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Hoje é quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Luiz Loureiro/Agência Primaz

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Realizada na tarde desta terça-feira, dia 1º, no auditório do Teatro Municipal em Mariana, a reunião para apresentação do pré-projeto arquitetônico do paisagístico da Praça Dr. Gomes Freire (Jardim) foi marcada por manifestações baseadas na razão e na emoção, com público estimado entre 120 e 150 pessoas.

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A previsão inicial era que acontecesse uma “reunião conjunta” entre representantes da Prefeitura, Câmara, Fundação Renova, Conselho Municipal de Patrimônio (COMPAT), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e técnicos responsáveis pela elaboração do projeto. De acordo com o texto de um ofício encaminhado à Câmara de Vereadores, a iniciativa tinha como objetivo “dar esclarecimentos e total transparência a esse processo”, considerando que “a alusão à Reforma da Praça Gomes Freire já gera um grande debate no município”, ressaltando que “grande parte das pessoas ainda não foram plenamente informadas sobre as verdadeiras medidas que serão tomadas para a reforma do famoso Jardim”.

No cronograma anteriormente estabelecido, uma segunda reunião seria realizada no dia 8 com a presença de comerciantes e moradores do entorno e imediações da Praça Gomes Freire, “fechando o ciclo” uma semana depois, com uma audiência pública “para debate e aprovação do Projeto de Reforma da Praça Gomes Freire”.

Apresentação do projeto

A reunião foi aberta pelo prefeito Duarte Júnior, que contextualizou a questão da revitalização do Jardim, esclarecendo a motivação da iniciativa. “Foi através do Poder Público, que nós determinamos à Fundação [Renova] que a gente precisava e entende a importância desse espaço e que é necessária a revitalização do espaço”, justificou Duarte Jr., ressaltando que é falsa a impressão de que tudo já estaria pronto, e que a intervenção no Jardim seria feita sem ouvir a opinião dos marianenses. “A gente precisava de algo básico, para que a gente pudesse discutir”, afirmou. Em seguida o secretário de Cultura, Patrimônio Histórico, Turismo, Esportes e Lazer, Efraim Rocha, fez um apelo aos presentes. “O que nós pedimos apenas, é que nós desarmemos os nossos espíritos. Que nós não cheguemos aqui com uma proposta: sou contra, sou contra, sou contra”, pediu o secretário, anunciando que haverá uma audiência pública no Centro de Convenções, no dia 15 .

“Pedimos, apenas, (…) que nós primeiro conheçamos o que

foi desenvolvido, que nós conheçamos as razões

que levaram os arquitetos a desenvolver determinado ponto,

determinada situação, e também o porquê de cada uma dessas intervenções” (Efraim Rocha)

Daniela Amorim, arquiteta e urbanista da Fundação Renova, falou sobre a experiência da empresa Gema Arquitetura, responsável pela elaboração do projeto, passando a palavra à arquiteta Joseana Costa e ao paisagista Marco Nieves.

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A apresentação do projeto foi feita com a exibição de slides que contextualizavam o processo de desenvolvimento do trabalho, incluindo a pesquisa inicial feita pela historiadora Vanessa Vasconcelos; passando pelas diretrizes de projeto, buscando valorizar o vínculo da comunidade com o espaço, e identificar os valores histórico, social, ambiental e estético da praça, reunidos no lema “A gente se encontra no Jardim”.

Alguns aspectos negativos da apresentação foram apontados à reportagem da Agência Primaz de Comunicação por algumas pessoas presentes: a péssima qualidade do som; o sotaque do paisagista que, muitas vezes dificultava o entendimento de suas palavras e, principalmente, o enfoque muito técnico adotado, reforçado pela utilização de representações arquitetônicas (plantas baixas e cortes) que dificultaram o entendimento por leigos. “Não sou engenheiro nem arquiteto. A apresentação poderia ter utilizado animações tridimensionais para ser mais didática”, confidenciou `Agência Primaz um morador que pediu para não ser identificado.

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Joseana Costa reforçou a intenção de “valorizar a ambiência que já existe, com a preservação dos principais elementos e a manutenção de grande parte do traçado atual, mas com a requalificação de materiais e inserções pontuais de alguns elementos”. O paisagista Marco Nieves destacou o trabalho preliminar de diagnóstico fitossanitário, com a compreensão do estado de “saúde” da vegetação existente, bem como o estabelecimento de uma unidade paisagística, com previsão de eliminação, remanejamento e inclusão de novas plantas, de modo a “simplificar o mais possível a leitura da praça, essa leitura compositiva (…) que é [atualmente] pouco reconhecível”.

Debates

Ainda durante a apresentação, a primeira manifestação de desagrado da plateia foi pela menção de Joseana Costa à “vocação [ da praça] para eventos culturais. (…) Foi sugerido pela própria prefeitura que houvesse um palco pequeno, um palco fixo, para manifestações espontâneas”. Pouco depois ouviu-se um “vai tirar a poesia”, quando ela mencionou a proposta de instalação de bancos lineares (referidos por algumas pessoas, nas redes sociais, como arquibancadas) no entorno do lago superior, de modo “a formar uma área de estar e contemplação, respeitando a geometria do lago”.

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A reação foi ainda mais forte quando a arquiteta responsável pelo projeto citou a sugestão de deslocar o busto do Dr. Gomes Freire para perto de um dos canteiros, “porque ele acaba ocupando uma área que pode ser ocupada com a permanência, o estar e a circulação das pessoas”. Em meio a manifestações de várias pessoas ao mesmo tempo, foi possível escutar o exaltado presidente da associação de guias de turismo, Luiz Bizute: “Arrebenta a cidade de uma vez! Faz coisa nova! (…) Vocês já desgraçaram a cidade, vão desgraçar mais ainda? (…) Vocês estão modernizando tudo! A primeira Capital de Minas!”, seguida por “Não vai modificar nada aqui!”, frase dita por uma pessoa que nossa reportagem não conseguiu identificar.

Também foi questionada, pela advogada Maria de Fátima Melo Gomes, a ausência de uma política pública de recuperação dos imóveis do entorno. “A praça está sendo adequada a 2020, e o entorno, e as casas? Os moradores até para pintar as casas têm que pedir autorização ao IPHAN. E eles não permitem nada!”, reclamou. Respondendo ao questionamento, o paisagista Marco Nieves afirmou que o paisagismo não é uma modernização, mas uma tentativa de preservar e integrar a arquitetura do entorno e a praça.

Os ânimos foram temporariamente acalmados para que a apresentação fosse concluída. Em seguida, com a palavra aberta aos presentes, Ana Cristina de Souza Maia, presidente do COMPAT, lembrou que frequenta o Jardim há 40 anos e disse pensar que os usos mudam ao longo do tempo. “Eu sei que vocês não gostam de shows grandes no Jardim, eu também não gosto, acho que isso destrói muito o Jardim. Não acho que a gente deva incentivar esse uso”, ressaltou Ana Cristina, citando a proposta de mudança de local do antigo bebedouro de cavalos para exemplificar que as coisas não são imutáveis. “Vamos tentar um pouco desapegar. Por quê que a gente não pode mudar, se for pra mudar para melhor? “, indagou.

Eu sei que vocês não gostam de shows grandes no Jardim,

eu também não gosto, acho que isso destrói muito o Jardim.

Não acho que a gente deva incentivar esse uso.” (Ana Cristina Maia)

Seguiram-se várias manifestações dos presentes, muitas delas carregadas de emoção (“Seu projeto é muito bonito, mas nós somos bairristas, somos apegados à terra!”; “Alguns anos atrás, revitalização em Mariana virou sinônimo de descaracterização”; “Aqueles dois laguinhos são o nosso coração. Se você mexer nos lagos, você vai estar atingindo nosso coração.”).

Outros argumentos apresentados, mais objetivos, estavam relacionados à inadequação da praça para grandes eventos (“Precisamos adequar os eventos à praça, não a praça aos eventos”); aos transtornos causados pelo som em alto volume, muitas vezes até altas horas da noite, desrespeitando a lei do silêncio e perturbando o sossego dos moradores do entorno; à iluminação precária; a questões de segurança e, com bastante ênfase, à inexistência de banheiros públicos na praça e suas imediações.

Morador da Rua Silva Jardim, na esquina com a Praça Gomes Freire, e representando um grupo de pessoas que estão organizando a criação de uma associação de moradores do centro histórico, abrangendo praticamente toda a área tombada como monumento histórico nacional, Lúcio Saar fez a leitura de uma série de recomendações e reivindicações, enfatizando a necessidade de uma discussão mais aprofundada do uso do espaço e medidas práticas que, por si só, poderiam melhorar a situação, sem intervenções mais profundas, como a designação de pessoas capacitadas para cuidar do local; melhoria da iluminação; instalação de proteção nos canteiros, entre outras sugestões. Em relação ao uso do espaço, Lúcio foi bastante enfático: “Qualquer pessoa que mora longe daqui pode, a qualquer momento, ir embora pra casa e dormir. A gente não tem essa oportunidade. A gente vive o problema de forma permanente”.

Ao final, retomando a palavra, a presidente do COMPAT apresentou a proposta de realização de uma visita guiada, uma espécie de oficina, na qual o paisagista explicaria, no próprio Jardim, todas as questões relacionadas à proposta do novo conceito de paisagismo imaginado para o local. A proposta é que essa oficina ocorra no dia 27 de outubro, seguida por uma discussão no auditório do Teatro Municipal, tendo sido também acertada a conveniência de adiamento da audiência pública, anteriormente marcada para o dia 15.

Também ficou combinada a participação de moradores em uma reunião do COMPAT para dar continuidade às discussões, e um encontro do prefeito com os integrantes da associação de moradores do Centro Histórico, para debater questões relativas à construção de banheiros públicos e discussão sobre o tipos de eventos que poderiam ser realizados no Jardim.

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Reações pós-evento

A Agência Primaz, ao término da reunião, ouviu várias pessoas, indagando sobre a concordância ou não da revitalização da Praça Gomes Freire. Muitas se manifestaram sob condição de anonimato, sendo perceptível que as opiniões ainda continuam bastante divididas. Entre os que concordaram com a identificação, Cléber Ferreira, engenheiro de produção, mesmo não residindo nas imediações do Jardim, fez questão de participar da reunião, principalmente porque vem ajudando sua mãe, proprietária de uma loja de artesanato na Praça Gomes Freire. Ele considera que é positiva a iniciativa de revitalizar o Jardim e entende a importância da participação popular, mas faz reparos às discussões ocorridas nos últimos dias, nas redes sociais. “Não é simplesmente ver uma onda de críticas, e participar dessa onda de críticas, sem saber a realidade da ação”, observou.

Maria do Carmo Neme e Bernardo Campomizzi Machado buscaram e equilíbrio entre razão e emoção, considerando muito válida a iniciativa de abertura da discussão. “O primeiro impacto da proposta foi positivo, mas existem alguns pontos que precisam ser mais discutidos”, opinou Maria do Carmo, moradora da Rua Dom Silvério, a um quarteirão do Jardim. O advogado Bernardo Campomizzi, morador do bairro Cruzeiro do Sul e membro do COMPAT, comentou a polêmica instalada nas redes sociais opondo revitalização e descaracterização. “Entendo que Mariana sempre foi uma cidade tradicional. A princípio eu vejo que a manutenção das árvores, [a presevação] do coreto e outros elementos caracterizadores do jardim de Mariana, eles permanecem”, afirmou Bernardo, ressaltando entretanto a necessidade de maior discussão de pontos como a instalação do que está sendo chamado de “arquibancadas” e as propostas de intervenção laguinho inferior. “Talvez esses elementos não garantam a tradicionalidade daquele espaço”, finalizou, com a concordância de Maria do Carmo.

Para Luiz Bizute, entretanto, a proposta tem muitos e sérios inconvenientes, embora muitas questões levantadas, como a substituição de árvores, a iluminação do Jardim, e também do entorno, sejam necessárias. Mas ele não vê com bons olhos outras intervenções propostas, a começar pelo alargamento da calçada da rua na parte inferior do Jardim, vista por ele apenas como um benefício aos comerciantes do local, além da realocação do bebedouro da cavalaria do Conde de Assumar. “Não é prioridade para Mariana mexer no Jardim. Ele está altamente acessível a qualquer pessoa. (…) Precisava sim ver a questão dos banheiros, poderia fazer subterrâneo, mas sem mudar as características do Jardim”, sentenciou Bizute.

Nomenclatura

Durante a apresentação a arquiteta Joseana Costa se referiu, algumas vezes, à “rua de cima” e “rua de baixo”, para identificar os dois trechos de ruas que delimitam longitudinalmente o Jardim. Em outras ocasiões, porém, tanto verbalmente quanto nos slides, essas ruas são designadas como Rua Dom Viçoso e Rua Barão de Camargos, respectivamente, assim como há a indicação de Travessa São Francisco, na lateral da praça. Esta designação está completamente errada, uma vez que os trechos de ruas que delimitam o quadrilátero do Jardim pertencem oficialmente à Praça Gomes Freire. A indicação é feita com placas colocadas em duas esquinas da praça, com a numeração tendo início na lateral do prédio do anexo do Museu Arquidiocesano, crescendo no sentido da Praça Minas Gerais e contornando o Jardim, em sentido anti-horário, até fechar o perímetro no casarão que anteriormente abrigava o Hotel Central, próximo ao Teatro Municipal. Na realidade, a Rua Dom Viçoso tem seu início ao lado da Casa Jardim (denominação dada pela Fundação Renova ao imóvel onde já funcionou o Restaurante e Boate Senzala), enquanto a Rua Barão de Camargos começa no imóvel ao lado da sede social do Marianense Futebol Clube.

Na galeria de fotos abaixo são observadas as placas de identificação da Praça Gomes Freire e da Rua Dom Viçoso, com as numerações oficiais dos imóveis.

A Praça Gomes Freire, a propósito, é uma “homenagem ao médico e político Gomes Henrique Freire de Andrade, que nasceu em Mariana em 1865. Chamou-se Largo da Carvalhada e Largo do Rocio em razão do bebedouro para cavalos implantado em 1747, até hoje existente. Até meados do Século XX, era chamada Praça da Independência. Em reformas sucessivas, adotou estilos variados, recebendo lago, ponte, coreto, jardins e canteiros geométricos”.

A placa só não informa que, durante algum tempo, o bebedouro esteve instalado em outros locais da cidade, como a atual Praça Tancredo Neves.