Compartilhe:
Mesmo com a atual crise provocada pelo coronavírus já estão acontecendo as articulações partidárias e estratégicas que definirão os candidatos nas próximas eleições municipais. Isso porque, ao contrário do muitos pensam, para ser candidato não basta ter vontade. É preciso estar inserido num partido que verdadeiramente o acolha e participar das convenções que fazem a primeira peneira. O pré-candidato deve ser escolhido pelos membros do partido para ser um candidato efetivo. É nesse momento que muitos compromissos programáticos ou espúrios são firmados. Depois, tem ainda a fase de registro jurídico e de financiamento que acaba impedindo o prosseguimento de muitos. Ou seja, antes de começar a campanha ostensiva de rua, o candidato passa por um longo processo democrático e formal que bem o mal o prepara para a vida pública.
E os eleitores? Como se preparam? Talvez seja essa a chave de muitos fracassos e decepções na política. Ao contrário dos candidatos, os eleitores não veem as eleições como o fim de um processo de avaliações e compromissos, mas apenas como um tipo de festa que oferece oportunidades imediatas e superficiais. Raríssimos são os eleitores que pesquisam programas de governo, investigam a vida pregressa do candidato, estudam as necessidades sociais e as restrições legais da gestão pública. Recentemente vimos um candidato em nível nacional ser eleito sem programa, sem debate e sem propostas. Infelizmente a grande maioria da população ainda confunde até as atribuições do executivo, do legislativo, do judiciário e do terceiro setor. A consequência dessa superficialidade é o drama que vivemos nos serviços públicos de um modo geral.
Lamentavelmente a desinformação se retroalimenta e cria um caos que parece nunca ter fim. Querem saneamento básico, mas ninguém aceita pagar por água e esgoto. Querem transporte público de excelente qualidade, mas ninguém aceita subsídio público para o sistema, como se apenas a tarifa fosse capaz de provê-lo. Querem uma boa educação, mas os professores têm salários arrochados e jornadas estendidas, além da falta de infraestrutura, já que muitos cidadãos contribuem para depredação das escolas. Querem esportes, mas só se for para ajudar o time de futebol do bairro. Querem saúde, mas todos acham um desperdício de dinheiro os programas de atenção primária. Querem atendimento melhor nas repartições públicas, mas defendem o fim de novos cargos públicos e a sobrecarga dos que restam. Querem regulação urbana, mas desde que só imponha regras aos vizinhos. Ou seja, todos querem os resultados, mas não estão dispostos a pensar e entender como eles serão alcançados. Surgem daí os candidatos super-heróis com promessas fantasiosas, já que ninguém pode ou quer ser realista.
Pelo que já se pode observar, creio que ainda não será dessa vez que teremos uma eleição mais técnica e saudável. Ainda estamos na era das “lives”, das placas de obras sem obras, de lançamentos e inaugurações de empreendimentos que nem licitados foram, de pedidos de saco de cimento, quebra-molas, emprego na firma terceirizada da prefeitura, de vaguinha na cooperativa de transporte, de carro para levar em consulta médica… Para piorar há ainda os que mantém uma temerária distância, justificando que não dependem da prefeitura para nada. Vem daí a enorme quantidade de votos brancos e nulos que tem contribuído para o esvaziamento da boa e necessária política.
A democracia traz importantes e necessárias garantias aos cidadãos, mas também exige comprometimento e participação. Todos devem se preparar com responsabilidade para as eleições, que é o mais basilar direito que conquistamos. O momento é de ouvir todos os lados, pesquisar os dados do município, sair da bolha da rede social e entender que somos os únicos responsáveis pelos nossos governantes – seja por ação ou por omissão. O voto é um compromisso que deve ser cuidadosamente estabelecido entre as partes.
(*) André Lana é advogado, militante nas áreas de direito público e gestão social