O Barão da Mineração

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A história da mineração em escala industrial em Minas Gerais deve muito a um alemão radicado no Estado.

Wilhelm Ludwig von Eschwege nasceu a 10 de novembro de 1777, na localidade de Aue, perto da cidade que deu o nome à sua família, Eschwege, no condado de Hessen-Cassel, hoje parte do Estado Federado do Hessen, Alemanha. Filho de família aristocrática, destinado à carreira militar, estudou na Universidade de Göttingen (1796-1799), tendo sido contemporâneo de Georg Heinrich von Langsdorff. Em Marburg teve contato com a engenharia de minas, e tornou-se consultor em Clausthal e Richelsdorf, em 1801.

Foi aluno de Abraham Gottlob Werner (1749-1817), o fundador da moderna mineralogia. A sua curiosidade intelectual levou-o a adquirir a formação académica eclética, característica da intelectualidade europeia do século XIX. Estudou direito, ciências naturais, arquitetura, ciência e economia política, economia florestal, mineralogia e paisagismo.

Em 1803, Eschwege chega a Portugal, país onde permanece até 1810, ocupando o cargo de diretor de minas. Da sua experiência em Portugal, e das viagens de prospecção que empreendeu por todo o país, recolheu informação geológica e paleontológica, além de informação sobre técnicas de mineração e de administração das minas em Portugal e nas colónias, que lhe permitiram iniciar a publicação de diversas obras de caráter científico e integrar uma rede intelectual abrangente, que incluía, entre outros, sumidades como Goethe, Karl Marx e Alexander von Humboldt.

Com a chegada da família real no Brasil, em 1808, fugindo do exército de Napoleão. Dom João VI determina a contratação de naturalistas e engenheiros estrangeiros para o estudo da mineralogia do país, com o propósito de se desenvolverem novas técnicas de extração do metal precioso. Neste contexto, em 1810, chega em terras brasileiras Wilhelm Ludwig von Eschwege, conhecido entre os mineiros como o Barão de Eschwege. Ele veio para reanimar a decadente mineração de ouro e para trabalhar na nascente indústria siderúrgica. Foi ainda encarregado do ensino das ciências da engenharia aos futuros oficiais do exército.

No Brasil foi diretor do Gabinete de Mineralogia do Rio de Janeiro. No mesmo ano Eschwege iniciou em Congonhas do Campo, Minas Gerais, os trabalhos de construção de uma fábrica de ferro, denominada “Patriótica”, empreendimento privado, sob a forma de sociedade por ações. Em 1811 sua siderurgia já produzia em escala industrial.

No ano de 1812, em Itabira do Mato Dentro (atual Itabira), foi pela primeira vez extraído ferro por malho hidráulico, com a ajuda de Eschwege, que ali inovou a mineração de ouro introduzindo os pilões hidráulicos na lavra do coronel Romualdo José Monteiro de Barros, futuro Barão de Paraopeba, em Congonhas do Campo.

Por sugestão de Eschwege, o Rei Dom João VI publica em 12 de agosto de 1817, Carta Régia que apresenta os estatutos das sociedades de mineração, que estabeleciam as bases para a fundação da primeira companhia mineira do Brasil. Em 1819 é criada a primeira companhia de mineração, por Eschwege – a Sociedade Mineralógica – para explorar o ouro da mina de Passagem, em Mariana, primeira empresa de mineração do país.

Nos campos da geologia e da mineralogia, empreendeu viagens de exploração das quais resultou uma vasta obra escrita de pesquisas geológicas e mineralógicas. Foram importantes suas expedições de exploração científica aos estados de São Paulo e Minas Gerais, o primeiro a assinalar a presença de manganês.

Em 1833, escreveu o tratado sobre Mineração no Brasil chamado Pluto Brasiliensis – publicado na Europa –, primeira obra científica sobre a geologia brasileira.

Com Francisco de Borja Garção Stockler, teve papel importante na estruturação do ensino nas áreas da matemática e da física na Academia Militar do Rio de Janeiro, criada por carta régia de 4 de dezembro de 1810, que iniciou atividades a 23 de abril de 1811, e é uma das instituições antecessoras da atual Academia Militar das Agulhas Negras e a primeira escola de engenharia no Brasil.

O Barão de Eschwege fez diversas viagens a países europeus como França e Inglaterra, assim como à sua Alemanha natal. Regressou a Portugal por diversas vezes, onde se tornou sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e foi agraciado pelo rei D. João VI com a ordem militar de São Bento de Avis. Em 1850 regressou ao seu país natal o “português”, como o barão era chamado no seio da sua família. Eschwege faleceu na cidade alemã de Kassel-Wolfsanger, em 1º de fevereiro de 1855.

O Barão de Eschwege residiu em Mariana no período da implantação da Sociedade Mineralógica em passagem de Mariana. Pelos registros sua moradia localizava-se nas cercanias do Bucão (Hoje Bairro das Cabanas). Atualmente, a região é chamada de Bairro Cabanas do Barão, pois no local onde havia a fazenda do Barão de Eschwege foi construído, em 1978, um hotel chamado “Cabanas do Barão Inn”. Este hotel possuía chalés para hospedagem e um restaurante com shows noturnos. Posteriormente o hotel foi demolido e houve por parte do poder público a criação do bairro, que ganhou o nome do hotel. Eschwege é outro nome esquecido ou desconhecido pela população de Mariana, mas nos campos da mineração, siderurgia, arquitetura, militarismo e matemática contribuiu muito para formação do nosso país.

Aquele que não conhece sua história, está fadado a repeti-la.

(*) Cristiano Casimiro dos Santos é editor da Revista Mariana Histórica e Cultural

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