A onda de corrupção no Brasil e "O Alienista", de Machado de Assis

“As civilizações sucumbem muito mais pelo enfraquecimento moral dos homens que as formam do que por agressões externas que as atingem”. (Michel Quoist)

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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Estamos vivendo momentos extremamente turbulentos em nosso País. Como se não bastasse a crise do coronavírus, que atinge a tudo e a todos em todos os lugares de maneira trágica e indiscriminada, temos uma outra praga endêmica relacionada à falta de moralidade e à corrupção que parece estar se alastrando de maneira assustadora por todos os lados, tanto na esfera pública quanto na privada, tanto envolvendo leigos quanto religiosos.

Há alguns dias, o mundialmente famoso médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus que, segundo a mídia, foi “o curandeiro brasileiro que tocou a vida de milhões”, foi preso e condenado a 40 anos de prisão, acusado dos crimes de estupro por mais de 300 mulheres que o procuravam para tratamento, além de falsidade ideológica, corrupção e coação de testemunhas. Na época da sua prisão, estimava-se que ele possuía um patrimônio de mais de US$ 100 milhões, entre fazendas, aviões e aplicações financeiras.

Recentemente, o Padre Robson de Oliveira, Presidente-Fundador da Associação Filhos do Pai Eterno – AFIPE e Reitor da Basílica do Divino Pai Eterno, foi acusado das práticas de organização criminosa, apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e sonegação fiscal, na Operação Vendilhões deflagrada pela Polícia Federal. De acordo com o Ministério Público, entre 2011 e 2018 a AFIPE movimentou R$ 1,7 bilhão!

Atualmente, estamos acompanhando a Operação Placebo da Polícia Federal que culminou com o afastamento do Governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel, do cargo, acusado de receber propina para a contratação emergencial e liberação de pagamentos a organizações que prestam serviços ao Estado para controle do Corona Vírus. Estima-se um desvio em torno de R$700 milhões dos cofres públicos. Segundo consta, seria uma repetição do esquema criminoso praticado pelos dois últimos governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão. Sua esposa, Helena Witzel também está sendo investigada com suspeita de participações fraudulentas.  

No momento, o Prefeito do Rio de Janeiro, Crivela, é acusado de abuso de poder político e religioso no caso que ficou conhecido como “Fala com a Márcia“, onde em um encontro com seus correligionários chamado “Café da Comunhão”, que não constava na agenda oficial, ofereceu aos cerca de 250 presentes diversas vantagens pessoais, como cirurgias de catarata, vasectomia, retirada de varizes e mesmo a facilitação no processo de isenção de IPTU dos imóveis usados por igrejas evangélicas.

E ainda, o líder máximo do País, Presidente Bolsonaro, terá que depor no Supremo Tribunal Federal contra o seu ex-Ministro, o Todo-Poderoso Sérgio Moro, que o acusou de interferências políticas nas ações contra a corrupção deflagradas pela Polícia Federal, caso que veio a público com a sua saída do comando do Ministério da Justiça. Isto sem contar que seus filhos Flávio, Carlos e Eduardo são acusados de chefe de organização criminosa, participação em esquema de “rachadinha” e ataques virtuais, com a utilização de “fake news” para atacar adversários políticos.

Ufa! Fica difícil saber deste jeito aonde vamos parar!

Diante de tal quadro, vem me à lembrança um romance de Machado de Assis denominado O Alienista, publicado em 1882. O conto apresenta Simão Bacamarte, um psiquiatra que começa a identificar sinais de demência recôndita em cada cidadão de uma cidade do interior, onde tinha montado um hospício, encarcerando-os um a um no manicômio e levando o terror à cidade. No final, praticamente todos estavam trancafiados, só sobrando ele fora do hospício. Então, em suas reflexões chega à conclusão que sua teoria estava incorreta e manda soltar todos os internos. Como ninguém tinha uma personalidade perfeita, exceto ele próprio (?), o Doutor conclui ser ele o único anormal e decide trancar-se sozinho no Hospício para o resto de sua vida.

Diante do contexto que estamos vivendo, o romance pode nos trazer uma excelente oportunidade de reflexão. Será que estamos todos contaminados pelo vírus da imoralidade e da corrupção e precisamos de um “alienista”, de uma “zona vermelha” para nos internar, nos isolar com o objetivo de passar por uma espécie de “desinfecção anti-imoralidade e anti-corrupção”? Até quando vamos viver este processo de “internação” desenfreada, parecendo uma zorra total, trazendo desordem, atraso e miséria para o nosso País?

A resposta está dentro de cada um de nós. 

Quem tem ouvidos que ouça!

(*) Júlio César Vasconcelos é Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas.

Contatos: caesarius@caesarius.com.br (31) 99345-0515

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