Região dos Inconfidentes - Pandemia e Turismo

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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Nos três últimos  textos que escrevi para a Agência Primaz enfoquei as características, os desafios e as potencialidades da região dos inconfidentes frente à pandemia do coronavírus. Dentre as características destaca-se a atividade turística, de forte impacto no setor de serviços, geradora de emprego e renda para trabalhadores assalariados, autônomos, micro, pequenos e médios empresários. Ou seja, uma atividade importante para a região que foi atingida duramente pelos efeitos da pandemia.

Desde que os primeiros casos de covid19 foram confirmados no Brasil, o turismo teve suas atividades imediatamente paralisadas.  Em parte, pelo pouco conhecimento da doença, que assustava pela alta letalidade em países como Itália e Espanha. Também, pela falta de testes que pudessem certificar a real situação de contaminação em cada região. Todas as incertezas levaram os envolvidos no setor turístico a afirmarem que com a pandemia “o turismo seria o primeiro a parar e o último a retomar suas atividades”. 

De fato, o turismo na região dos inconfidentes paralisou quase que totalmente a partir de março, quando a pandemia no Brasil começava a mostrar números mais elevados nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Minas Gerais, responsável por aproximadamente 40% dos visitantes em Ouro Preto, só passou a notificar um número mais significativo de contaminados a partir de junho. E agora, em agosto,  ainda estamos em alta. Ou seja, a pandemia está sendo muito prolongada em nosso Estado, consequentemente, também a paralisação das atividades econômicas. Vamos com calma. Não defendo que deveríamos ter iniciado o isolamento social mais tarde nem que ele fosse menos rigoroso. A gestão adotada evitou um número maior de óbitos e um colapso  do sistema de saúde. Basta comparar os números relativos de contaminados e mortes com os de outros estados brasileiros. Se a afirmativa de que a atividade turística é a primeira a parar e a última a retornar estiver correta, no nosso caso, pela evolução da pandemia, o turismo sofrerá ainda mais. Digo isto porque os destinos concorrentes largam na frente na captação dos visitantes, ávidos por sair de casa, nem que seja para um destino próximo e por pouco tempo. Ou seja, paulistas e cariocas, responsáveis por 15% e 13% dos turistas de Ouro Preto, deverão procurar localidades mais próximas e não a nossa região, mais distante e ainda com a pandemia em alta. Talvez procurem até destinos turísticos mineiros como Monte Verde, Estâncias Hidrominerais e mesmo Tiradentes, dependendo da evolução dos casos da pandemia.  Estrangeiros, então, que representam aproximadamente 12% de nossos turistas, nem pensar. Se no momento já somos considerados persona non grata pela América do Norte e Europa, imaginem o contrário. Não devem nos visitar por um bom tempo. Se estivermos certos em nossa análise até agora, resta ao setor buscar outras alternativas com base em algumas premissas. A mais otimista delas é a percepção de que as pessoas não estão aguentando mais ficar em casa. Querem sair para algum lugar. Mesmo sem  atrativos funcionando,  eventos ou festas. Como aquele post bem mineiro que circulou pelas redes sociais, as pessoas querem: “ver os zôto, falar com os zôto, cumê cumida dos zôto“.  Parte desse público, acredito, já estaria disposto a visitar nossa região. Mesmo com a pandemia, já se observa que a cidade de Ouro Preto e o distrito de Lavras Novas têm recebido alguns poucos visitantes. Porém é preciso identificar bem quem é esse visitante e aqueles com potencial para aumentar essa demanda. Qual o seu perfil? Quais as suas limitações e exigências para se sentir seguro em visitar a nossa região? E claro, de posse destas informações, fazer uma divulgação mais direcionada para esse público. Entretanto, a volta do turismo, quando a pandemia começar a dar sinais de regressão, trará como consequência os perigos de novos contágios. Diferentemente de outros destinos turísticos como Serra do Cipó e mesmo Tiradentes, Ouro Preto e Mariana são destinos em que o turismo convive com uma importante parcela de moradores. A despeito dos recursos que o turismo traz para a região, essa questão tem que ser tratada com muito cuidado. Se é fundamental para atrair o turista que os protocolos de segurança sanitária sejam bem estabelecidos e cumpridos pelos profissionais do setor e turistas, também a população quer ver os mesmos cuidados por parte dos visitantes para se sentir tranquila ao recebê-los.

Cabem, então, as seguintes indagações. Quem seria esse turista? Quais as suas demandas? A partir de quando os empresários do setor e o poder público estariam prontos para iniciar uma campanha de retomada do turismo na região? Como garantir segurança sanitária à população para que ela possa se sentir tranquila?

Em conversas com empresários e servidores municipais do setor de turismo de Ouro Preto, por observações e informações próprias e com base nas reflexões expostas anteriormente, arriscaria a tentar responder algumas das questões levantadas. Porém, adianto, não há qualquer rigor científico. Desconheço pesquisas neste sentido para a região, portanto são “palpites” para provocar o debate em torno do tema.  

Com relação ao perfil, apontaria para o turista nacional. Dentre estes, os visitantes de municípios mais próximos (até 250km da nossa região), viajando em veículos próprios como carros e motos. Majoritariamente casais mais jovens, com ou sem filhos menores e pequenos grupos de amigos e amigas mais jovens. Um contingente que começará a fazer viagens, e com tendência de crescimento, será o de pessoas já infectadas e recuperadas da pandemia. Estes, são muito bem-vindos, porém, de difícil identificação prévia para uma campanha publicitária. Assim também aqueles que acreditam que a doença não passa de uma “gripezinha”. Destes, “Deus nos livre”, pois dificilmente obedecerão os protocolos sanitários, colocando em risco a população e outros visitantes.

O turismo de um dia, em finais de semana, deverá prevalecer neste começo, com visitantes de localidades bem mais próximas, como, Belo Horizonte, Betim, Contagem, Santa Luzia, Nova Lima, Ponte Nova, Santa Bárbara, Ouro Branco e Conselheiro Lafaiete e outras cidades menores próximas. Como a maioria dos atrativos deverá estar fechada, estes visitantes demandarão estacionamento para seus veículos no entorno da região central das cidades, alguns poucos guias, alimentação rápida e banheiros públicos ou de algum estabelecimento comercial que esteja aberto e disponível. Buscariam basicamente passeios para registros fotográficos, turismo de contemplação e algumas compras rápidas, desde que com segurança e protocolos sanitários adequados. Neste caso, nas lojas de artesanatos, presentes e lembranças. 

Os turistas de localidades um pouco mais distantes, como Juiz de Fora, Barbacena, Ubá, Viçosa, Sete Lagoas, São João Del Rei, João Monlevade, Itabira, Ipatinga, Coronel Fabriciano e outras menores, deverão demandar hospedagem, e também alimentação de restaurantes. No caso da hospedagem, os estabelecimentos têm autorização para funcionarem com 30% da capacidade. Já os restaurantes, bares e cafés continuam fechados por determinação legal. Seria necessário, então, discutir como e quando se daria a reabertura destes estabelecimentos

É preciso, então, que as cidades da região dos inconfidentes se prepararem para essa primeira leva de turistas,  com protocolos sanitários bem definidos e fiscalizados para conquistar a confiança dos turistas, dos funcionários do setor e principalmente da população dos nossos municípios.

De nada adianta todo esforço neste planejamento se não houver investimento em marketing e uma boa divulgação da região, especialmente direcionada aos  potenciais turistas das localidades apontadas.

2020 era um ano promissor para o turismo nacional pelo número de feriados prolongados. Ainda restam pelo menos três deles, 7 de setembro; 12 de outubro e 2 de novembro, todos numa segunda-feira. Tenhamos esperança, muita criatividade, trabalho e principalmente a união de todos: setor público, empresários, trabalhadores e moradores da região dos inconfidentes para que o turismo retome suas atividades com segurança e qualidade.

No próximo texto traremos outras ideias e sugestões para a retomada do turismo na região dos inconfidentes. Até lá!

(*) Jorge Adílio Penna é Professor Titular aposentado da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e músico.

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