Entrevista Primaz - Jô Marçal: "O Hip-Hop me formou como pessoa"
Jordânia trata de assuntos como racismo, produção cultural e empreendedorismo.
- Lui Pereira
- 17/08/2020 às 14h
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Jéssica Jordânia Marçal Machado ou Jô Marçal, é licenciada em história pela Universidade Federal de Ouro Preto (2017). atualmente cursa bacharelado em história e é mestranda do Programa de Pós-graduação em História, também da UFOP.
Jô é gestora, produtora cultural e musical na Nossa Firma de Preta e integra o coletivo Batalha das Gerais e ainda o coletivo negro Braima Mané. jô é idealizadora e produtora dos movimentos culturais Sarau Invasor e Batalha das Gerais e, entre 2014 e 2017, organizou a Calourada Preta da UFOP.
Confira alguns trechos da Entrevista Primaz com Jô Marçal a seguir e assista (ou ouça) a íntegra da entrevista acessando os links.
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“Entrei na universidade em 2012, há oito anos. De lá pra cá muita coisa já mudou nesse espaço, mas tinha um estranhamento em relação à nossa corporeidade, nossa comunicação. No decorrer desse tempo vimos mudanças, ainda insuficientes, mas percebemos mudanças”
“A gente ainda tem uma visão muito eurocentrada na academia né? Então as discussões dentro da sala de aula, por vezes traziam uma outra perspectiva, com uma base de autores que não eram conhecidos por essas pessoas, então havia um embate”
“Entre todos os eventos que aconteciam dentro da UFOP, (com a Calourada Preta) a gente conseguia trazer a comunidade para dentro da Universidade e não qualquer comunidade, uma comunidade jovem, negra e periférica.”
“As festas centrais em Mariana ainda tinham algumas características muito engessadas, tinha muita festa de rock, mpb, algumas coisas experimentais. E com o nosso envolvimento na Batalha das Gerais, a gente já conhecia os artistas de rap e de funk, mas a gente nã o tinha isso acontecendo no centro, ai um dia o Gustavo (Djonga), me ligou e falou, vamos fazer uma festa? Foi onde nasceu o Arrasta, no Sagarana, o que até onde eu sei foi uma coisa inédita em Mariana. Foi daí que surgiu a ‘Nossa Firma de Preta’ “
“Eu acho o Sagarana um espaço muito interessante e enriquece muito a cidade quando se pensa culturalmente, mas que muitas pessoas da cidade ainda não tinham tido acesso ao espaço. Então foi muito massa ver que algumas pessoas passaram a ter acesso (com a produção cultural da Nossa Firma de Preta) àquele lugar”
“A cultura é uma coisa que não dá pra parar, não dá pra não fazer acontecer, o que a gente precisa é de agentes para movimentar isso né? Então o problema nem é tanto espaço, são os agentes e as negociações pra isso acontecer.”
“Temos um excesso de informação, mas o acesso à comunicação de uma forma qualitativa para gente usar isso dentro das comunidades, com nossas crianças, é fundamental para atingirmos isso (comunicação) direito né?”
“Tudo o que eu faço gira em torno de se pensar a música, a cultura de maneira geral né? E acho que isso vem muito da minha formação pessoal, da minha formação familiar, academica, mas muito do que construí enquanto consciencia crítica, pessoal e evolução como pessoa, tem a ver com a minha formação no Hip-Hop. Por isso, muito por isso, mas não só, eu penso que a música é minha lição de vida, a música é muito do que eu sou como pessoa.”
“O processo de reconhecimento do racismo é muito simples, mas o processo de se reconhecer como racista é mais complicado”
“Todas as pessoas que colocam #blacklivesmatter no Instagram vão deixar de ser racistas? Não, mas existe para quem está realmente disposto a criar uma autocrítica, existe esse espaço da escuta, e isso não tem nada a ver com as pessoas brancas repensarem o meu lugar como pessoa preta, mas elas repensarem os seus lugares como pessoas brancas, entende?”
“Eu acho que já aconteceu tanta coisa em proporções parecidas com a que vivemos hoje em outros momentos históricos. Acho que a principal diferença pra hoje é a quantidade de registros que temos acesso e toda história tem várias versões, então a história vai ter também essas várias perspectivas. Sobre isso de pensar como o historiador vai narrar esse momento para as gerações futuras eu acho que é só um meme mesmo.”
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