A Arquitetura Eclética em Mariana

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Com a chegada dos primeiros trilhos da estrada de ferro em Mariana, no início do século XX, uma nova forma arquitetônica surgia na primeira cidade de Minas. O Estilo Eclético.

Este estilo foi prontamente adotado pela classe dominante, já que bem atendia aos seus desejos e necessidades – modernidade, progresso, conforto e melhoria do padrão de vida. Os equipamentos e serviços urbanos como hotéis, escolas, lojas, casas, estação ferroviária, teatros, repartições públicas foram construções privilegiadas pelo novo estilo, que se tornou um grande modismo. A arquitetura passava a ser, naquele momento, um instrumento de demonstração de poder de uma classe social.

O pau-a-pique, o tijolo de adobe são substituídos pelo tijolo cozido, as telhas coloniais pelas francesas, o beiral pelas platibandas decoradas comumente com balaustradas, esculturas ou ‘compoteiras’. As novas tecnologias eram colocadas à disposição de construtores e arquitetos. As peças metálicas usadas na estrutura e no acabamento são de grande importância e, assim, começava a união entre indústria e arte. As peças metálicas podem ser observadas em gradis, sacadas e em outras utilidades arquitetônicas.

O estilo Eclético compreende o período que vai do final da década de 80 do século XIX à década de 40 do século XX. Presente em inúmeras construções em Mariana o estilo coincide com a revigoração econômica de Minas Gerais no final do século XIX. O Estado estava inserido na atividade cafeeira exportadora. O País estava saindo do regime Imperial e iniciado o regime Republicano, os traços do Império deveriam ser apagados pelos novos ventos da república.

Um ponto interessante, é que o aparecimento do estilo Eclético não se dá de forma ordenada no país. As cidades que possuem estações ferroviárias, caso de Mariana, recebem as novidades mais rapidamente. Além das novidades que chegam através dos trilhos, chegam também os imigrantes. Estes exerceram uma grande influência no sistema construtivo e decorativo no Brasil. No século XIX e início do XX, os construtores de origem italiana substituíram os portugueses. Os italianos também dominaram a mão-de-obra na área decorativa e foram, por exemplo, mestres na técnica do estuque, decoração e pintura que era de grande importância para o ecletismo. Em Mariana no caso do Seminário São José, um dos exemplos do ecletismo na nossa cidade é o artista Pietro Gentili, que pintou e decorou o interior da capela do Seminário.

Mário de Andrade em 1919, faz a sua primeira viagem ao estado de Minas Gerais, especificamente para visitar em Mariana o poeta Alphonsus de Guimaraens. Vem de São Paulo de trem, desembarca em Mariana e tem o primeiro contato com o barroco e monumentos, mas também com o aparecimento dos primeiros prédios da nova arquitetura. Cinco anos depois, voltaria com outro espírito, dessa vez integrando a caravana formada pelos modernistas que se destacaram na Semana de 22, entre eles Oswald de Andrade, escritor e dramaturgo, e sua mulher Tarsila do Amaral, artista plástica, acompanhados do jornalista René Thiollier, da fazendeira Olívia Guedes Penteado, do advogado Goffredo Telles e do poeta franco-suíço Blaise Cendrars. Vieram assistir às cerimônias da Semana Santa nas Gerais. O certo mesmo é que, de tão importante, o passeio histórico em abril de 1924 ganhou o nome de Viagem da Descoberta do Brasil.

“O grupo de modernistas, muitos deles de formação europeia, buscava a identidade do homem brasileiro e, paradoxalmente, foi fazer essa descoberta no nosso passado colonial, no barroco mineiro, na pedra-sabão, bem distante da faixa litorânea, num afastamento das tradições do Rio e Bahia”, conta a professora de história da arte da UFMG, Adalgisa Arantes Campos, autora do livro Arte sacra no Brasil Colonial.

A caravana passou por Belo Horizonte, Ouro Preto, São João del-Rei, Tiradentes, Mariana e Congonhas. As visitas às Minas pelos modernistas, procurando uma identidade nacional para Brasil, contribuíram muito para proteção das cidades mineiras, principalmente Mariana. Em 1936, o Modernista Mário de Andrade foi solicitado, pelo Governo Federal, a preparar um projeto para a criação de uma instituição nacional de proteção do patrimônio.

A criação do SPHAN foi de inegável importância naquele momento em que a arquitetura colonial corria risco iminente. Antes da criação do Serviço do Patrimônio, vários prédios civis e religiosos, do período colonial, no nordeste e sudeste foram colocados abaixo para a construção de prédios e avenidas.

Chamada até bem pouco tempo de “anti-arquitetura”, o ecletismo produzido no Brasil amargou a indiferença até mesmo de órgãos oficiais. O Serviço do Patrimônio Histórico não via com bons olhos a arquitetura eclética. Para eles, o verdadeiro estilo brasileiro era o colonial, abundante nas cidades históricas mineiras e nas igrejas barrocas do Rio e Salvador. Esse pensamento ajudou a construir uma visão parcial do passado brasileiro, em que não cabiam prédios ornamentados, de influência francesa.

Para o grupo, quanto menos desses prédios existisse, melhor. “Os modernistas viraram árbitros do que era bom ou ruim na arquitetura. Resgatavam o passado e diziam como seria o futuro. Para eles, a arquitetura eclética era um hiato na linha evolutiva das construções no país”, diz o arquiteto e antropólogo Lauro Cavalcanti.

Este olhar modernista para uma identidade nacional e o resgate do nosso passado colonial foram decisivos para a preservação das cidades mineiras. Os tombamentos dos sítios históricos e o reconhecimento como patrimônio brasileiro.

A Mariana do início do século passado estava em pleno desenvolvimento, o governo do republicano e presidente da Câmara Municipal, Dr Gomes Freire, trouxe ares de modernidade, com a chegada da energia elétrica, o calçamento de ruas, a exploração mineral de ouro pela Mina da Passagem e a elevação da cidade a arcebispado alavancaram um desenvolvimento que durou até o final dos anos 30 do século XX.

Assim podemos ver estes vestígios deste período em construções como: o Palácio dos Bispos (atrás da Igreja de São Pedro), o Cine Teatro Municipal, o prédio da Banda União XV de Novembro, o Seminário São José, a parte nova do Colégio Providência, a pequena caixa d água no largo de São Pedro, a Estação Ferroviária, o Correto da Praça Gomes Freire, a Escola Dom Benevides, o Noviciado das Irmãs Carmelitas , o Hotel Providência e inúmeras residências no centro histórico e no entorno da estação ferroviária, como a casa de Monsenhor Horta, perto da Igreja do Rosário, que foi construída em 1913.

Este estilo pouco observado pelos marianenses, faz parte da nossa história recente e vem perdendo vários prédios, principalmente, no Barro Preto e na região da praça JK e entorno da Estação Ferroviária. É um patrimônio de uma época distinta e diferente do barroco, mas de suma importância para nossa história.

(*) Cristiano Casimiro dos Santos é editor da Revista Mariana Histórica e Cultural

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