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Hoje é sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Atlanta – Série de extrema importância disponível na Netflix

A obra prima do ator, diretor, roteirista, comediante e músico Donald Glover fala de maneira direta da realidade das pessoas negras nos Estados Unidos.

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crítica da série Atlanta, feita pelo colunista Kael Ladislau

Ouça o áudio de "Atlanta - Série de extrema importância disponível na Netflix", de Kael Ladislau:

Nem tudo na indústria audiovisual precisa de grandes discussões para entender qual a mensagem que a obra quer passar. Alguns filmes e séries são literais e mostram a realidade como ela é, sem leituras profundas do que se quer transmitir.

Esse é o caso de Atlanta, série da FX e disponível na Netflix que mostra a rotina de personagens negros na problemática cidade, que dá nome a série, no estado da Geórgia, nos EUA. O personagem principal é Earn, vivido por Donald Glover, que além de atuar, dirige, escreve e é um dos criadores.

Glover, que também e comediante e músico, é o que podemos chamar de artista total e mais que isso, sabe qual o seu papel enquanto alguém público e negro. E dentro de todo esse contexto, Atlanta pode ser considerada sua obra-prima.

Depois desse breve parênteses sobre o criador da série, volto a lembrar que a história das duas temporadas giram em torno de Earn, um sujeito esforçado, mas sem talentos, que tenta agenciar o primo Alfred, mais conhecido como o rapper Paper Boi (vivido por Brian Tyree Henry), a segunda figura no trio principal. O terceiro elemento é Darius (interpretado por Lakeith Stanfield), uma espécie de conselheiro do rapper.

É a partir dos três que a trama se desenrola e dá espaço ainda para outros personagens ganharem vida, como a ex-esposa e mãe da filha de Earn, Van (Zazie Beetz) ou Tracy (Khris Davis), um folgado “faz tudo” de Paper Boi.

Mas, afinal, por que falar desses personagens e como eles podem explicar o porquê de Atlanta ser a obra-prima de Donald Glover?

É porque todos eles direcionam os problemas reais de pessoas negras em comunidades que ainda há rastros de racismos. E a gente não vê em Atlanta, nenhuma espécie de metáfora para mostrar isso. Os casos são literais e você não precisa estudar um artigo ou ler essa crítica para entender isso.

Desde às tentativas mal sucedidas de Earn em se firmar como agente do primo, que o vê com desconfiança quanto a seu trabalho, passando por entrevistas de emprego, carteiradas em boates e até mesmo brancos esclarecidos explicando sobre a cultura negra para… um negro!

Tudo isso é posto à tona de maneira muito direta e dinâmica, fruto aí de um trabalho de roteiro e às vezes, de direção de Glover. E claro, das atuações dos já citados.

Há espaço para uma linguagem mais figurativa, de elementos que beiram o surrealismo, como carros invisíveis, delírios em florestas (visto no excelente episódio “woods”, na segunda temporada) e até mesmo espaço para “paródias” com um Justin Bieber negro e um personagem que lembra muito Michael Jackson, em outro episódio bem interessante que flerta com o pós-terror.

Se há algo que se pode questionar em Atlanta é a classificação quase majoritária de que se trata de uma comédia. Particularmente, me afasto dessa interpretação e vejo a série como um drama cru, real e que nos ajuda a entender os mais diferente dilemas que a pessoa negra enfrenta nos EUA. O que ajuda a elucidar por exemplo os atuais manifestos contra o assassinato de George Floyd, em Mineápolis, nos EUA na semana de seu assassinato, no dia 25 de maio.

Atlanta ainda permite entender como o meio musical das pessoas negras funciona, aqui no Brasil, principalmente do Funk. Ainda que separadas geograficamente, esses dois nichos têm muito em comum.

Atlanta está disponível na Netflix com todos os seus 21 episódios. Cada um com seus menos de 30 minutos de duração. Uma indicação para tempos de quarentena que não se pode negar e reverenciar, definitivamente, o artista total chamado Donald Glover!

PS.: O autor desta coluna assume que usou a nomenclatura “pessoa negra”, mesmo sabendo das discordâncias que existem em torno do assunto. Houve uma série de pesquisas para saber qual o mais adequado e na falta de concordância e sabendo da repercussão que qualquer uso possa causar, optou por este.

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Kael Ladislau é Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
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