Região dos Inconfidentes: Continuam os desafios da pandemia

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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Nos dois textos anteriores defendi a união de esforços dos municípios da região dos inconfidentes no enfrentamento da pandemia do coronavírus. Destaquei quatro características comuns de Mariana, Ouro Preto e Itabirito que reforçam essa tese: a atividade mineradora, a proximidade dos principais núcleos populacionais dos municípios, a forte presença de estudantes universitários de várias regiões do país e o fluxo turístico.

A Covid-19 ainda continua e precisa ser enfrentada, mas já é hora de começar outros desafios, quais sejam, contabilizar as perdas econômicas e sociais e iniciar o planejamento para retomada da normalidade, ou do “novo normal” como alguns têm chamado. Porém, não custa nada reforçar que a defesa da vida continua sendo prioritária, apesar de algumas autoridades públicas não mostrarem tanta convicção assim.

No caso dessa pandemia, onde ainda não há uma vacina e tampouco um tratamento, o distanciamento social, combinado ao uso de máscaras e higienização constante das mãos, continuam sendo as melhores práticas para a queda no número de contaminados e consequentemente menor impacto aos sistemas de saúde e redução dos óbitos. Entretanto, os impactos econômicos e sociais em virtude da paralisação de várias atividades são evidentes.

Na mineração, principal atividade econômica dos três municípios da região dos inconfidentes, as perdas não parecem ter sido tão significativas como no comércio e nos serviços. A indústria de um modo geral (extrativa, como a mineração e outras como alimentação e de transformação) foi considerada uma atividade essencial. Dessa forma, acredita-se que o emprego e a renda dos trabalhadores desse setor foram menos afetados pela pandemia do que de outros setores da economia. Lembrando que além das empresas de mineração, quase todas pertencentes à Vale, em Itabirito encontram-se a Femsa-Coca Cola, a Queiroz Júnior Mecânica, a Laticínios ITA e duas Indústrias Têxteis, dentre outras.

Em Ouro Preto, a maior delas é Hindalco (ex-Alcan e ex-Novellis). Estas empresas e outras menores, juntamente com suas terceirizadas, são responsáveis por boa parte da mão de obra das indústrias da região. Há que se conferir, é claro, o impacto da pandemia nos números dessa atividade econômica para melhor avaliar a afirmativa. Porém, no caso do comércio e dos serviços, as perdas só não são maiores por conta das atividades consideradas essenciais, como as de saúde (farmácias, clínicas de saúde, estabelecimentos veterinários e outros); de alimentação (supermercados, mercearias, padarias, açougues, comércios de produtos hortifrutigranjeiros); agências bancárias e casas lotéricas; estabelecimentos de materiais de construção; oficinas em geral; transporte público e postos de combustíveis.

Mesmo assim, nota-se uma queda nos serviços de saúde com a redução de consultas regulares e de exames e, mais fortemente, no transporte público e na venda de combustíveis. Já serviços como academias de ginástica, salões de beleza, lazer e entretenimento, escritórios de advocacia, contabilidade, engenharia e arquitetura e demais amargam uma paralisação quase que total. Assim como as lojas de vestuário, calçados, papelarias, cosméticos, artesanatos e outros. Alguns dos comércios de bares, restaurantes, cafés e lanchonetes só não fecharam totalmente por força do atendimento em domicílio.

A agricultura é outra atividade que sofreu bem menos com a pandemia. Será tratada posteriormente. Todas as perdas provocadas pela redução e /ou paralisação das várias atividades afetadas pela covid19 precisam ser contabilizadas para um planejamento correto da retomada da economia. Dentre os vários desafios que serão exigidos, mesmo antes do fim da pandemia, este parece ser primordial. Qual seja: o impacto econômico gerado no faturamento da indústria, do comércio e dos serviços e no social, relacionado ao desemprego e redução da renda, fechamento de atividades e endividamento.

Todo esse levantamento demanda o serviço de profissionais de várias áreas, como economistas, administradores, contadores, advogados, sociólogos, assistentes sociais, engenheiros e outros. Essa tarefa pode ser facilitada se for liderada pelas administrações públicas de Mariana, Ouro Preto e Itabirito junto às suas associações comerciais e industriais. Mais uma proposta de união de esforços e solidariedade públicas que tenho defendido nos textos publicados aqui pela Agência Primaz de Comunicação.

Todas as atividades mencionadas de comércio e de serviços são praticamente as mesmas em municípios como os da nossa região. Assim, os impactos econômicos e sociais nestes setores podem ser mais facilmente avaliados pela comparação com os estudos de outros municípios.

Porém, outros dois setores, a educação universitária e o turismo, são atividades diferenciadas nos municípios da região dos inconfidentes, em especial, Ouro Preto e Mariana. Portanto, merecem uma discussão a parte pelo que representam na economia da região. É essa discussão que pretendo iniciar com o terceiro texto da série sobre a pandemia na região dos inconfidentes.

Os dois setores trazem para os municípios um acréscimo populacional temporário. No caso da educação universitária é um contingente que se renova a cada semestre letivo, com a chegada dos calouros nas novas matrículas e a saída dos concluintes na formatura. Entre 2007 e 2013 o número de estudantes de graduação da UFOP teve um forte acréscimo com o início do curso de medicina no segundo semestre de 2007 e os novos cursos e ampliação de vagas proporcionados pelo Programa Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) a partir do segundo semestre de 2008. Só este programa acrescentou 14 novos cursos de graduação e aumentou em 134% a oferta de novas vagas.

De 2014 em diante os números de matriculados em cursos de graduação da UFOP passaram por uma estabilização, sofrendo um pequeno acréscimo com o início do curso de Engenharia Urbana no primeiro semestre de 2018. No atual momento, em termos de estudantes oriundos de outros municípios, a UFOP conta com 7.300 alunos de graduação presencial em Ouro Preto e 2.600 em Mariana. Somam-se a estes, os 2.200 estudantes de pós-graduação, computando-se latu e stricto sensu. A estes números devem ser acrescidos os estudantes do campus de Ouro Preto do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG). Estima-se um número de 400 alunos, dentre aqueles dos cursos técnicos, tecnólogos e superiores do instituto, que não residem na região dos inconfidentes.

Outra parcela da área educacional das duas instituições federais são os servidores docentes e técnico administrativos que não residem em Ouro Preto e Mariana, mas que frequentam as cidades nos dias de trabalho, demandando principalmente alimentação e também alguns serviços. Todo este contingente de pessoas que residem temporariamente (no caso dos alunos) em Ouro Preto e Mariana ou frequentam as cidades nos dias de trabalho (caso dos servidores) são consumidores que demandam bens e serviços quase que o ano todo. Portanto, com a paralisação total desse importante setor educacional em virtude da pandemia, o impacto na economia nos dois municípios é ainda maior do que aquele já conhecido e experimentado nos períodos de greves dos servidores. Comércios como os de alimentação e de bebidas, e serviços como transporte público, lazer e entretenimento estão sendo afetados fortemente.

Considerando-se apenas os 7.700 estudantes de graduação “forasteiros” da UFOP e do IFMG e estimando-se um gasto médio mensal por aluno de R$ 600,00, a economia de Ouro Preto está sofrendo uma perda aproximada de R$ 4.620.000,00 por mês. Mariana, por sua vez, acumula perdas de R$ 1.320.000,00 mensais. Pelas notícias veiculadas, o ensino presencial nas duas instituições federais só deve retornar no início do primeiro semestre letivo. Até lá, resta contabilizar os prejuízos e manter a sobrevivência com a ajuda social dos governos federal, estadual e municipal, além da solidariedade humana e das empresas e também muita criatividade.

O outro setor diferenciado da economia da região é o turismo. Responsável por uma cadeia diversificada de serviços, a atividade turística é muito intensa em Ouro Preto, seguida de Mariana e em menor escala, Itabirito. Por se tratar de um dos 65 destinos indutores do turismo no Brasil, Ouro Preto tem a responsabilidade de fomentar ainda mais este setor na economia da região. Portanto, dado o potencial turístico da região, cabe aos políticos, administradores públicos e empresários, em especial de Ouro Preto, liderarem uma ampla discussão sobre a retomada dessa atividade, fortemente afetada pela pandemia da Covid-19.

É um assunto muito amplo e complexo que será tratado no próximo texto, principalmente porque os especialistas do setor ainda têm muitas dúvidas sobre como retomar essa importante atividade.

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