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Tenho duas netas. Uma acaba de completar 4 anos e faltam praticamente 2 meses para a outra soprar sua terceira velinha. Embora com a mesma intensidade, e por razões geográficas, minhas manifestações de amor e carinho sempre assumiram formas distintas.
Até o ano passado, meu contato com Maria Eduarda era praticamente diário pois eu a levava para a escola e, com bastante frequência, também a buscava. No início deste ano ela mudou de escola e passou a usar transporte escolar. Mas era em minha casa que ela era deixada ao final da tarde. Aos fins de semana eram comuns as visitas e os almoços.
Com Catarina era diferente. A distância impedia a proximidade diária, mas eram constantes os contatos por chamadas de vídeo. Também aconteciam visitas, mais da parte dela e dos pais vindo a Mariana, que da minha indo visitá-la. Mas algumas vezes pudemos nos reunir fora daqui.
Com a pandemia as coisas mudaram bastante em relação a Maria Eduarda. O isolamento social e o cancelamento das aulas tornaram menos frequentes nossos encontros e visitas. Algumas vezes ela é trazida à nossa casa, mas permanece no carro. Com Catarina, embora já acostumado com a distância, a crise impediu que planos de reunião familiar fossem concretizados.
Esta semana Duda completou 4 anos e, pela primeira vez, eu não a abracei. Talvez possam me julgar radical, mas me curvo às recomendações dos especialistas e não me permito colocar ninguém em condições de risco. Talvez pudesse ser diferente se houvesse mais conscientização da gravidade da situação. Consigo, mesmo com limitações, cumprir meus afazeres em casa e as saídas são somente em caso de extrema necessidade.
Também sinto falta de outras coisas, praticamente todas muito menores que essa falta de contato mais próximo com minhas netas. Coisas como caminhar pelas ruas de Mariana, cumprimentar as pessoas, tomar uma cervejinha com amigos, jogar conversa fora. E, embora não faça nenhum sentido, sinto falta até das coisas que eu deveria fazer, mas não fazia. Como prestar mais atenção aos detalhes da arquitetura da cidade e até mesmo olhar mais para as pessoas.
O confinamento nos torna mais reflexivos e tenho buscado reservar alguns instantes todos os dias para uma análise de questões para as quais antes eu não dava a mínima importância. Não chega a ser uma profunda imersão interior, mas um repensar daquilo que é, ou deveria ser relevante.
Quantas e quantas vezes deixei escapar oportunidades de aproximação, quantas perdi a chance de conhecer melhor as pessoas? Quantas fui intolerante e até mesmo preconceituoso? Quantas chances perdi de me mostrar disponível?
Ainda não consegui chegar a um consenso sobre mim mesmo, mas sigo caminhando. Otimista por natureza, continuo acreditando que a situação atual seja passageira, mas busco saber o que vou aprender nesse processo.
Sem grandes ambições pessoais, espero sair dessa tormenta uma pessoa pelo menos ligeiramente melhor. E poder abraçar minhas netas muitas e muitas vezes mais.
(*) Luiz Loureiro é jornalista e editor da Agência Primaz de Comunicação