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Quando ingressei no Serviço Público Federal em julho de 2004 ouvi de uma colega de trabalho que eu não poderia discutir com ela, pois ela estava ali naquele mesmo setor há mais de 25 anos fazendo o mesmo trabalho, inclusive na mesma mesa. Apesar da forma orgulhosa com que foi dita, aquela frase me marcou negativamente. Fiquei pensando como podia ser considerado exitoso trabalhar no mesmo lugar e fazendo a mesma coisa por tanto tempo! Pior, sem querer ouvir novas possibilidades de atuação. Decidi naquele momento que eu não me acomodaria e que faria a minha carreira de forma diferente e muito mais dinâmica.
A partir de então busquei sempre novos desafios, ainda que mais desconfortáveis, e conheci três conceitos que atualmente considero essenciais na minha vida profissional: interdisciplinaridade, intersetorialidade e interculturalidade.
A interdisciplinaridade vem da constatação de que a realidade não é disciplinar, ou seja, não pode simplesmente ser dividida em áreas do conhecimento, já que, na prática, todas elas se relacionam. A melhor forma de promover o aprendizado é a partir de experiências únicas observadas sob olhares e técnicas de diferentes disciplinas, que se relacionam durante o processo de conhecimento. Nada mais saudável que navegar por todas as áreas do conhecimento incorporando um pouco de cada.
Já a intersetorialidade caracteriza-se pela efetiva articulação dos representantes de diversos setores num verdadeiro trabalho em rede, ainda que aparentemente desconexos, de modo que as qualidades e competências de cada um deles sejam somadas em prol da coletividade. Não há um setor mais importante que o outro, já que todos se relacionam. O público e o privado, o comércio e as artes, a mineração e o agronegócio, enfim, todos os setores precisam buscar soluções uns com os outros.
A interculturalidade, por sua vez, decorre de todas as formas e sentidos culturais, como os costumes, artes, línguas, técnicas e ciências. Quando uma cultura entra em contato com outra sempre passará por um processo de transformação, mais ou menos radical de acordo com a intensidade do contato. Até mesmo a autoafirmação diante do novo e do desconhecido provoca mudanças, ainda que rumo ao extremo conservador. Foi assim que passei a dar mais valor ao engenheiro que canta ópera ou ao médico que faz poesias, por exemplo. O simples respeitar o diferente, ainda que não concorde com ele, já provoca relevantes mudanças pelo exercício da empatia.
No exercício de tais conceitos fui aprendendo e vivendo ricas experiências que me afastaram dos pensamentos extremos. O aprendizado decorrente de uma conduta inter trouxe para mim maior compreensão de vida e amplitude profissional. No campo do Direito e da Gestão Pública, em especial, me permitiu relevantes conquistas. Isso porque ser inter é romper dogmas e preconceitos, abrindo-se ao conhecimento em suas mais diferentes formas. É o que ainda persigo e o que desejo a todos os leitores: sejamos mais inter!
(*) André Lana é advogado, militante nas áreas de direito público e gestão social