Semana do Brasil e Black Friday: não se deixe enganar pelos delírios de consumo
- Felipe Comarela Milanez (*)
- 06/09/2020
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O comportamento do consumidor realmente não é muito fácil de se entender, principalmente quando ele se depara com algumas palavras mágicas que fazem com que entre em um modo automático de compra. Sim, você amigo leitor ou amiga leitura certamente já se deparou com algumas dessas palavras. São elas: promoção, desconto, liquidação, feirão, queima de estoque, dentre tantas outas.
No Brasil, essas palavras costumam ser utilizadas sem qualquer vinculação com a verdade. Com uma simples ida ao supermercado será possível perceber que muitos dos produtos estão em promoção, mas o preço continua o mesmo da semana anterior. Quer um exemplo? Da próxima vez que for ao supermercado dê uma olhada no setor de leite. Você certamente vai se deparar com uma placa amarela com letras vermelhas escrito “OFERTA DA SEMANA”, mesmo que o preço do leite não para de subir.
Quer outro exemplo: as propagandas das concessionárias de carros. Basta um pouco mais de atenção para perceber que se há um produto que fica em promoção o ano inteiro, ou que passa por feirões quinzenais ou mensais, é o automóvel.
Pois bem, o uso indiscriminado de termos e expressões que deveriam indicar uma oportunidade de compra para o consumidor leva a uma situação inusitada, pois o fato de um produto ser anunciado como uma oferta deve ser motivo de atenção redobrada. E isso, com o objetivo de se evitar cair em uma tradicional armadinha de consumo.
De fato, nós consumidores acreditamos na boa fé dos fornecedores, até porque, se espera que a boa fé seja um farol de orientação nas relações de consumo. Porém, infelizmente, muitos fornecedores não respeitam os seus consumidores e, a despeito de praticarem preços sem desconto real, continuam fazendo uso das “palavras mágicas” indiscriminadamente.
E se esse é um problema que nos acompanha ao longo de todo ano, ele acaba por se mostrar ainda mais capaz de causar impactos negativos sobre os consumidores quando chega a Semana do Brasil e a Black Friday.
Desde o ano passado o setor comercial definiu uma nova data de estímulo ao consumo. A despeito de já termos o dia das mães, dia dos pais, dia dos namorados, dia das crianças e natal, temos que lidar com a tal semana do Brasil e a já conhecida Black Friday.
A semana do Brasil, que ocorrerá no mês de setembro tem por finalidade criar nos consumidores a impressão de que se trata de um momento em que os produtos serão oferecidos com preços mais baixos e que, por isso, configura-se como um bom momento para exercer aquele nosso desejo de comprar alguma coisa na promoção.
Essa mesma estratégia é utilizada na Black Friday, evento importado dos Estados Unidos que ocorre no final do mês de novembro e que, igualmente, é vista como uma oportunidade para comprar os mais diversos produtos com preços mais baixos.
Pois bem, como já disse anteriormente, no Brasil, o uso dos termos promoção, oferta, liquidação e desconto não significa que determinado produtos ou serviços esteja, de fato, com preços mais baixos que o usualmente praticados. Ou seja, não se prestam a esclarecer o consumidor de muita coisa. Afinal, quem já não ouviu falar que na Black Friday é um bom momento para comprar alguma coisa que custará a metade do dobro?
Mas então, como o consumidor deve se comportar para evitar cair nessas armadilhas que o mercado prepara? O caminho não é simples e exige um grande esforço, atenção e perseverança.
O passo mais importante para ser evitar as falsas promoções e, diante de uma necessidade de consumo, adotar um comportamento de acompanhar e anotar a evolução dos preços junto aos mais diversos fornecedores. Sim, é chato e demora, mas somente conhecendo o histórico dos preços praticados pelos diferentes fornecedores é que será possível ter a certeza de que o produto anunciado na Semana do Brasil, na Black Friday ou em qualquer outro momento de promoção, esteja, de fato, mais barato.
Essa pesquisa de preços, porém, em se tratando de semana do Brasil e Black Friday precisa ser feita com alguma antecedência, de preferência de 2 a 3 meses antes.
O período de realização da pesquisa de preços deve ser maior pelo fato de que outra estratégia muito utilizada pelos fornecedores é a de aumentar o preço do produto no período que antecede essas dois eventos.
Perceba, a estratégia é ir aumentando o preço pouco a pouco, durante algumas semanas ou meses que antecedem a Semana do Brasil ou a Black Friday, para que, quando chegar o momento oportuno, o produto seja muitas vezes anunciado com um preço maior do que já foi praticado ao longo do ano. Contudo, olhando para o preço praticado nas últimas semanas, ele aparenta ser uma promoção. E é aí que, em algumas situações, o consumidor acaba pagando a metade do dobro e mesmo assim fica satisfeito, acreditando que fez um bom negócio.
Todas as ofertas e promoções são assim? Tudo que é anunciado na Semana do Brasil ou da Black Friday não representa, de fato, uma promoção real? Não, não é isso.
É sempre bom lembrar que também temos fornecedores que agem de boa fé e que respeitam os seus consumidores. Porém, a única forma de termos a certeza de que não cairemos em uma armadilha de consumo é confiar em nós mesmos, ou melhor, na nossa pesquisa de preços.
Ah, e nunca é demais lembrar, faça sempre uma avaliação se a aquisição de um produto durante a Semana do Brasil ou na Black Friday não irá impactar sobremaneira o seu orçamento familiar. Em tempos de problemas econômicos todo endividamento representa um grande risco para o consumidor.
(*) Felipe Comarela Milanez é professor do curso de Direito da UFOP e coordenador do NDCon – Núcleo de Direito do Consumidor – da UFOP
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