12 formas de deixar a economia de Mariana saudável após a pandemia - Culto à Carga

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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Avião fabricado por nativos em uma das reuniões do culto à carga

Tem uma história que aconteceu no começo do século passado em algumas ilhas do Pacífico que eu acho muito interessante e que de certa forma tem tudo a ver com o cenário atual de Mariana: é a história do Culto à Carga .

Foi assim: durante a primeira guerra mundial, algumas ilhas foram utilizadas como aeroportos tanto por europeus quanto por japoneses para fazer a passagem de carga (como alimentos, roupas, medicamentos e armamentos) de um avião para outro. E como nesses lugares os habitantes até então não haviam tido contato com o mundo externo — e muito menos com aviões, metralhadoras e disputas internacionais —, para eles, aqueles homens que chegavam voando e traziam comida eram claramente deuses enviados dos
céus.

Só que um dia a guerra acabou e os militares pararam de utilizar essas ilhas como pista de pouso, fazendo com que os ilhéus não tivessem mais contato com aqueles monstros voadores que traziam de tudo lá de cima. Foi aí que muitos moradores tiveram uma brilhante ideia: criar capacetes de coco, armas de madeira e uniformes militares com folhas de árvore para recriar todo o cenário de antigamente, esperando, com isso, trazer de volta os deuses de fora para a pacífica localidade.

Um spoiler : nada disso (claramente) funcionou para levar os combatentes de volta às ilhas, mas serve como metáfora para entendermos melhor alguns dos maiores problemas encarados pela cidade de Mariana.

Mariana e seu próprio culto à carga

Durante um longo período, Mariana era tida como uma cidade à frente do seu tempo.

● Ela foi a primeira cidade planejada de Minas (e uma das primeiras do país).
● Daqui surgiu a primeira empresa mineradora do Brasil .
● Fomos a primeira capital do Estado.

Só que esse espírito inovador não se manteve com os séculos e aos poucos fomos perdendo bastante do nosso protagonismo da região, incluindo nossa mão de obra qualificada e nosso poder de atração de turistas. Tudo isso porque não entendemos direito o que, de fato, fazia de Mariana um lugar especial.
Ficamos apenas repetindo o que funcionava sem entender porque funcionava. E isso é quase sempre uma receita de fracasso.

Não basta ter ruas e igrejas históricas para atrair turistas, não basta ter um dos maiores PIBs do Estado para termos uma boa economia e não basta ter universidade pública de qualidade se não conseguimos manter a mão de obra qualificada na cidade.

Precisamos acabar de vez com o nosso próprio culto à carga.

Agora, depois de séculos, um desastre ambiental e uma pandemia global, pode ser que Mariana e seus habitantes aprendam a lição e se reinventem para um novo futuro. Mas para que isso funcione, nada melhor do que uma… lista.

12 formas de deixar a economia de Mariana saudável: a série

Nosso cérebro adora organizar as coisas. Até mesmo o cérebro daquelas pessoas bem desorganizadas. Por isso que uma lista pode funcionar até mesmo para momentos mais complexos. No entanto, não ache você que só porque estou criando uma lista, com cara de teste do BuzzFeed e linguagem menos acadêmica, que ela não é eficaz e nem tem o pé na ciência e na pesquisa.

Para criar essa nova série sobre economia para a Agência Primaz, eu conversei com professoras e professores de economia, pessoas responsáveis por entidades ligadas à indústria, inovação, tecnologia e negócios, além de vários nomes que vêm tomado à frente no combate aos impactos da Covid-19 na economia de diversos municípios (de dentro e de fora de Minas).

Também pesquisei o que já havia sido feito em Mariana no passado; o que deu certo, o que não deu (e por que alguma ação falhou); busquei entender a forma de viver e ver o mundo da população e dos empreendedores da região e compreender ao máximo porque a cidade é como é.

Com tudo isso em mãos, durante o próximo ano, a cada 15 dias, trarei aqui para o jornal uma forma de deixar a economia marianense mais saudável juntamente com discussões sobre como aplicá-la na prática. Neste primeiro mês discutiremos a transformação digital e como isso pode (e vai) impactar positivamente os negócios do município neste cenário do novo coronavírus.

O papel do Estado como indutor do crescimento

Segundo a economista Laura Carvalho, autora dos excelentes “Valsa brasileira: Do boom ao caos econômico” e do novíssimo “Curto-circuito: O vírus e a volta do Estado”, “o colapso econômico atual, ao contrário dos que o mundo experimentou em 1929 e 2008, não é fruto do contágio da economia real por uma crise no setor financeiro e sim do contágio da economia real por uma crise de saúde pública ou, grosso modo, do contágio por um vírus”.

Essa frase da Laura mostra porque o combate aos impactos da pandemia na economia dependerão não apenas dos movimentos do mercado e da população, mas principalmente do Estado.

Ao contrário de outras crises (como a da queda dos preços das commodities em 2014), nessa não temos apenas elementos econômicos

Em diversos lugares onde houve uma tentativa de reabertura das lojas (como Belo Horizonte e São Paulo), os números do comércio se mantiveram extremamente baixos, muito por causa do medo da população pelo vírus, mas bastante, também, pela queda no poder de consumo do brasileiro. Logo, apenas abrir as portas não será o suficiente para que o comércio se mantenha de pé. Será necessário ter e cobrar do poder público algum tipo de ajuda nos próximos meses. 

Nessa série, eu também trarei algumas dessas saídas que podem ser utilizada pelas prefeituras e cobradas pela população (que, inclusive, provavelmente passará por um processo de eleição no final do ano).

O tal do “novo normal”

Desde o mês de março o mundo opera no que podemos chamar de um “novo normal”, onde os resultados e as expectativas são diferentes do que havia antes da pandemia. E justamente por isso é mais do que necessário ter uma boa orientação para seguir neste novo patamar.

Não podemos mais contar apenas com ações reativas para a economia da cidade. Não podemos mais investir tempo e dinheiro em projetos que não trarão benefícios reais para a população. Não podemos encarar o novo coronavírus com capacetes de coco e armas de madeira.

Precisamos colocar o pé na realidade, antes que a realidade coloque os pés em nossas casas.

(*) Kelson Douglas é Diretor criativo da I Love Pixel, fundador do Valin, o vale de inovação de Mariana e Ouro Preto, embaixador do Montreal International e lider local do Startup Weekend e da IxDA, a associação mundial de design de interação. Também é neto de uma marianense e morador do distrito de Passagem

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