Entrevista Primaz - Jussara Braga: "A gente que faz arte já entra na faculdade se justificando. Parece que já entra devendo alguma coisa"

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Na edição desta semana da Entrevista Primaz, conversamos com Jussara Braga. A marianense é Mestre em Dança pela Universidade Federal da Bahia – BA (2014), graduada em Bacharelado e Licenciatura em Dança pela Universidade Federal de Viçosa – MG (2011).

Já foi docente do Curso de Dança da Universidade Federal de Viçosa onde coordenou e ministrou as disciplinas de Balé Clássico, Música e Movimento, Dança Contemporânea. Foi professora convidada do Departamento de Educação Física em 2017, onde coordenou e ministrou a disciplina Fundamentos Pedagógicos das Atividades Circenses.

É dançarina clássica, contemporânea e circense, professora de balé clássico, dança contemporânea e facilitadora dos métodos Pilates e Flymoon. Já foi integrante do Grupo Êxtase de Dança de Viçosa – MG, e preparadora corporal do NEPARC – Núcleo de Estudos e Pesquisas Artístico-Corporais e preparadora corporal e ensaiadora do grupo Êxtase Experimental do Núcleo de Arte e Dança em Viçosa – MG. Jussara é jurada titular do Desfile das Escolas de Samba de São Paulo no Carnaval desde 2017 e terapeuta de Biomagnetismo desde 2016.

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Confira alguns trechos da entrevista e assista, ou apenas ouça, a entrevista completa logo abaixo.

Eu brinco que a gente que faz arte já entra, principalmente na faculdade, se justificando. Parece que a gente já entra devendo alguma coisa.

Eu estava muito aflita porque eu estava acompanhando Viçosa caminhar nesse sentido da Lei Aldir Blanc. Eu estava tentando entender o que tava acontecendo e Viçosa é sempre muito atuante nas políticas culturais locais. Mas foi tudo muito rápido, três dias depois que eu conversei com uma amiga, a gente ficou sabendo da reunião da Câmara, literalmente, 15 minutos antes de começar. Fui porque achei que tinha que ter alguém da dança.

Como marianense eu fiquei ausente por 11 anos. Sempre aqui porque minha família está aqui mas sem morar. Agora que voltei, eu procurei saber como estavam as políticas públicas na cidade. Soube de um conselho municipal que sumiu. Aquela reunião serviu para clarificar algumas coisas. Eu sou otimista até demais. Vejo vontade, vejo iniciativa. Tenho medo de nadar, nadar, nadar morrer na praia, mas acho que ali não. Ali a gente tem muito força e é um momento que exige muito de todos nós.

A gente que é artista começa a se enfiar nas coisas. A gente vai sendo formado pela vida. A gente aprende quando vai usar. Na graduação, eu sofria as consequências do edital sem saber como isso se articulava de uma foma mais profunda. Eu fui entender melhor isso quando fui fazer o mestrado, na Bahia e depois como professora em Viçosa. Eu consigo comparar Viçosa com Mariana: duas cidades mineiras e do interior. Tem muitas iniciativas em Viçosa, que é uma cidade que recebe muito menos recurso do que aqui. Aqui faltam iniciativas e ações que atuem de forma continuada.

Quando a gente entende que a dança não é só o dançar, o exercício, o entretenimento, mas também é uma área de conhecimento, uma área ampla de fazer, a gente consegue traçar várias outras vertentes de ação.

Eu tenho uma proposta, chamada balé consciente, que é a técnica do balé de fato, mas é o ensino multidisciplinar e eu deixo explícito que isso cabe a qualquer corpo. Eu acredito muito na autonomia do aluno.

Eu tenho um orgulho muito grande de ter na minha carteira assinado bailarina. Isso é tão raro que eu tenho que agradecer muito!

Muito mais do que pensar o que é o fomento para a pesquisa, é a gente ver que o próprio fomento já está falho, já está pequeno, já está errado desde o começo e ele ainda não chega. Quando vc vê de dentro, o negócio começa a perder sentido. Não é sobre dinheiro. É sobre formação, sobre capacitação, é sobre olhar para o lado e ver o que está acontecendo.

A gente tem que fazer as nossas micropolíticas. A gente tem que começar a falar para as pessoas que política não é partido. Falar politicamente é ter visão das coisas, ter opinião e exercer sua voz de voto sabendo o que você está fazendo. O que resolve é educação, educação, educação, ensino. Política como construção de ideias.

O que eu trabalho no balé consciente e tento sempre primeiro ensinar para o aluno: não se compare! A gente quer fazer balé, o que a gente pensa: tem que ser flexível, tem que ter começado nova, eu tenho que ser magro, eu tenho que ser longilíneo. Eu tenho 1,54m, se fosse assim eu não poderia ter feito balé nunca. Não é que a técnica seja a vilã, o vilão da coisa são os professores que insistem em seguir uma estética.

Entre tantos casos curiosos como jurada do carnaval de São Paulo desde 2017, tem um que destaca. Eu estava em uma torre, avaliando as escolas. Passou uma escola, eu dei a nota e virei para pegar alguma coisa. Quando eu virei, bateu um vento e jogou a minha nota lá embaixo, no meio do camarote da Brahma. Então estava lá o papel com o nome da escola e a nota 10. Os torcedores pegaram, agradeceram e comemoraram.

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