Em busca do teste das urnas

Servidores públicos de Mariana deixam cargos de gestão para ser opção nas eleições 2020

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Créditos: Facebook dos entrevistados

A legislação eleitoral determina que servidores públicos interessados em se candidatar deixem os cargos de gestão seis meses antes da data das eleições. É o caso de secretários municipais, diretores de autarquias e gestores da segurança pública, por exemplo.

Em Mariana, a exoneração de servidores dá indícios de suas intenções eleitorais. Por isso, a Agência Primaz conversou com alguns deles para saber as motivações de deixar a gestão e suas pretensões políticas. Entrevistamos os ex-secretários municipais Igor Gomes e Juliano Barbosa, além da ex-coordenadora do PROCON/Mariana Daniele Avelar. Falamos ainda com a Capitã Marta Guido, que deixou o Comando da Polícia Militar de Mariana.

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A decisão de deixar o cargo

A advogada Daniele Avelar deixou a coordenação do Procon em busca de uma vaga na Câmara Municipal de Mariana pelo PT. “Foi uma decisão muito difícil porque era uma atividade que eu gostava muito de fazer. É uma vocação exercer o Direito e favorecer o acesso do Direito das pessoas através de uma instituição pública que é o Procon. Uma hora isso ia acontecer, porque é um cargo comissionado, só que a gente adiantar o processo por uma escolha é uma coisa que a gente faz, mas com pesar. Eleitoralmente é exigido, mas obviamente a gente fica chateado porque é uma construção de 3 anos de trabalho. De plantar uma semente.”.

Pré-candidato a vereador pelo PDT, Juliano Barbosa teve que deixar o posto mais alto da Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania. “Foi uma decisão muito dura. Quando a gente começou a entender a mecanização e o que era uma política pública de assistência social, e não o assistencialismo, que a gente implantou várias ações, começou aquela coisa de ‘por que não ser político?’ Mas aí eu decidi que eu consegui produzir algo, com a ajuda muito grande de uma equipe que comprou todas as ideias nesses 3 anos e 3 meses, e que era hora de deixar para trás esse caminho que eu me apaixonei”.

Depois de 11 meses no Comando da Polícia Militar de Mariana, a Capitã Marta Guido deixou o comando da PM para se candidatar a vereadora pelo Republicanos. “Comandar a PM de Mariana foi uma das experiências mais gratificantes que eu tive. Essa decisão não foi muito fácil, não. O trabalho que a gente estava realizando estava alcançando os objetivos. Quando a polícia te proporciona estar à frente do comando de uma cidade é porque você tem objetivos a alcançar. A polícia trabalha muito com metas, com estatística e mesmo o trabalho com a comunidade. Você trabalha com pessoas e oferecendo segurança. Foram 11 meses com resultados excelentes, com diminuição na taxa de criminalidade, com uma equipe muito motivada. Sem contar que eu amo ser policial militar.”.

Igor Gomes, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Mariana, busca ser o sucessor de Duarte Jr. à frente do Executivo Municipal e foi exonerado poucos meses depois de assumir a pasta. “O que a gente fez nesses 3, 4 meses à frente da secretaria foi tentar estruturar. Eu pude observar no desenvolvimento econômico que a gente recebia algumas empresas querendo vir para Mariana mas o nosso maior problema é infraestrutura. Então nós vamos apresentar um projeto de R$9,5 milhões na próxima câmara técnica para a infraestrutura do Distrito Industrial. Deixar a secretaria foi uma escolha muito difícil. Eu sou um cara que quando aceita um desafio, eu mergulho mesmo. Então foi muito difícil, não por questão financeira, mas porque você pega esse desafio e quer ir até o final para solucionar. Mas eu acho que a gente conseguiu com pouco tempo algo que era muito esperado”.

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Visibilidade

Para a Capitã Marta, a visibilidade política vem de um trabalho de 20 anos na PM da Região dos Inconfidentes. “Se eu tiver alguma visibilidade, será pelo trabalho que eu sempre fiz na região. Tem 20 anos que eu trabalho aqui. Trabalhei boa parte desse tempo na área de comunicação organizacional, gosto muito desse tipo de trabalho porque eu acredito em uma polícia cidadã, de proximidade com a comunidade”.

“Ao longo desses 20 anos, eu desempenhei a função de fazer essa aproximação da Polícia Militar com a comunidade. Então eu acredito que, se eu vou conseguir colher algum fruto é por todo esse tempo e não só pelos 11 meses. (Capitã Marta)

 

Igor acredita em um reconhecimento por todo o trabalho realizado na Prefeitura e defende a legislação que obriga o afastamento e a exoneração de servidores. “A política não se constrói com 3 meses de campanha. Eu tenho um trabalho com a comunidade, antes mesmo de ir para a Prefeitura. A gente coordenava 72 municípios com a questão da juventude na Arquidiocese de Mariana. Mas eu creio que vai impactar positivamente. No pouco tempo que a gente esteve à frente, conseguiu algo que era sonhado por muitos. Esse afastamento agora é necessário para ser uma disputa de igual. Quando a gente fala de pré-candidatura, assim que registrarem as chapas mesmo, a pessoa que não está em um cargo público teria uma desvantagem sem esse afastamento. Cada um dos pré-candidatos tem trabalho prestado e as pessoas vão decidir quem estará à frente do Executivo.

Desde o primeiro dia, na coordenadoria da juventude, eu venho trabalhando de forma muito séria, dedicação total. O impacto, pelo que passei em cada função aqui na prefeitura é positivo, e não negativo.” (Igor Gomes)

 

Daniele acredita que a gestão técnica à frente do PROCON será valorizada pela população. “A minha atuação no Procon foi técnica. Foram três anos de trabalho feito tecnicamente. Voltado mesmo para construir o acesso de direitos no campo do consumidor. Eu agi estritamente fazendo o que tem que fazer para o Procon funcionar, com a ajuda do Ministério Público e do sistema de garantia de direito. Só que o trabalho do Procon dá uma visibilidade. Tanto pro ponto positivo quanto pro negativo. Qualquer pessoa que fizer uma boa gestão, pode com isso, ter um reconhecimento da população.”.

Eu fui vendo que, realmente precisa de alguém que conhece da lei, a maior parte dos nossos gestores não sabe nada do que está fazendo. (Daniele Avelar)

 

Juliano Barbosa acredita que o contato com as pessoas na SEDESC transformou a ida para a política em um caminho natural. “A visibilidade que a secretaria me deu enquanto gestor foi todo o pontapé para isso. Eu sou do Direito há 10 anos, fui Procurador Adjunto do município, fui subsecretário de planejamento urbano, coordenei a campanha do Duarte Jr, outra visibilidade que me foi dada, trabalhei na época da barragem com as doações mas a Secretaria me aproximou do povo”.

Hoje eu vendo o meu peixe com base com aquilo que eu tentei produzir na SEDESC. O sim quando pode, o não quando não pode. Só que é um não justificado. (Juliano Barbosa)

Pilares da campanha

Juliano adianta que os pilares da sua campanha serão o cuidado com os mais vulneráveis e a proteção animal. “O foco é pensar nas pessoas em situação de vulnerabilidade social, aí envolve a pessoa com deficiência, o negro, LGBTQIAP+, problema habitacional, ou seja, tudo aquilo que a Secretaria de Desenvolvimento Social trabalhava. A plataforma da defesa dos animais. Eu já atuo com a minha esposa nessa área, sou um protetor independente, tenho 10 cachorros em casa, todos adotados de maus-tratos e abandono, fora todos os outros que passam aqui até a gente achar um lar. Então são dois pilares: o trabalho com a pessoa mais vulnerável e a proteção animal. E também, a gente vai tentar trabalhar as outras políticas públicas junto com os gestores de cada pasta. ”

Daniele quer construir um mandato pautado na legalidade, na participação feminina e na inclusão social. “É ter a lei como um centro para a gente poder nortear as políticas públicas. Na administração Pública, tudo o que a gente vai fazer tem que estar previsto em lei. Voltar o objeto para a lei mas sem esquecer que o foco é a justiça social. Além disso, têm as bandeiras que eu carrego comigo. Primeiro, a participação feminina nos espaços de poder. A mulher, por mais que ela seja a maioria da sociedade, ela não influencia no poder da forma que ela pode influenciar. A maior parte das mulheres que passaram pelas estruturas do poder, na verdade não falam por si só. São mulheres que estão representando interesses dos maridos, dos filhos, dos pais, mas nunca são protagonistas da história delas mesmas. Outra coisa, a questão da sociedade inclusiva, que, não pensa só, mas também na pessoa com deficiência. Pensar uma política pública inclusiva é pensar numa política que seja sensível com a demanda de todos os públicos. Isso Mariana sempe deixou a desejar”.

Igor Gomes defende um governo de continuidade e critica a dependência econômica da mineração no município. “Tem muitas coisas que a gente precisa dar continuidade, como esse projeto habitacional, que vai entregar 1600 casas. A questão do saneamento básico, também já está garantido mais de R$70 milhões e a gente tem que continuar. Na área da Saúde, quando a gente vai em alguns municípios, a gente vê como o sistema de saúde de Mariana funciona e é referência. Claro que tem coisa para melhorar. Mas a gente vê o secretário de Saúde trabalhando com muita transparência no combate à Covid. No abastecimento de água, eu acho que o Duarte vem fazendo um trabalho com muitos projetos para melhorar isso e isso também tem que continuar. Na Educação, o município entregou uniformes, estamos fazendo agora os pacotes de reforma de todos os prédios públicos das escolas municipais, para atender melhor todos os alunos. E tem coisas que a gente precisa implementar. Por exemplo, a gente precisa construir algo sólido relacionado ao turismo. Uma das coisas que eu prezo muito é que Mariana não pode mais depender da mineração. Isso não pode ser a principal receita municipal. Sofremos 5 anos direto. Eu estava do lado do Duarte, eu sei o quanto ele sofreu nesse período para pagar salário de servidor.

Como pilares de campanha, a Capitã Marta defendeu uma política transparente e maior representatividade feminina. “Eu faço parte do programa RenovaBR que prepara as pessoas para a política. Uma política transparente, ética. É uma escola de políticos. E é exatamente nisso que eu acredito, que a gente possa fazer uma política transparente, sem amarras. Sem contar a questão da participação feminina. A política precisa da representatividade feminina, a gente precisa de mais mulheres na política. O que eu acredito é isso: construir uma política pública para a coletividade, visando todos e não a pessoa, e essa representatividade feminina que, embora nós mulheres sejamos a grande parcela do eleitorado, ainda a representatividade é muito pequena. Aqui em Mariana a gente tem prova disso que ocupa a cadeira da Câmara só a vereadora Daniely, inclusive muito bem representada, mas ainda é muito pouco.”

Rua Dom Viçoso, 232 – Centro – Mariana/MG