Entrevista Primaz - João Dumans: "O desafio  hoje imediatamente não é fazer filmes, mas resistir à essa destruição, a esse desmonte da cultura no Brasil"

Cineasta reflete sobre a atual conjuntura da arte e da cultura brasileira e nos conta um pouco sobre o seu trabalho cinematográfico e sua relação com Ouro Preto.

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Na Entrevista Primaz desta semana conversamos com o roteirista, diretor e professor de cinema João Dumans. O cineasta é diretor do longa Arábia e do média Todo Mundo Tem sua Cachaça, foi diretor assistente, roteirista e montador do Longa A Vizinhança do Tigrem diretor assistente e produtor de Os Residentes e roteirista do filme A Cidade Onde Envelheço. Os filmes possuem diversas premiação em festivais nacionais e internacionais. Arábia foi apontado pelo crítico de cinema Guy Lodge do The Guardian, como possivelmente o melhor filme da década.

Confira alguns trechos da Entrevista Primaz com João Dumans a seguir e assista (ou ouça) a íntegra da entrevista acessando os links.

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“Tem essa coisa muito interessante, especialmente nas cidades do interior onde muitas vezes os artistas não fazem muita questão de se considerarem artistas né?”

“A gente resolveu que íamos fazer três filmes, eu o Affonso e o Maurício, cada um ia ajudar no filme do outro, a gente não tinha dinheiro, os editais eram difíceis. O Affonso tinha começado a pesquisa para o Vizinhança do Tigre e esse filme foi uma escola de cinema pra gente”

“Na virada dos anos 2000, com a criação da Ancine a gente teve uma organização que a gente não tinha do circuito cinematográfico e isso estruturou o cinema brasileiro. As políticas de regionalização para a produção e distribuição de filmes feitas durante o governo Lula, priorizaram a difusão  e a democratização da cultura no Brasil nesse período.”

“Eu não acho que tenho uma carreira de cineasta, o brasil hoje mais do que nunca sequer permite isso. A história do cinema brasileiro é uma história de carreiras interrompidas, de não carreiras no cinema, de realizadores que fizeram um filme brilhante, ou um filme medíocre, ou um filme mediano, mas depois não fizeram nenhum.”

“A minha preocupação hoje não é minha carreira, mas se vamos conseguir terminar o próximo filme algum dia”

“Na montagem tem um momento em que você chega e o filme está realmente à beira de não ser realizado, à beira do fracasso. O Arábia dá uma sensaçãode um filme muito preparado, muito construído, no sentido de que a narrativa se fecha, mas ele também foi fruto de muitos vai e vens, construções e desconstruções também.”

“Em Arábia nossas referências vieram muito da literatura brasileira e pelo menos três autores foram fundamentais pra gente, Graciliano Ramos,  João Antônio e o Oswaldo França Júnior”

“Na forma como a gente trabalha, a experiência do ator, ou do não ator ou do ator não profissional, ela tá muito em jogo, vamos dizer assim, porque na forma de reagir aos ambientes, às situações, aos outros personagens, a própria energia corpo que tá ali reage de uma maneira real, de uma maneira franca, de uma maneira que não seja ilusória”

“O Estado, da mesma maneira que tem o dever e a obrigação segundo a constituição de fornecer saúde, educação e moradia para a população brasileira e de oferecer condições dignas de sobrevivência da população brasileira, no meu entender ele também tem a obrigação de fomentar e de fornecer de participar do incentivo à cultura”

“O desafio  hoje imediatamente não é fazer filmes, eu acho que hoje é pensar maneiras de resistir à essa destruição, à esse desmonte da cultura no Brasil”

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