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Hoje é quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Nathalia Vergara/Agência Primaz

Reunião da Fundação Renova com atingidos foi realizada na última quinta-feira (13) na Pastoral da Terra (Igreja São Carmo), em Mariana-MG, e durou o dia todo.

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O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), havia apresentado à Fundação Renova uma série de reivindicações que só foram só colocadas em pauta quando atingidos de Mariana, Barra Longa e Acaiaca passaram a ocupar o escritório situado no bairro São Pedro desde o dia 3 de junho. A Renova havia informado que não se pronunciaria enquanto houvesse ocupação, mas uma reunião foi agendada, à qual compareceu Roberto Waack, presidente da fundação.

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A participação de Waack, entretanto, teve apenas o intuito de explicar como a empresa funciona e que o processo de decisão sobre as pautas propostas pelo MAB, além de demorado, não é feito por ele e sim pelo grupo de Conselho Curador da Renova. Assim, foi necessária a prorrogação da reunião, com a realização de uma segunda parte, da qual participaram assessores e membros do conselho da Renova. De modo geral, a manifestação foi que não haveria condição de dar uma resposta imediata às reivindicações, pois o processo todo é demorado e é preciso conversar com outras instituições para mais informações. Foi ressaltado, porém, que há a intenção de retomar o cadastramento dos garimpeiros, a retirada de moradores de casas em condições precárias e a reforma de casas.

Nesta quarta (19) acontece outra reunião entre os atingidos e a Fundação Renova e, desta vez, espera-se resposta mais definitiva por parte da Renova quanto ao futuro das lutas dos atingidos, que continuam a ocupação aguardando os resultados das negociações.

Segundo a representante do MAB, Letícia Oliveira, a quebra de silêncio foi um grande feito, trazendo, inclusive, o presidente, que não costuma aparecer para conversar. Letícia afirmou que a maioria dos atingidos ficaram esperançosos para a reunião desta quarta-feira, mas também deixaram claro que “só com pressão popular que os direitos serão conquistados”, referindo-se à mudança da posição inicial da Fundação.

Agora, continua Letícia, tem que estar garantida, de alguma forma, a reparação integral nos municípios atingidos e uma melhor segurança a todos e ao lugar, mas principalmente a empresa ter uma empatia quanto a tudo pelo que os atingidos passaram e continuam passando.

Quanto às reparações, Letícia e os outros atingidos não estão tão esperançosos. Simone Silva, atingida de Barra Longa, por exemplo, tem cinco familiares contaminados e diz que a Renova não irá reconhecer e cadastrar os contaminados, que serão obrigados a viver de doação. Ela desabafa ao dizer que todos têm seus direitos violados e que, enquanto os culpados pela desmoronamento das barragens “continuam ilesos e podendo viajar e comer para onde quiser, eles estão passando necessidades e precisam sair de suas casas para lutar”.

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Simone também se revolta com o fato de que os atingidos são sempre tratados como bandidos e não como vítimas, como deveria ser. “É humilhação mais humilhação, sofrimento mais sofrimento. É uma tortura psicológica e o criminoso está nem ai, joga rios de dinheiro fora, mas os atingidos mesmo esse dinheiro ai não chega neles. Aonde foi esse dinheiro? É humilhante! Não era para ser assim!”, revolta-se a atingida.

Joana D’arc, atingida de Mariana, comenta que saiu da igreja São Pedro, local onde os atingidos estão, animada e apesar de ter ficado desanimada no começo da reunião com as respostas vagas de Waack, voltou a ficar animada com o caminhar da reunião e a esperança de uma resposta mais definitiva para a quarta-feira. “Que eles paguem nossos prejuízos, paguem nossos direitos. Eles devem, então tem que pagar, não estamos pedindo nada demais, se não fosse nosso por direito não estaríamos aqui”, declara.

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Apesar de não ser tão fácil, há um grande esforço entre eles de fazer funcionar a ocupação. Tiveram muitas doações de outros atingidos, dos moradores de Mariana e de organizações parceiras do MAB. Doações de comida, colchões e cobertores. E tem, de manhã e de tarde, assembleias entre os atingidos, compartilhando novas informações e criando regras de convivência e dividindo tarefas (para cozinhar e para limpar o local).

Simone aponta as dificuldades que é estar na ocupação e precisar levantar, mesmo esgotada psicologicamente, todos os dias para lutar. Comenta também a (não) resposta da Renova para atingidos contaminados e todos os direitos que a Renova continua violando. “Eu tenho esperança em nós, não na empresa. A justiça só vai ser feita por nós”, diz.

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Simone inclusive denuncia que uma reunião teria sido realizada em Belo Horizonte entre funcionários da Renova, quando uma estratégia teria sido estabelecida para o caso de ocupação. “Foi discutido como eles fariam quando um atingido ocupasse um de seus escritórios, decidindo fechar todos os locais de trabalho na cidade ocupada, como ocorreu em Mariana, para que a população fique contra os atingidos, novamente tratando-os como bandidos”, acusa Simone.

O sentimento generalizado entre os atingidos é um só. Todos querem que a Fundação Renova se retrate – financeiramente e emocionalmente – com os atingidos. “Vai ser pior para eles [caso não o façam]. Se eles atrasam nossa vida, nós atrasaremos a deles também. Nós vamos vencer eles”, conclui Joana.