Compartilhe:
Para muitas pessoas, a ideia de pagar os boletos pela internet não é algo muito bem visto. No entanto, para outros, isso faz parte da rotina há um bom tempo. Aliás, para ser mais claro: há décadas.
Lançado no longínquo ano de 1995, o site do Bradesco foi o primeiro endereço .com.br do país, sendo o responsável por agraciar os pouco mais de 15 mil “internautas” que existiam na rede brasileira daquela época e também facilitar a vida dos gatos pingados que tinham conta na instituição e um belo de um Windows 95 para acessar a plataforma on-line.
Hoje, 25 anos depois, e com uma (quase) inesperada pandemia, utilizar o banco em seu formato virtual é mais do que uma opção, chega a ser uma questão de saúde pública. E é por isso que quem não tinha conhecimento digital antes da COVID, agora tem sofrido um pouco para se acostumar com este novo cenário.
Aliás, se para abrir um app e só conferir a conta bancária tem gente quebrando a cabeça, calcule como está a vida dos empreendedores que estavam tranquilinhos no mundo analógico e de repente tiveram de aprender a fazer venda, atendimento, reuniões e transferências, tudo on-line.
Poderia ser aquele velho caso de “não tá fácil pra ninguém”, porém, sim, até que a coisa está mais fácil pra algumas pessoas.
Não é uma questão de sorte
Aqui na Agência Primaz já foi apontado como as vendas pela internet tem ajudado a manter alguns empregos em Mariana, inclusive contando com o ótimo caso do Seu Jadir, que começou a vender pastéis com ajuda da internet e de um simples sistema de delivery. Mas não é só esse exemplo que temos na cidade.
Do analógico para o digital desde o início
Há mais de 4 anos, antes de Flávio abrir a pizzaria Belitta, o empreendedor pesquisou bastante o mercado e percebeu que o grande lance não seria ter um loja física, e sim oferecer seus produtos apenas pelo delivery. Por isso ele apostou em um app, uma maquininha de cartão de crédito, tirou o investimento em anúncios impressos (que não davam tanto retorno) e migrou a publicidade para o mundo das redes sociais. Isso, antes da pandemia.
Agora, Flávio comenta que tem conseguido atrair novos clientes e até aumentar seu faturamento, mesmo em um cenário tão conturbado. Tudo graças à sua antecipada transformação digital. “Segundo os relatos de quando eu estava estudando, essa era tecnológica chegaria muito rápido, então investir nisso seria o melhor caminho”, foi o que me disse o empresário, na entrevista que você pode conferir no áudio do post.
O pãozinho de cada dia também foi pra internet
Camila Cota, proprietária da Padaria Pão de Ló, em Passagem de Mariana, também se planejava para começar a vender seus pães, bolos, tortas e demais produtos on-line em um futuro breve, no entanto, houve uma pandemia no meio do caminho e todos os processos precisaram virar e mudar do dia pra noite.
“A gente teve que começar a vender diferente. O meu mix de produtos é completamente diferente do que eu fabricava anteriormente”, comentou Camila, na mesma entrevista que pode ser conferida no áudio. Ainda segundo ela, “antes eu fabricava muito mais produtos com recheio para ficar como opção de lanche para quem ia na padaria. Hoje não. Hoje eu produzo muito mais sem recheio, para que as pessoas possam colocar o recheio em casa”, completa.
Perguntei para a Camila se mesmo com toda a dor de cabeça as vendas on-line ficarão ativas depois da pandemia e a resposta foi: “a gente não pretende parar”.
Mariana pós-pandemia
Assim como o Seu Jadir, o Flávio e a Camila, existem vários outros empreendedores que viram na transformação digital um futuro para salvar ou manter a empresa. E essa transformação não impactará os seus negócios apenas durante a crise sanitária. No período de retomada das atividades e pós-pandemia, o entendimento sobre cultura digital será um dos principais fatores para segurar a economia não só dos CNPJ’s, mas da cidade inteira.
A solução já está entre nós
Para continuar, vou colocar alguns nomes e datas por aqui:
Pois bem: essa é uma lista de itens que podem ajudar qualquer empreendedor a vender na internet, juntamente com a data com que cada recurso foi lançado oficialmente. Com 3 ou 4 deles é possível vender on-line, aceitar pagamentos com cartão e fazer todo o gerenciamento de estoque e caixa sem precisar colocar as mãos em uma caneta ou papel.
Dito isso, há pelo menos 8 anos, boa parte das empresas de Mariana já poderia, com ajuda de parte dessa lista, ter algum tipo de operação ou presença on-line. Mas por que isso não aconteceu bem antes? A minha ideia é a de que ninguém mostrou como seria possível.
Fiz dois Startup Weekend em Mariana, em parceria com o Google, sendo um em 2018 e outro em 2019. Nos dois casos, a maioria dos participantes veio de Ouro Preto e não daqui. Lá… ou melhor… ali em Ouro Preto temos diversas grandes empresas de base tecnológica. Aqui, quase nada.
Ali a prefeitura investiu em tecnologia, conectando os postos de saúde, as escolas da rede municipal e, com esses e outros movimentos — como a criação de um parque tecnológico—, o município entrou no top 100 de cidades mais inteligentes do país. Não vimos nada disso aqui, mesmo estando há menos de 15 quilômetros de distância.
Em Ouro Preto a transformação digital tem maior valor porque a população vê sua presença nas ruas. No entanto, fica difícil pensar em transformação digital, quando não temos exemplos próximos que deram certo e que apontem o caminho a ser seguido.
A COVID 19 mostrou pras pessoas o quanto é importante investir em rede, em conhecimento digital e o quanto é bom poder contar com o delivery. Os empresários aprenderam que não dá pra continuar sem ter presença on-line. Resta saber se o poder público saberá lidar com as demandas de infra e de desenvolvimento econômico que já existiam antes mas não eram atendidas, e que agora farão a diferença no pós-pandemia.
Assim como os bancos on-line já estavam presentes desde a década de 90, as soluções para a economia da cidade já estão aí. Só precisamos de pessoas que saibam vê-las hoje (e não daqui há 25 anos) como necessárias.
Nos encontramos novamente em 15 dias com a segunda forma que temos para salvar a economia de Mariana: o Cooperativismo.
(*) Kelson Douglas é Diretor criativo da I Love Pixel, fundador do Valin, o vale de inovação de Mariana e Ouro Preto, embaixador do Montreal International e lider local do Startup Weekend e da IxDA, a associação mundial de design de interação. Também é neto de uma marianense e morador do distrito de Passagem