Região dos Inconfidentes: Pandemia e Desafios

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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No dia 31 de maio a Primaz Comunicação publicou nosso texto sobre os desafios e potencialidades da região dos inconfidentes no pós-pandemia. Imaginávamos, um mês atrás, que voltaríamos a discutir o assunto já começando a escorregar felizes pela rampa descendente da curva N° de Contaminados pela Covid versus Tempo. Que nada! Ou será que estamos? Pelo menos em Mariana, talvez. Ouro Preto, com certeza, não! E Itabirito…? Bom, hoje é 21 de junho. A crônica está prevista para publicação no próximo domingo. Até lá podemos reanalisar a tendência dos números. Seria apenas mais um a palpitar sobre os números dessa pandemia no Brasil. Com poucos exames (não gosto do termo testagem); demora na divulgação dos resultados; teste rápido podendo ser falso positivo, ou pior, falso negativo, resta, quem sabe, estimar o número de contaminados pelo número de mortes. Afinal, o número de mortes não pode ser falso positivo ou falso negativo. Se morreu, morreu mesmo! Mas por incrível que pareça, a gestão dos números da pandemia no Brasil desafia até aquela máxima: “a única coisa certa nessa vida é a morte”. Foi preciso criar um consórcio de empresas de comunicação para acompanhar os números da pandemia. Passaram a desconfiar dos dados de óbitos da Covid 19 divulgados pelo o Ministério da Saúde. Coitados dos matemáticos! Daqui a pouco já vão dizer que a matemática, assim como a morte, não é mais certa, ou não pode ser chamada de uma ciência exata. Haja paciência para ajustar essa função complexa – contaminados versus tempo. Depois de torcer tanto pela chegada do pico de contaminação, ninguém mais confia no tal “achatamento da curva”.

Certo é que, estejamos ou não iniciando a fase decrescente do número de contaminados, ou seja, caminhando para a pós-pandemia, não é o momento para discutirmos o tema inicialmente proposto “região dos inconfidentes: desafios e potencialidades no pós-pandemia” É necessária, primeiramente, a abordagem dos desafios para enfrentamento da doença. Aí, a despeito do impacto econômico gerado pela paralisação de várias atividades, a defesa da vida é prioritária e assim, nas reflexões aqui expostas, defendemos esse ponto de vista: a saúde na frente, a atividade econômica logo atrás, sem pressões ideológicas ou de qualquer outra natureza.

No texto anterior mencionamos a solidariedade entre as pessoas, empresas e instituições, para propor também o tratamento do problema via união dos governos, em particular, dos municípios da região. Mostramos que Mariana, Ouro Preto e Itabirito representam bem o que se tem denominado de região dos inconfidentes e apresentamos algumas de suas características, como extensão territorial, população, PIB total e per capita e IDH. Pretendemos analisar e discutir sobre outras características destes municípios, que por serem comuns, produzem desafios de mesma natureza e justificam o enfrentamento dos problemas de forma conjunta.

Em virtude da inexistência ainda de vacina e de um tratamento eficaz, restam para reduzir o número de contaminados pelo vírus e consequentemente a possibilidade de crescimento no número de óbitos, o isolamento social e o aumento da capacidade e da qualidade do atendimento hospitalar. A Santa Casa de Misericórdia de Ouro Preto é o hospital regional credenciado pelo SUS para atender as demandas de maior complexidade dos três municípios, como os casos mais graves da Covid 19 e de outras enfermidades. Portanto, nesse momento de gravidade, as administrações municipais e lideranças políticas da região devem unir seus esforços para buscar junto aos governos estaduais e federais, empresas e até mesmo organismos internacionais, os recursos, equipamentos, insumos e pessoal em prol da Santa Casa. Aliado a estes esforços é preciso discutir o isolamento ou o distanciamento social como forma de evitar a sobrecarga sobre o sistema de saúde da região. O isolamento social precisa ser discutido e implementado de forma conjunta e não isoladamente em cada município. Ressalte-se, neste caso, pelo menos quatro características comuns de Mariana, Ouro Preto e Itabirito que interferem na eficiência do isolamento em cada um dos municípios. Quais sejam: a proximidade das três sedes e de alguns dos seus mais populosos distritos, interligados praticamente por um mesmo eixo rodoviário. Referimo-nos às rodovias BR356, que liga a sede de Itabirito (40.000 habitantes) à sede de Ouro Preto (40.600 habitantes, distante  43 km), passando pelos distritos ouro-pretanos de Amarantina (3.600 habitantes a 14km) e Cachoeira do Campo (8.900 habitantes a 24km); Continua pela ligação entre a sede de Ouro Preto e a cidade de Mariana (39.000 habitantes a 14km), passando pelo distrito de Passagem de Mariana (3.600 habitantes a 8km) e a rodovia MG129 que leva a outro distrito ouro-pretano, Antônio Pereira (4.450 habitantes e distante 11km de Mariana). Os dados populacionais são do censo de 2010 do IBGE e já mostravam que a população ao longo desse eixo rodoviário concentrava 82% da população total dos três municípios A segunda característica comum é a mineração. Todos os três municípios têm como base da sua economia a atividade mineradora. O monitoramento e o controle da contaminação pelo vírus devem ser tratados de forma conjunta pelas empresas envolvidas e as administrações dos municípios da região. Os protocolos de saúde relacionados à pandemia não podem ser estabelecidos individualmente por município, tendo em vista que a circulação de trabalhadores, bens e serviços envolvidos na atividade se dá no âmbito da região. Portanto, se as decisões em relação à pandemia não estão sendo discutidas conjuntamente entre as empresas mineradoras e as lideranças políticas dos municípios citados, o controle da doença pode ficar comprometido. A condição de polos universitários é outra característica comum aos três municípios da região dos inconfidentes, principalmente Ouro Preto e Mariana, onde concentram-se os maiores contingentes de alunos da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG – campus Ouro Preto). Dos aproximadamente 9.900 mil estudantes de graduação dos campi da UFOP nestas duas cidades, em torno de 75% são oriundos de outros municípios mineiros e também de outras regiões do Brasil. Somam-se a estes, os da pós-graduação e também alguns poucos estudantes de outros países. Não podemos esquecer também dos estudantes das faculdades privadas de Mariana, Femar/Fama e Unipac, essa última presente também em Itabirito. Elas representam juntas, parte de um contingente de estudantes de municípios próximos que viajam diariamente para frequentarem as aulas nestas instituições. Os estudantes universitários representam um número significativo de pessoas de outros municípios que, ou vivem boa parte do ano em Ouro Preto e Mariana (no caso de alunos da UFOP e do IFMG) ou circulam diariamente por Mariana e Itabirito (no caso dos alunos das mencionadas instituições privadas). Portanto, as discussões sobre a retornada das atividades de ensino universitário presenciais nos três municípios devem envolver todos os dirigentes das instituições e as administrações municipais. A quarta e última característica comum aos municípios da região está relacionada com a atividade turística. Apesar de mais intensa em Ouro Preto, essa atividade gera uma circulação de pessoas pelos outros municípios, seja pela proximidade e atrativos, seja porque Ouro Preto é considerado um dos 65 destinos indutores do turismo no Brasil. Da mesma forma que a retomada das atividades de ensino universitário, o turismo também precisa fazer parte das discussões envolvendo todo o trade com o conjunto das administrações municipais não apenas pela importância econômica dessa atividade para a região, mas principalmente pelo impacto que pode provocar nos números da pandemia.

É hora das desavenças políticas e dos bairrismos serem deixados de lado e dar lugar à SOLIDARIEDADE para atravessarmos este momento gravíssimo que estamos vivendo. Se a tarefa é de todos, o exemplo deve partir daqueles que representam legitimamente os municípios da nossa região dos inconfidentes, sejam os atuais detentores de mandatos públicos como também todos os candidatos que participarão das próximas eleições municipais.

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