Reforço (virtual) para mais 24h sem beber: o AA de Mariana e a Covid-19

Grupo Tudo Azul adapta atividades e estuda a volta das reuniões presenciais do AA em Mariana

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Cartaz na porta do AA informa sobre suspensão de atividades presenciais e divulgam canal de auto-ajuda pelo Whatsapp

“Quero agradecer ao  Poder Superior e aos meus companheiros por esse dia sem bebida alcoólica e estou aqui para pedir reforço para mais 24 horas.” Assim começaram quase todos os depoimentos ditos na reunião dos Alcoólicos Anônimos de Mariana, realizada na última segunda-feira (6) de forma virtual.

Nessa nova modalidade de reunião, os membros do AA recorrem à tecnologia para compartilhar suas batalhas diárias contra o alcoolismo e buscar apoio para enfrentar a doença em tempos de pandemia e isolamento social. Para conhecer o trabalho dos Alcoólicos Anônimos de Mariana, a Agência Primaz de Comunicação participou da reunião e conversou com alguns membros da irmandade Tudo Azul.

Além de abordar as adaptações nas atividades do AA durante a pandemia de Covid-19, os participantes apontaram a importância da literatura no processo terapêutico, reforçaram a necessidade de anonimato e comentaram a participação feminina nas esferas local e nacional

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Reuniões virtuais

A Covid-19 provocou adaptações no trabalho do AA de todo o Brasil. Em Mariana, as reuniões presenciais, que ocorriam na rua André Corsino às quartas, foram substituídas por reuniões virtuais, por meio da plataforma Google Meet. Durante a pandemia, a irmandade tem realizado três reuniões por semana, sempre às segundas, quartas e sábados.

Como dito por um dos membros no encontro do dia 6, a reunião é o “alimento” que ajuda a manter a sobriedade por mais um dia. “Tem que participar! A sobriedade vem na reunião”, defendeu. Além de compartilhar as vivências e sobrevivências diárias, todos os membros pediram, em seus depoimentos, reforço para mais 24 horas sem consumir bebidas alcoólicas. Outro participante também pontuou que “as trocas e experiências compartilhadas na reunião é o que nos mantém sóbrios”.

Apesar de entender a importância do isolamento e da adaptação nas atividades, um dos participantes lamentou a suspensão das reuniões presenciais. “A gente sente falta daquele abraço, do aperto de mão e do encontro presencial. Essas coisas fazem falta”. O participante também revelou ter percebido uma mudança no público que frequenta as reuniões depois da implantação da modalidade online. “A gente tem visto mais gente participando da reunião virtual e procurando ajuda. Temos visto mais mulheres presentes nas reuniões, por exemplo.”

Os membros da irmandade Tudo Azul revelaram, ainda, que estudam o retorno da reuniões presenciais do AA em Mariana. “Alguns membros estão tendo dificuldades, principalmente com a tecnologia. Nós estamos estudando a possibilidade de voltar com as reuniões presenciais, seguindo todas as recomendações das autoridades de saúde. Chegamos a protocolar um plano de trabalho na prefeitura, mas ainda não tem nada definido”, disse um dos participantes.

A importância do anonimato no AA

Diante da presença da Agência Primaz na reunião, alguns participantes reforçaram a importância de garantia de anonimato dos membros do AA. Além de minimizar os efeitos do preconceito a quem sofre de alcoolismo, os participantes defenderam que a medida coíbe a personificação e a autopromoção com as iniciativas realizadas pelos Alcoólicos Anônimos.

“Muita gente acha que o alcoólico é aquela pessoa que está debaixo da ponte”, desabafou um dos participantes. “Se não fosse pelo anonimato, eu não estaria aqui. Acho que eu não estaria nem vivo hoje”, revelou outro membro da irmandade Tudo Azul.

Apesar disso, os membros defendem a divulgação das atividades da irmandade. “Os membros são anônimos, mas a nossa irmandade não é anônima. A divulgação das nossas atividades é muito importante, sobretudo para aqueles que estão começando a procurar ajuda para parar de beber”.

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A baixa participação de mulheres nas reuniões do AA

O preconceito sofrido por quem luta contra o alcoolismo é o principal motivo citado pelos participantes do encontro para a baixa adesão de mulheres nas reuniões do AA de Mariana. A sala da reunião realizada na última segunda-feira chegou a ter 17 participantes. Apenas uma mulher foi percebida no início da reunião, mas desconectou-se logo após o anúncio de que a reunião seria aberta e contaria com a presença de um jornalista.

“Historicamente, a presença feminina nas reuniões do AA nunca passou de 25%. Primeiro, tem-se a impressão de que as mulheres bebem menos. Além disso, o estigma da doença causa mais vergonha nas mulheres de serem chamadas de alcoólicas”, comentou um dos participantes.

Outros membros defenderam que a participação feminina é mais expressiva em centros urbanos mais populosos. “Eu participei de uma reunião de um grupo no Rio que, de 118 participantes, 64 são mulheres. No interior, as pessoas têm mais vergonha e o preconceito está mais presente”.

Apesar disso, os participantes têm percebido maior presença feminina nas reuniões virtuais da irmandade Tudo Azul. “Aqui temos a infelicidade de termos poucas mulheres participando do AA. A dificuldade de se chegar ao grupo é maior. Hoje temos 3 que acompanham regularmente as atividades. Mas, com as reuniões virtuais, a gente tem visto mais mulheres participando e procurando ajuda para parar de beber.”

A irmandade Tudo Azul de Mariana

Fundada em agosto de 1977, a irmandade de Mariana foi batizada pelo Padre Avelar, como explica um dos membros. “Na época, existia em Belo Horizonte a irmandade Tarde Azul. Inspirado por ela, o Padre Avelar contribuiu para a fundação da nossa irmandade e deu o nome de Tudo Azul”. O aniversário do grupo, que seria comemorado em 20 de agosto de 2020, foi cancelado devido à pandemia.

A irmandade de Mariana, ao longo dessas quatro décadas de atuação, tem participação em inúmeras histórias de luta e superação ao alcoolismo. É o caso de um dos membros que, há três anos, procurou ajuda para um familiar e acabou encontrando acolhida para lidar com a própria doença. “Fui para ajudar a minha irmã e vi que quem precisava de ajuda era eu. Hoje eu tenho esposa e sou um pai presente”.

Também é o caso de outro membro do grupo, que frequenta o AA há mais de 20 anos e aproveitou a reunião para comemorar mais um dia sem bebida. “Só por hoje eu não bebi, não me droguei. Fui trabalhar tranquilo, sem ressaca. Desde sempre, os companheiros tiveram muita paciência comigo”, revelou um dos participantes da reunião.

As reuniões do grupo acontecem às segundas, quartas e sábados, de 19h30 às 21h, por meio do Google Meet. Para participar da reunião, basta acessar a sala pelo link https://meet.google.com/pok-ryjg-fgt no horário marcado. A única exigência é o desejo de parar de beber. O grupo de Mariana também criou um canal de autoajuda no Whatsapp com o número (31) 99628 6468.

A literatura de Alcoólicos Anônimos

Para aprofundar a compreensão sobre as fundamentações do trabalho do AA, alguns participantes da reunião destacaram a importância das literaturas sobre o assunto. A publicação mais citada pelos membros foi o livro “Alcoólicos Anônimos”, que aborda as 12 tradições seguidas pelo AA no tratamento contra o alcoolismo. Devido à pandemia de Covid-19, os principais livros sobre o assunto foram  disponibilizados para venda em formato digital no site www.aa.org.br.

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