“Como nossos pais” e uma reflexão sobre o poder feminino
O drama, que tem força na interpretação de Maria Ribeiro, repassa os dilemas da mulher moderna
- Kael Ladislau (*)
- 15/06/2020
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Ouça o áudio de "“Como nossos pais” e uma reflexão sobre o poder feminino", de Kael Ladislau
O cinema nacional está cada vez mais diversificado e atingindo camadas mais interessantes. Nos últimos anos, temos percebido essa força incrível. Mesmo quando ele fala da classe média que mora em São Paulo ou no Rio de Janeiro, o cinema brasileiro possui sim muitas histórias para contar. E esse caso é especialmente visto em “Como Nosso Pais”, da diretora Laís Bodansky (do clássico Bicho de Sete Cabeças).
O filme conta a história de Rosa, vivida por Maria Ribeiro. Ela tem duas filhas pré-adolescentes e um marido ausente, Dado (interpretado por Paulo Vilhena). Sua relação com a mãe, Clarice (vivida por Clarisse Abujamra) é desgastante e piora quando descobre que seu pai é, na verdade, um influente político (Herson Capri), e não a pessoa que sempre acreditou ser (no caso seu então pai Homero, vivido por Jorge Mautner).
Rosa ainda vive cercada de desconfiança que seu marido a trai enquanto viaja para a Amazônia por causas ambienteis. Tudo isso é cenário para uma vida penosa e sem prazer da protagonista, que lida praticamente sozinha com filhas, com um trabalho que não a agrada e os problemas do seu pai (ou aquele que imaginava ser).
Toda história é tratada com uma naturalidade crua e, mesmo quando há conflito entre mãe e filha, se percebe amor. Ou, quando se há desconfiança, há a cumplicidade de pais que precisam lidar com as filhas. E mesmo na estranheza de um novo pai, há um traço de ternura.
E o centro de todas essas emoções é Rosa. E aqui há o ponto forte de toda a trama e não estou falando apenas da personagem, mas sim da entrega de Maria Ribeiro, que faz uma mulher extremamente forte, mas ao mesmo tempo sensível.
O filme não é, e nem parece ter a pretensão de ser, uma obra que glorifica a supermulher, romantizando a dor feminina numa sociedade ainda muito patriarcal. Na verdade, “Como nossos pais” é sobre como essas mulheres são humanas, que ora flertam com a traição, mas ao mesmo tempo se entregam ao seu verdadeiro amor.
Ou que têm sim problemas com a mãe, mas que não deixa de amá-la. Ou até mesmo a “folga” de sua dura rotina com as filhas para resolver um passado só seu. O filme é íntimo, mas pode ser o reflexo de mulheres que conhecemos – quando não de si mesma.
Talvez o ponto de deslize do obra seja justamente dar as soluções dos conflitos que acompanhamos no filme, inclusive o próprio relacionamento da protagonista com o marido. Algumas pontas ficam soltas e temos a sensação de que muita coisa deveria ser resolvida. Mas, talvez a vida seja assim mesmo e o que vale é Rosa e as escolhas que ela toma.
Um filme leve, mas carregado de emoção e com uma atuação incrível de Maria Ribeiro, que está na Netflix e que você precisa assistir.
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