque” é baseado na construção recém-iniciada da Escola Municipal de Bento Rodrigues (que deve atender cerca de 300 alunos), de uma unidade básica de saúde, um posto policial e das 100 primeiras residências, que deverão ser erguidas a partir de julho.

De acordo com Carlos Rogério, as casas serão construídas através de “fluxos de aprovação”. Em um primeiro momento, a família conhece o lote onde será realizada a obra, além de relembrar como era sua casa antes do crime do rompimento. Depois disso, é realizada a criação do projeto, ajuste do mesmo e escolha dos materiais para a casa. A partir daí, é necessária a aprovação do alvará e termo de adesão para, enfim, começarem as obras.

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Mas apesar da participação da comunidade (que a Renova afirma ocorrer) em reconstruir Bento Rodrigues, “é impossível repetir Bento porque é um terreno completamente diferente daqui. Ficará o mais próximo possível do que pode ser”, afirma o diretor de infraestrutura. Há, porém, reclamações dos atingidos e atingidas pelo rompimento da barragem em relação ao tamanho do terreno entregue pela Renova. Alguns dizem que o local é muito menor do que aquele que tinham antes.

Segundo dados da fundação, 130 projetos conceituais foram feitos dos quais 63 foram protocolados na Secretaria Municipal de Obras de Mariana. Catorze famílias decidiram reconstruir suas casas no mesmo lugar atingido pela lama e, dentre essas, oito tiveram a obra da casa finalizada.

Em Paracatu, as ações da fundação estão atrasadas quando comparadas às do novo Bento Rodrigues, uma vez que ainda se espera a licença para supressão vegetal (que será de 870.600 m³). Segundo Carlos, isso se dá devido a demora na escolha do loteamento. Lá serão construídas 113 casas e nove sítios, além de 11 bens coletivos, uma estação de tratamento de água e uma de tratamento de esgoto. Quando perguntado sobre o processo de construção em Gesteira, o diretor de infraestrutura afirmou que ainda não foi definido o loteamento.

As obras de reassentamento, no entanto, já deveriam ter sido entregues pela fundação em março deste ano, mas a Renova conseguiu mais tempo para finalização das construções, sendo o novo prazo estabelecido para agosto de 2020. “A área de infraestrutura está trabalhando para cumprir este prazo de 2020 para todos os reassentamentos”, respondeu Carlos à indagação sobre a possibilidade de outra flexibilização desse prazo.

José Nascimento de Jesus, mais conhecido como Sr. Zezinho, se apresentou com alegria e agradeceu aos jornalistas que estavam no local. Segundo ele, “[o acompanhamento da imprensa] é muito importante para nós da comunidade, porque mostra que não estamos esquecidos”. O Sr. Zezinho tem 74 anos e é membro da Comissão de Negociação da Comunidade. Ele acompanha diariamente as obras que estão sendo realizadas no novo Bento e afirma que a comunidade faz cobranças frequentes à Renova.

Ele reclamou por não ter sido convidado para participar da coletiva. “Eu acho uma falha escandalosa porque nós somos da comunidade. Receber a imprensa sem alguém da comunidade é um absurdo, porque nós temos que falar, a empresa tem que executar”, afirmou.

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Nesta quinta-feira, 23, será realizada uma audiência às 9h no Fórum de Mariana. A sessão discutirá a permanência ou não da multa, no valor de um milhão de reais por dia, que pode ser aplicada à Renova caso as obras não sejam entregues no tempo estabelecido. O fato da empresa ter recorrido da aplicação da multa faz com que os atingidos e atingidas duvidem do cumprimento do prazo. Apesar disso, Zezinho diz que a previsão é essa, e que “nois [comunidade] não arreda”.