A Revolução dos Bichos: Reflexões e aprendizados

“Se a liberdade significa alguma coisa, será, sobretudo o direto de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir” (George Orwell)

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A “Revolução dos Bichos”, publicado na Inglaterra em 1945, é um clássico imperdível escrito por Eric Arthur Blair, mais conhecido pelo pseudônimo de George Orwell (1903-1950), escritor, jornalista e ensaísta político inglês.

O livro pode ser interpretado como uma fábula satírica sobre como o dinheiro e o poder corrompem o ser humano e nos traz uma excelente oportunidade de reflexão, principalmente nos últimos tempos, com a mídia divulgando notícias de diversos líderes que assumem o poder, quer seja nas instituições públicas, quer seja nas instituições privadas, com um discurso moralista e, infelizmente, deslumbrados com as quantias vultuosas que passam por suas mãos, acabam se envolvendo em problemas de corrupção e abuso de poder.

A história se passa em uma fazenda onde os animais se dão conta de que são cruelmente explorados e criados simplesmente para serem abatidos sem piedade (vida de gado!). Liderados por um grupo de porcos, eles então expulsam o dono de sua propriedade e assumem o poder, com a intenção de fazer dela um local respeitoso, em que todos seriam iguais, totalmente livres da opressão e do medo. O problema é que, tão logo os porcos assumem o poder, começam as disputas internas, as perseguições e a exploração do bicho pelo bicho, fazendo da granja um arremedo grotesco da sociedade humana. Protegido por cães ameaçadores, eles passam a se julgar mais importantes e sábios que os demais, mudam-se para a casa grande, onde residia o antigo proprietário e que estava lacrada e começam a governar de uma maneira cruel e ditatorial, escravizando todos os demais animais.

Com o tempo, alguns animais começaram a questionar que a vida estava pior do que antes e que estavam trabalhando mais, comendo menos e que os ideais da Revolução tinham sido esquecidos. Esses animais questionadores são então acusados de traidores, presos e condenados à morte pelos governantes.

Pouco a pouco os animais que viveram a época do antigo proprietário foram morrendo, e foi se esquecendo como era antes da Revolução. No final, com um triste e irônico desfecho, os porcos aparecem andando sobre duas patas, como os humanos, contrariando os ideais da Revolução, (“quatro patas bom, duas patas ruim”) e, finalmente, associam-se definitivamente aos humanos para o governo da fazenda.

Então, que lições podemos tirar dessa fábula? A mais famosa, evidentemente, relacionada ao contexto em que foi escrito, relaciona-se com a revolução comunista, que surgiu como uma alternativa viável ao capitalismo selvagem, onde o homem era (e ainda é) explorado cruelmente pelo Capital e acabou se transformando em uma ditadura cruel, sem resolver os problemas a que se propôs Carl Marx, seu grande idealizador. Mas outras lições ainda podem ser tiradas, tendo em vista nosso contexto atual. Nos meios políticos, governantes assumem o poder levantando em altos brados a bandeira da integridade, da competência, prometendo mudanças radicais na forma de governar. No entanto, as lições do passado demonstram que, como na fazenda da Revolução dos Bichos, passados os momentos das propagandas com os discursos inflamados, a situação permanece a mesma ou fica até pior do que a anterior. Algumas figuras dinossáuricas, pintadas enganosamente como grandes articuladores políticos, pulam de governo em governo e permanecem entrincheiradas nos píncaros do poder, fazendo politicagem e atrapalhando a gestão responsável daqueles que querem trabalhar de forma séria e estruturada. Inimigos que se atacavam frontalmente, denegrindo publicamente e reciprocamente a figura um do outro, no final se abraçam, a exemplo da triste imagem, que vai ficar para a história, do Ex-Presidente Lula apertando sorridente a mão do Maluf, amplamente divulgada na mídia em 2012. “Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão se fosse eleito para governar o Brasil”, foi a frase dele que ficou famosa, em uma alusão às alianças que andou fazendo. Troquem a frase “governar o Brasil” para “governar qualquer cidade do interior” e não será de se espantar se fenômenos semelhantes a este se repetirem por aí. Em nome do poder e do dinheiro, abraça-se até o capeta!

Nesta mesma linha, maravilhados, obcecados e contaminados pelos sete pecados capitais, um bando de empresários, executivos, trabalhadores e cidadãos comuns em busca de benesses do “toma lá dá cá” e, infelizmente, até alguns líderes espíritas e religiosos, seguem o mesmo caminho, deixando um rastro de decepção, indignação, vergonha e corrupção por onde passam.

Quiçá um dia possamos passar por uma Revolução, não com a dos Bichos de George Orwell, mas Divina, onde os homens passem a viver integralmente os princípios evangélicos e tenhamos assim o início uma nova era. Utopia?

Se cada um de nós cumprirmos nossa parte, certamente chegaremos lá. É como dizia Mário Quintana “Se as coisas são inatingíveis? Ora! Não é motivo para não as querê-las. Que tristes os caminhos, se não fora a presença distante das estrelas!” …

Quem tem ouvidos que ouça!

(*) Júlio César Vasconcelos é Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas.

Contatos caesarius@caesarius.com.br  e www.caesarius.com.br

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