Apesar da ampliação de leitos, não há vagas de UTI na Região dos Inconfidentes

Lotação pode adiar retomada econômica na região.

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Arte: Mariana Paes

De acordo com a nota técnica nº135 da Prefeitura de Mariana, os leitos de UTI da Santa Casa de Misericórdia de Ouro Preto, hospital de referência para casos graves de Covid-19 da Região dos Inconfidentes, estão com 100% de taxa de ocupação. O índice é um critério importante para a progressão ou regressão de ondas no plano Minas Consciente, do governo estadual.

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Quanto custa uma UTI? De acordo com os dados da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a implantação de um leito de UTI custa cerca de R$ 180 mil, o valor é irrisório se comparado aos custos de manutenção dos leitos, entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil por dia. Além dos custos, limitações de espaço físico e dificuldades em encontrar mão de obra qualificada são alguns dos gargalos para a ampliação da oferta desse tipo de serviço.

Hoje, existem 23 leitos de UTI para servir às cidades de Mariana, Itabirito e Ouro Preto. Desses, 13 são exclusivos para o tratamento de casos suspeitos e confirmados de coronavírus. Os outros 10 leitos são voltados para as demandas cotidianas da saúde. Marco Antônio Félix, Secretário Municipal de Saúde de Itabirito, esclarece sobre a necessidade da divisão entre leitos de uso geral e leitos específicos para o tratamento da Covid-19: “Precisamos entender que o risco de contaminação é muito grande, imagine você manter um paciente infartado do lado de um paciente com Covid? Por isso é necessário ter áreas separadas e equipe diferente para cada ala para evitar a contaminação dos outros pacientes”.

Os leitos de UTI são estruturas fundamentais para o enfrentamento da pandemia de Coronavírus. A contaminação pode ser assintomática, o que possibilita o controle dos infectados em casa. Mas, não raro, pacientes evoluem para quadros mais graves, quando os sistemas cardiorrespiratório e neurológico podem ser afetados, o que demanda esse tipo de internação.

Marcelo Gonçalves de Oliveira, provedor da Santa Casa de Ouro Preto, afirmou em coletiva de imprensa na última segunda-feira (27) que, para a manutenção dos 13 leitos de UTI, o hospital precisa de 80 profissionais. Além disso, o atraso de repasses de verbas federais, estaduais e municipais colocou o hospital em uma situação financeira preocupante.

Para Tiago Alvarenga, diretor administrativo do Hospital Monsenhor Horta, a contratação de profissionais da saúde também passa por dificuldades na região. Estamos com um problema que acredito ser geral que é a contratação de profissionais da área de enfermagem, tanto de técnicos quanto de enfermeiros”, afirma.

Sobrecarga no sistema de saúde

Paulo Xavier, Secretário Municipal de Saúde de Ouro Preto, reconhece o aumento dos casos na região e defende a importância do trabalho em conjunto entre os gestores para contornar a crise. Nossas equipes, nos três municípios, têm se mantido alertas e temos atuado conjuntamente, visando superar eventual crescimento e buscando novas alternativas, como a ampliação de novos leitos”. Paulo também destaca a importância dos leitos de retaguarda para os casos leves e moderados e evitar a sobrecarga hospitalar.

Leitos construídos na policlínica de Mariana para o tratamento da Covid-19 aguardam pacientes - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

Cada município adotou suas próprias estratégias para enfrentar a eventual ausência de leitos de UTI. Danilo Brito, Secretário Municipal de Saúde de Mariana, esclarece que pretende ampliar os leitos de UCI na cidade. Tais leitos possibilitam entubar os pacientes temporariamente enquanto aguardam leitos especializados para o tratamento. Em Ouro Preto, leitos semi-intensivos compõem a estrutura de retaguarda para casos moderados ou graves em situações extremas. Já em Itabirito, além de seis leitos com respiradores, a estratégia foi alugar ambulâncias para estabilizar o paciente nessa situação.

Sobre a locação de ambulâncias para tentar contornar o problema da falta de estrutura na cidade de Itabirito, o secretário Marco Antônio justifica a iniciativa pela emergência. Essa situação nos preocupa muito, né? Tínhamos 10 leitos e eles foram ocupados, passamos para 13 e eles estão ocupados, então é uma situação de guerra. Para onde eu vou mandar os pacientes? Então montamos essa estrutura com as ambulâncias em caso de necessidade enquanto a gente procura leitos para a transferência”.

Segundo Tiago Alvarenga, o processo de transferência de pacientes graves com a ausência de leitos de UTI na região, é: “colocar a demanda no sistema SUSfácil. Caso haja algum hospital capaz de receber o paciente, ele é transportado para onde tenha leito disponível, geralmente BH ou Ouro Preto, mas pode ser encaminhado para qualquer outra região de Minas”.

Em Belo Horizonte, a taxa de ocupação de UTIs para o tratamento específico da Covid-19 beiram o esgotamento, com taxas superiores a 90%, apesar de sucessivas ampliações no sistema. No estado, a taxa de ocupação de UTIs é de cerca de 70%. Entretanto, não há discriminação entre os leitos gerais e específicos para Covid-19, o que dificulta saber a real capacidade para o enfrentamento da doença em Minas Gerais.

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Minas Consciente

Na última semana, o comércio de Mariana foi proibido de abrir as portas. Após decisão liminar da Justiça mineira, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), toda flexibilização comercial no estado fica subordinado ao Minas Consciente. A medida foi recebida com protestos pelos comerciantes, que mesmo com a proibição, mantiveram boa parte dos negócios abertos. Com a obrigatoriedade da participação no programa, a cidade deve se juntar a Ouro Preto e Itabirito que já haviam aderido.

Manifestação de comerciantes no último dia 21 em Mariana - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

Por enquanto, o programa divide as atividades econômicas em quatro “ondas” (onda verde – serviços essenciais; onda branca – primeira fase; onda amarela – segunda fase; onda vermelha – terceira fase). As atividades são liberadas progressivamente, levando em consideração indicadores de capacidade assistencial e de propagação da doença por macrorregião de saúde. Ainda hoje, o programa deve passar por modificações e as expectativas são a mudança da referência de macrorregiões para microrregiões e a criação de outras ondas intermediárias. As ondas foram criadas a partir de uma matriz de risco, que leva em conta aspectos econômicos e aspectos relacionados ao impacto das atividades na rede assistencial de saúde.

Portanto, a lotação dos leitos de UTI na região, caso se mantenha, pode ser um fator decisivo para a flexibilização ou não das atividades comerciais.

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