Mariana, Ouro Preto e Itabirito “avançam” para Onda Amarela
Mudança foi autorizada pela Secretaria de Saúde de Minas Gerais, com a consideração da disponibilidade de leitos de UTI em hospitais privados da macrorregião central do estado.
- Lui Pereira, Luiz Loureiro e Marcelo Sena
- 27/08/2020
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O estudo divulgado nesta quarta-feira (26) pela Secretaria de Saúde de Minas Gerais considera que 24% dos mineiros possuem acesso à rede de saúde suplementar, abrindo caminho para que praticamente todo o estado, exceto a região nordeste, esteja apta a avançar ou permanecer na Onda Amarela, mesmo que as condições microrregionais não sejam tão favoráveis. É o caso da microrregional composta por Mariana, Ouro Preto e Itabirito que têm seus leitos de UTI com média de 96,9% de ocupação entre sábado (22) e quarta-feira (26), cabendo aos prefeitos municipais optarem pelo indicador apontado para a macro ou microrregião.
Onda Amarela
Na faixa intermediária do Minas Consciente estão autorizados a funcionar os bares (com consumo local); auto-escolas e cursos de pilotagem; salões de beleza e atividades de estética; comércios de eletrodomésticos e equipamentos de áudio e vídeo; papelarias, lojas de livros, discos e revistas; lojas de roupas, bijuterias, jóias, calçados e artigos de viagem; comércios de itens de cama, mesa e banho; lojas de móveis e lustres; imobiliárias, lojas de departamentos e duty free; lojas de brinquedos; academias (com restrições) e agências de viagem.
“Os avanços são importantes, na medida em que todas as regiões de Minas, com exceção da Nordeste, estão agora na onda amarela. Isso se deu a partir de critérios técnicos, basicamente considerando o número de leitos da rede privada. É uma medida cuidadosa e, obviamente, qualquer avanço está sujeito a ser reavaliado”, declarou o vice-governador, Paulo Brant durante reunião do Comitê Extraordinário Covid-19, segundo a reportagem publicada nesta quarta-feira pela Agência Minas. Brant também ressaltou que a medida foi tomada de forma criteriosa e colocando a preservação de vidas em primeiro lugar.
Com dados fornecidos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o estudo realizado pela SES-MG contabilizou 46 hospitais, em 21 cidades do estado, cujos leitos de UTI são exclusivamente privados, totalizando pouco menos de 700 leitos, com 61% de ocupação. No Sistema Único de Saúde Minas Gerais conta com quase 4 mil leitos, cuja ocupação média é de 65%. Essas 21 cidades correspondem a 32% da população mineira. As mais próximas da Região dos Inconfidentes (Mariana, Ouro Preto e Itabirito) são Belo Horizonte, Betim, Nova Lima e Ouro Branco.
As informações coletadas no estudo mostram que 24% dos mineiros têm acesso à rede de saúde suplementar, colocando o estado na 3ª posição nacional. Inseridas na macrorregião Centro, com cobertura de 34% da população do estado, Mariana, Ouro Preto e Itabirito contam atualmente com apenas 13 leitos de UTI, cuja ocupação média diária nos últimos 14 dias chega a 96,7%. Esse índice chega a 56,3% no caso dos leitos de isolamento disponíveis na Santa Casa de Misericórdia de Ouro Preto. Já os leitos de clínica médica disponíveis no Hospital Monsenhor Horta, em Mariana, vêm apresentando altas taxas diárias de ocupação, com média de 77,1% nas duas últimas semanas.
O monitoramento para a progressão da onda amarela para a verde é feito durante 28 dias e pode ocorrer regressão para a faixa anterior, a qualquer momento, caso seja constatada piora do quadro de indicadores.
Onda Verde
O Plano Minas Consciente classifica eventos, museus, cinemas e incentivadores de grandes aglomerações; clubes, academias, atividades de lazer e esportivas (com protocolo padrão) e turismo em geral como serviços não-essenciais de maior risco de contágio e aglomeração, cujo funcionamento só seria possível na onda verde, ainda não considerada adequada para nenhuma das macro ou microrregiões de Minas Gerais.
Região dos Inconfidentes na Onda Amarela
O protocolo de monitoramento do Minas Consciente prevê a revisão semanal dos indicadores das macro e microrregiões que se encontram na onda vermelha. Dessa forma, pela planilha atualizada nesta quinta-feira (27), a macrorregião Centro, da qual as cidades de Mariana, Ouro Preto e Itabirito fazem parte, passará para a onda amarela a partir deste sábado (29). Entretanto, os indicadores da microrregional apontam para a manutenção da onda vermelha, sendo facultado aos administradores públicos a opção pela adesão a uma ou outra orientação.
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A Agência Primaz de Comunicação fez contatos com as prefeituras municipais das cidades da Região dos Inconfidentes e também ouviu uma especialista em infectologia para entender as mudanças decorrentes da nova situação que será vivenciada na região.
Mariana
Ainda que Mariana estivesse até ontem na onda vermelha, o que se vê nas ruas da cidade há pelo menos duas semanas é algo muito próximo do proposto pela onda amarela. Estabelecimentos não-essenciais abertos, bares e restaurantes funcionando com consumo interno, intenso fluxo de pessoas e veículos no centro da cidade são algumas dessas características.
Além disso, a cidade ultrapassou recentemente a marca de 1500 casos positivos para Covid-19. Das 14 mortes registradas até o momento em Mariana, duas aconteceram nos últimos 14 dias. A média do mesmo período apresenta um aumento de 24 casos positivos e 49 novos notificados por dia em Mariana. Entre 26 e 27 de agosto, a cidade registrou 48 novos casos de Covid-19. Já são 1594 casos positivos da doença notificados no município.
Mesmo com esses números, o secretário de saúde de Mariana confirmou que a cidade seguirá os protocolos da macrorregião e aderir à onda amarela. Curiosamente, a cidade lutou para ser analisada a partir da microrregião, composta por Ouro Preto, Mariana e Itabirito, quando foi obrigada a adotar o Minas Consciente e retroceder à onda vermelha, no final do mês de julho. Na última tabela enviada pela Secretaria Estadual de Saúde, referente ao período de 22 a 28 de agosto, a microrregião ainda não tinha sido classificada na onda amarela.
“Como em Minas está diminuindo [a Covid-19] e a nossa macrorregião é composta por 101 cidades, contando Belo Horizonte, Contagem, aumentou bastante o número de leitos. Por isso a nossa macro deu uma melhorada.” (Secretário de Saúde de Mariana)
Procuramos a Prefeitura de Mariana para saber quais ações de fiscalização foram realizadas durante a onda vermelha e o que está previsto nesse sentido para as quatro semanas de onda amarela. Por e-mail, a prefeitura informou que realiza notificações extrajudiciais por meio da Guarda Municipal e pede a conscientização da população. “A Secretaria de Defesa Social, através da Guarda Civil Municipal, está realizando as notificações extrajudiciais aos comércios que estão impedidos de abertura neste período. As notificações estão sendo realizadas inclusive nos distritos e encaminhadas à Procuradoria para remessa ao Ministério Público”.
“Estamos reforçando o patrulhamento, em especial, nos finais de semana, a fim de coibirmos as aglomerações de pessoas em espaços públicos e privados. Solicitamos a conscientização de todos neste difícil momento que temos que atravessar.” (Prefeitura de Mariana)
Perguntamos à Prefeitura de Mariana sobre uma aparente desmobilização do Comitê de Enfrentamento à Pandemia de Covid-19 na cidade e sobre a redução de informações dos dados da doença em agosto. Até o fechamento desta reportagem, não obtivemos respostas a esses questionamentos. As notas técnicas deste mês não apresentam mais os dados complementares dos óbitos ocorridos em Mariana e, desde o dia 17, também não relacionam mais sequer os casos suspeitos por gênero e idade.
Ouro Preto
O município de Ouro Preto é o que apresenta o menor número de infectados. Apesar disso, é também o que apresenta o maior número de mortes e, por consequência, tem o maior índice de mortalidade da região. De acordo com os dados desta quarta-feira (26), a cidade apresenta um índice de 4% de letalidade (número de óbitos em relação ao de casos confirmados). Em Mariana o mesmo índice é de 0,91% e em Itabirito 0,95%.
Nos últimos 14 dias, o crescimento médio diário foi de 32 novas notificações e um aumento médio de 11 casos confirmados. O período foi marcado por um grande aumento de mortes, nove no período e duas apenas nas últimas 24h.
A cidade enfrenta um surto de contaminação da Covid-19 no Lar São Vicente de Paulo e até o dia 25 foram confirmados 43 casos de contaminação de residentes da unidade e nove mortes. Entre os funcionários, 26 testaram positivo para a doença, sendo que 17 deles já retornaram ao trabalho após o cumprimento de quarentena.
Nossa reportagem entrou em contato com o secretário de saúde de Ouro Preto, Paulo Xavier e com o vice prefeito Tico Miranda, mas não conseguimos um posicionamento sobre quais medidas seriam adotadas ou quais seriam as implicações da adoção da onda amarela pelo município.
Itabirito
“O setor comercial está feliz. Mas eu, como gestor da Saúde no município, estou preocupado”. (Secretário de Saúde de Itabirito)
Com aumentos de 21,8% nas notificações e de 22,8% nos casos confirmados de contágio pela Covid-19, além de 6 novos óbitos nos últimos 14 dias, a Prefeitura Municipal de Itabirito vai optar pelo avanço para a onda amarela. Segundo o Secretário Municipal de Saúde, Marco Antônio Félix, entende as pressões recebidas dos setores econômicos do município, mas demonstra um certo receio com a nova situação: “O setor comercial está feliz. Mas eu, como gestor de Saúde no município, estou preocupado”.
Marco Antônio explica que a administração pública não tem condições de fazer uma fiscalização plena, a despeito de todos os esforços feitos. “Precisamos contar com a conscientização da população e vamos intensificar as campanhas nesse sentido”, informa. E acrescenta que a situação somente poderá ser monitorada adequadamente se os habitantes entenderem que a flexibilização proporcionada pela onda amarela for acompanhada de todos os cuidados recomendados pelas autoridades. “Se o cidadão nos ajudar a fiscalizar e fizer as denúncias de abusos, o poder público vai aplicar a legislação e advertir, multar e até cassar o alvará dos estabelecimentos infratores”, finaliza o secretário.
Em vídeo divulgado na manhã desta quinta-feira (27), Marco Antônio Félix havia feito um pronunciamento aos itabiritenses, informando sobre a mudança de onda no Plano Minas Consciente e pedindo por responsabilidade e conscientização. “O trabalho é de todos. Não compete apenas ao poder público (…) organizar essa estrutura [de combate ao coronavírus]. É preciso que cada cidadão tenha consciência de que, quando ele sai de casa, quando ele se expõe ao vírus, ele está, sem dúvida alguma, arriscando a sua vida, arriscando a vida das pessoas com as quais ele convive”, declarou o secretário.
Opinião
Conversamos também com Carolina Ali, médica infectologista e professora da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), sobre quais poderiam ser as implicações de uma ampliação das atividades comerciais neste momento na região. Para ela, “em algum momento isso teria que acontecer, a gente teme por um possível aumento de casos, mas acredito que a população vai fazer a parte dela para podermos progredir para essa próxima onda”.
Ainda de acordo com a infectologista, a progressão da onda não é necessariamente permanente e pode ocorrer, inclusive, regressão a qualquer momento para a onda anterior. Quanto à fiscalização dos comércios e a atitude dos comerciantes em manterem uma abertura maior que a prevista pelas onda vermelha, Carolina enxerga um ponto positivo. “Como boa parte dos comércios da região já estavam abertos, não acredito em uma mudança significativa nessa progressão para a onda amarela. Apesar da irregularidade, conseguimos constatar isso na prática”.
Última atualização
Pouco antes da finalização desta matéria, com a divulgação de 2 novos óbitos em Ouro Preto (Boletim Epidemiológico nº 162), chegou a 57 o número de vítimas da Covid-19 na microrregião composta por Mariana, Ouro Preto e Itabirito. O total de 3.923 casos confirmados corresponde à taxa de letalidade de 1,45% e taxa de contágio igual a 2% da população dessas cidades, considerando-se os números adotados pela SES-MG.
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