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Fechar as portas. Comerciantes de todo o Brasil temem essa expressão que, naturalmente, significava encerrar as atividades e desistir de projetos de vida. Porém, a pandemia de Covid-19 fez com que muitos negócios se adaptassem para continuarem funcionando, mesmo com as portas fechadas.
Em Mariana, os estabelecimentos também tiveram que se reinventar para manter as atividades e tentar evitar demissões. Por isso, a Agência Primaz conversou com donos de alguns desses negócios sobre as vendas online e o serviço de delivery. Também ouvimos quem está na linha de frente das entregas e conhecemos mais sobre o projeto Mariana em Casa, um perfil no Instagram feito para divulgar serviços de delivery na cidade.
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A pastelaria do Seu Jadir sempre foi um ponto de encontro apreciado por universitários, colegas de trabalho, amigos e famílias. Com a Covid-19, os encontros tiveram que ser adiados. Para suportar a crise, a pastelaria implantou um serviço de delivery pelo Whatsapp. “Tá muito difícil para mim. As vendas caíram pela metade. Eu tenho 4 funcionários e mais dois motoboys. Estou lutando para não demitir ninguém. Tudo subiu e estou tentando manter os preços. No início a gente teve muita entrega, acho que pela novidade. Não estávamos preparados, mas agora a gente já se adaptou e os pastéis chegam mais rápido na casa dos clientes”, comentou o Seu Jadir.
Resistente ao delivery, Seu Jadir acredita que o serviço de entregas da pastelaria vai ser mantido depois da pandemia. “O pastel é mais gostoso quando sai direto para a mesa. Por isso, eu não tinha entrega ainda. Mas, depois que começamos, muita gente disse que queria comer pastel, mas não podia sair de casa. Aí começamos a atender esse público. O serviço de delivery deve ser mantido na pastelaria, mesmo com o fim do isolamento.”
Localizado em um ponto de destaque em Mariana, com portas para a Praça da Sé, o restaurante Gaveteiros também teve que se adaptar. Valéria Araújo, proprietária do restaurante, afirma que conseguiu renegociar o aluguel do ponto e que luta para não demitir funcionários. “Eu devo pagar de aluguel, hoje, o mesmo que paga o Banco do Brasil. Me emociono em dizer isso, mas, para a minha sorte, o dono do ponto renegociou o aluguel para uma quantia que eu pudesse pagar. Eu tenho 12 funcionários e, até agora, consegui não demitir ninguém. Fizemos apenas a suspensão de alguns contratos. Eu contratei uma funcionária em fevereiro, uma pessoa ótima e muito competente. Infelizmente, com a pandemia, ela teve que ser desligada ao fim do contrato de experiência”.
O restaurante implantou um serviço de entregas de marmitex para manter as atividades durante a pandemia. “Mesmo sendo dona de restaurante, eu vou ter medo de frequentar self-services por um bom tempo. Por isso, nós tivemos que adaptar e começar a vender marmitex. Agora estamos atendendo um novo público. Muita gente disse que, enfim, vai poder comer a nossa comida. Mas, eu não tenho condições de manter um entregador. Só estamos funcionando porque o meu irmão me ‘emprestou’ o motoboy da loja dele, depois que as demandas dele caíram lá”.
O drama de tentar vender com as portas fechadas torna-se um desafio ainda maior para quem não trabalha com serviços essenciais. Daniely Moisés, proprietária das lojas Escrimóveis e Brink Mais, conta que as vendas despencaram desde que teve que fechar os estabelecimentos. “As nossas vendas caíram 80%. As pessoas ainda não têm o hábito de comprar os nossos produtos sem ir à loja, ver e pegar. Então, com as portas fechadas nós estamos tendo muitas dificuldades. Eu ainda não demiti ninguém, mas conversando com amigos empresários, isso já está acontecendo em vários empreendimentos.”
Daniely também informa que as vendas atuais acontecem pelo Whatsapp e Instagram. “Hoje as lojas vivem das vendas pelo Whatsapp e pelo Instagram. No Instagram, a gente consegue mostrar fotos dos produtos e muitos clientes vêm falar com a gente por lá. Eu tenho um funcionário que faz as entregas de carro e, seguindo as recomendações, toma todos os cuidados de higiene e segurança no contato com os clientes”.
Por outro lado, alguns negócios que já trabalhavam pelo Whatsapp e com delivery perceberam um aumento nas vendas durante a pandemia. É o caso do restaurante Drika Box. Adriany, proprietária do estabelecimento, comenta a situação: “Nós tivemos um ligeiro aumento das vendas. Muita gente deixou de sair para pedir comida em casa. Acho que acabamos atendendo a um público que ia aos restaurantes e que não vai mais.”
Apesar disso, Adriany afirma que teve que reforçar as medidas de segurança. “Nós instalamos uma mesa na varanda, para evitar que o motoboy fique entrando na cozinha. Além disso, lavamos as mãos e passamos álcool várias vezes ao dia. Eu tenho um comigo na cozinha, fica outro na mesa das comandas e o motoboy anda com o dele. Também tenho a preocupação de evitar que ele tenha contato com a comida. Alguns clientes pedem que eu coloque duas sacolas, outros pedem que o entregador deixe a entrega na portaria”.
O aumento das demandas de delivery faz com que o trabalho dos entregadores ganhe relevância ainda maior. Gilvan Rodrigues, motoboy de restaurante, comenta como é trabalhar na linha de frente dos serviços de entrega. “Estou sendo mais cauteloso, devido aos cuidados necessários. Tenho que lavar as mãos constantemente com água e sabão, álcool, usar máscara e manter uma distância de segurança adequada. O meu maior medo é ter contraído o vírus e não sentir os sintomas, pois dessa forma posso estar contaminando o próximo sem o consentimento”.
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As vendas pela internet tornaram-se a principal (ou única) fonte de arrecadação de muitos comércios de Mariana. Porém, vender no digital ainda é um universo desconhecido para muitos negócios. Para ajudá-los, a marianense Marcela Castilho criou o perfil “Mariana em Casa” no Instagram.
Marcela conta como surgiu a ideia. “Criei o perfil porque no início do isolamento, em meados de março, eu tive muita dificuldade pra saber quem estava trabalhando com delivery. Moro em Mariana, mas faz muito tempo que trabalho em Ipatinga. Então eu estava muito desatualizada com o comércio daqui. Com o incentivo que estavam pedindo para as empresas pequenas e locais, achei que mataria dois coelhos com uma cajadada só: ia facilitar a pesquisa das pessoas e também incentivar que todos dessem prioridade para o comércio daqui”.
A criadora do perfil acredita que a relação com serviços essenciais será modificada depois da pandemia. “Acho que a pandemia mudará um pouco a visão sobre serviços que eram considerados essenciais. Eu, por exemplo, descobri que consigo viver bem sem salão e que minha ajudante pode vir em casa com menos frequência. Descobri serviços de entrega que não sabia que existiam aqui em Mariana. Também acho que as relações interpessoais terão que mudar. Por um bom tempo será difícil aglomerar. Máscaras e etiqueta respiratória terão de ser incorporadas a nossa vida cotidiana”.
Atualmente, 167 estabelecimentos têm seus serviços divulgados no perfil Mariana em Casa. A divulgação é gratuita e os estabelecimentos precisam enviar apenas a foto e as informações que deseja divulgar na publicação.
Rubens Nunes, gestor da Associação Comercial, Empresarial e Industrial de Mariana (ACIAM), informa que a associação está estudando a implantação de um serviço de e-commerce na cidade. “Pelo que a gente tem percebido, os lojistas estão vendendo, mas ainda de forma muito amadora. Nem pode ser chamado de e-commerce. Estamos conversando com a Fundação CDL (FCDL) para montar um serviço de e-commerce no município. É um processo bem elaborado, que envolve muitas questões como logística, tecnologia e suporte. Teremos que nos adaptar. As palavras do momento são essas: reinventar, revisar, reestruturar. Pois nada será como antes”, finaliza o gestor da ACIAM.