Uma Copa Roca no meio da Libertadores

As oitavas de final da Libertadores 2019 tem um gostinho de rivalidade histórica. Brasil e Argentina ocupam 10 das 16 vagas, sendo 3 confrontos entre clubes dos dois países. Quase uma Copa Roca de clubes.

A Copa Roca, ou Super Clássico das Américas como chamada a versão atualizada, é uma competição instituída em 1913, pelo presidente argentino Julio Roca, mas realizada pela primeira vez em 1914. É disputada entre as seleções nacionais de Brasil e Argentina. Interrompida desde 1976, o torneio voltou a ser disputado em 2011, após acordo entre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Asociación del Fútbol Argentino (AFA), com jogos de ida e volta na Argentina e no Brasil. Mas voltemos ao que realmente interessa.
 

Dezesseis clubes restaram na Copa Libertadores da América, sendo seis brasileiros e quatro deles do mesmo lado da chave. É provável, e o favoritismo aponta, que os clubes brasileiros ocupem todo um lado da chave, assegurando a presença de um deles na final. O Flamengo é claro favorito diante do Emelec, assim como o Palmeiras é bem melhor o Godoy Cruz. O Grêmio também tem time muito superior aos paraguaios do Libertad, ainda que tenha perdido para o rival em casa, na fase de grupos, e vencido fora. Neste último jogo, com time mais organizado, a imposição da equipe de Renato Gaúcho foi clara. Por fim, o Internacional é favorito diante do Nacional, que foi apenas o terceiro colocado no campeonato uruguaio.

Do outro lado da chave, Cruzeiro e River Plate fazem um duelo Brasil x Argentina de difícil prognóstico. Ambos são os gigantes que mais têm a lamentar o sorteio. Assim como pode reclamar da sorte o Athletico Paranaense, que fez seu melhor jogo na fase de grupos diante do Boca Juniors, em casa. Mas perdeu fora, em jogo apertado. Tem condições de se impor, mas o retrospecto ruim fora de casa do Furacão pode pesar num mata-mata, principalmente se tratando de um jogo em La Bombonera.
 

Restam dois jogos, um deles entre LDU, do Equador, e Olimpia, do Paraguai, mesmo com 4 títulos em campo, sendo 3 do clube paraguaio, se transforma no confronto que garante um “intruso” nas quartas. Mas há um outro jogo que também tem boa chance de impedir que se repita o cenário do ano passado, em que sete dos oito classificados às quartas eram brasileiros ou argentinos. O San Lorenzo, que passou pela fase de grupos com dificuldade e futebol pobre, a ponto de demitir seu treinador, não é favorito diante do organizado e competitivo Cerro Porteño. Mesmo assim, são grandes as chances de que ao menos seis brasileiros e argentinos cheguem às quartas de final.

O que espera o Flamengo não é tão simples de definir. O Emelec teve um início terrível na Libertadores, com empates diante do Deportivo Lara, na Venezuela, e um 0 a 0 em casa com o Huracán, que terminaria o grupo na lanterna. Depois, veio a derrota em casa para o Cruzeiro e outro empate com os venezuelanos. Ou seja, o time não venceu em seu estádio, que tem capacidade para 40 mil pessoas e não se revelou um alçapão. O resultado mais notável foi a vitória sobre o Cruzeiro, no Mineirão, na rodada final. Na ocasião, no entanto, Mano Menezes entrou com um time alternativo. A campanha atribulada gerou uma troca de treinador e o espanhol Ismael Rescalvo assumiu o time. No entanto, o Emelec fez grande investimento em jogadores, especialmente para o setor ofensivo. Rescalvo terá tempo para trabalhar. Bryan Angulo é um centroavante de boa imposição física e há boas opções ofensivas. Entre elas, está Cabezas, de passagem curta pelo Fluminense. Resta saber se Rescalvo dará forma ao time.
 

A Libertadores tem um aspecto traiçoeiro. Entre a fase de grupos e os confrontos das oitavas de final, foram mais de dois meses. Mudanças e transferências mudaram todo o contexto de uma competição que tinha uma cara em maio e que volta em julho totalmente diferente. Aguardemos.

João Vitor Nunes, 22 anos, jornalista no Jornal Tribuna do Leste e Rádio Manhuaçu, criador do twitter.com/lacancha_fc