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A paralisação econômica imposta pela pandemia do novo Coronavírus trouxe dificuldades para todos. Ninguém escapou de algum tipo de transtorno, prejuízo ou mudança de rotina. Mas é preciso enxergar que alguns setores terão mais dificuldades que outros para a retomada. Vários correm o risco de desaparecer ou se modificar profundamente.
O setor de turismo é um exemplo de lenta e complexa retomada. Com muitos trabalhadores informais e composto de empreendimentos com altos custos fixos, o esvaziamento trazido pela pandemia levou diversos profissionais a migrarem para outras áreas e fez fechar vários hotéis, restaurantes e receptivos. E mesmo após a reabertura dos destinos turísticos, algo que nem está sendo cogitado, sabemos que o medo dos viajantes e as dificuldades de reorganização do setor farão com que o restabelecimento do patamar anterior ao vírus demore muito para ser alcançado. As viagens longas, planejadas e mais dispendiosas darão lugar aos passeios curtos e simples, preferencialmente em locais de pouca ou nenhuma aglomeração.
A classe artística, por sua vez, está sofrendo um golpe mais duro! Sem condições de reunir plateias e sem apoio governamental para sobrevivência, verá ainda por meses, talvez anos, uma total interrupção de suas atividades. Trata-se de um setor produtivo que conta com diversos profissionais, como assistentes, produtores e os artistas propriamente ditos, além de incrementar outras áreas, como transportes, hotelaria, gráficas, adereços etc. A falência do famoso “Cirque du Soleil”, anunciada há pouco dias, é uma evidência clara da crise no setor. Uma geração de novos artistas deixará de ser formada e os resultados a longo prazo serão desastrosos para a nossa sociedade, cada mais embrutecida.
Já o setor de transporte público é um exemplo de modificação profunda. O setor que já vinha há anos sofrendo com a concorrência de clandestinos e carros de aplicativos, além de uma elevação desproporcional nos preços dos combustíveis e insumos, vê-se agora com abrupta queda de passageiros. Sem escolas funcionando e com vários trabalhadores em “home office”, os ônibus não conseguem manter o fluxo de pagantes necessário ao equilíbrio do sistema. Caso se mantenha a máxima das concessões de que o serviço deve ser pago apenas pela tarifa, veremos a falência de várias empresas e a desorganização do setor. Com isso, somente serão assistidas por transporte aquelas comunidades mais populosas e rentáveis, deixando isoladas pessoas que hoje dependem sobremaneira do serviço público.
Para os três exemplos acima, entre outros, a melhor forma de garantir um funcionamento básico e minimizar os danos causados pela pandemia é o poder público reconhecer seu papel garantidor e implementar políticas claras e efetivas de subsídios. Por sua vez, a sociedade precisa ter mais empatia e solidariedade com esses segmentos, sob pena de sufocá-los ainda mais. A nova realidade pós-pandemia nos exigirá compreender melhor os limites dos outros e o papel do Estado.
(*) André Lana é advogado militante nas áreas de direito público e gestão social