Em 2019 nós éramos cancelados, agora, em 2020, nós somos expostos. #exposed

Será que é benéfico expor algo ou alguém para que o tribunal da internet faça o trabalho da justiça e julgue os atos, os agressores ou, até mesmo, as vítimas dando a sentença de culpa antes do julgamento?

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Em 2019 “cultura do cancelamento” foi eleito como o termo do ano pelo Dicionário Macquarie, um dos responsáveis por eleger anualmente as palavras e expressões que mais moldaram o comportamento humano.

Nas palavras do Dicionário a “cancel culture” é nada mais que “um termo que captura um aspecto importante do estilo de vida. Uma atitude tão persuasiva que ganhou seu próprio nome e se tornou, para o bem ou para o mal, uma força poderosa”. Em outras palavras podemos dizer que cancelar é um quando várias pessoas se unem para boicotar alguém, alguma marca ou algum evento que esteja agindo de forma incoerente com os próprios valores.

Agora, se em 2019 tudo era cancelado, em 2020, a #exposed veio para mostrar que, se você tem um histórico de mau comportamento, cuidado!

Estamos no tempo da cultura do “exposed”, ou como diria a filósofa contemporânea Duny: “eu vou expor ela”.

O termo tem sido usado na internet por jovens para denunciar crimes, por famosos para contarem algumas verdades e pelo mundo todo para compartilhar algo que esteja, vamos dizer, errado. O que não podemos esquecer é que as redes sociais até podem ser aliadas, mas é preciso cuidado.

Se pesquisarmos a palavra “exposed”, em algum site de busca, podemos descobrir como a hashtag vem sendo muito usada. Ao mesmo tempo que incentiva meninas à contarem seus relatos de abuso sexual e casos de violência contra a mulher, podemos descobrir quem está sendo exposto por burlar cotas raciais nas universidades públicas, as traições – como a do Arthur Aguiar, os namoros falsos da Anitta ou os casos da Ludmilla. Porém, até que ponto esse tribunal da internet pode ser benéfico?

Há relatos de meninas que receberam ameaças do garoto que a abusou sexualmente, pois percebeu que o “exposed” era sobre ele. Claro, o abusador foi xingar a vítima por ter sido exposto. Temos também casos do tribunal da internet ameaçando, xingando e brigando publicamente com os abusadores e com os fraudadores de cotas, utilizando palavras de baixo calão, ameaças de risco de morte e linchamento on-line.

Por mais que os atos em si sejam criminosos, às vezes, o tribunal da internet além de ajudar a amplificar a voz de vítimas que não costumam ser acolhidas pela Justiça, acaba exagerando nas palavras e, dessa forma, incentivar suicídio, depressão e doenças psicológicas. Assim, até onde devemos expor os casos?

Vale lembrar que as denúncias online não substituem as denúncias formais e que, muitas vezes, a justiça com as próprias mãos pode não ser a maneira correta de fazer alguém pagar pelos seus crimes, mas como saber se devo expor nome, endereço, foto e CPF de quem me abusou, de quem ficou com meu marido, de quem fraudou a cota racial?

Sabemos que é horrível ver algo errado que não receberá as devidas punições na Justiça falha do Brasil, e que estamos longe de entender como proceder com tanta exposição. Mas o tribunal da internet não pode sair por aí atacando com tanto ódio.

(*) Luiza Boareto é jornalista graduada pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), comentarista profissional de programas da TV e apaixonada por esportes. Encontrou seu Caminho fazendo intercâmbio em Lille, mas acha que o esqueceu lá.

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