Cartas pra Mãe – Educação digital para quem?

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Mãe,

Lembra quando a senhora aprendeu a usar o Skype para conversar comigo? 

Eu fiz uma cartilha, escrita à mão, com o passo a passo para ligar o computador, achar o ícone do Skype, conectar o microfone. Tinha dias que o “computador estava teimoso” e não dava jeito. Era engolir a saudade e tentar de novo no dia seguinte. Fazer o quê? 

Agora, a senhora, professora de escola pública, está tendo que aprender tudo isso outra vez. E mais! As aulas são online. As reuniões são por Meet. Planilhas no drive. Link do Youtube. As notas dos alunos saem pelo Excel.

De repente, palavras que a senhora nem conhecia começaram a fazer parte da sua rotina – exaustiva, ao contrário do que muitos imaginam quando leem que os “professores estão de home office”.

Um professor lá do México, Mãe, que tem mais ou menos a sua idade, caiu no choro quando alguns dos seus alunos riram dele por não conseguir conectar a câmera e dar aulas online.

Relatos de professores frustrados pelas dificuldades com as tecnologias aparecem todos os dias. Para outros, o problema é ainda maior: não há recursos. Não há internet, nem computador. 

Histórias de alunos que não têm condições de assistir as aulas também são comuns. Meninos e meninas que viajam quilômetros para encontrar um sinal fraquinho de internet. Adolescentes que escutam as aulas enquanto trabalham como entregadores de aplicativos. Pais que gastam o salário de um mês inteiro pra comprar um celular antigo e pequeno: a tela pros seus filhos estudarem.

É ela outra vez, Mãe, a desigualdade de condições. De oportunidades. 

Em um país acostumado a subestimar o esforço de professores e profissionais da educação, tudo se resolve com meritocracia. “Quem quer dá um jeito”, afinal. 

Enquanto professores dão mais uma lição de luta diária, o Brasil também se torna mestre: do descaso, mais do que qualquer outra coisa.

A benção,

J.

(*) Jamylle Mol é jornalista e marianense.

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