Região dos Inconfidentes - Turismo de Proximidade

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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No texto publicado em 26 de setembro pela Agência Primaz tratei do Plano Nacional de Retomada do Turismo e suas relações com a atividade nos municípios da Região dos Inconfidentes. O plano foi elaborado com base no perfil do turista na retomada do setor, qual seja: turismo doméstico, com viagens mais curtas (até 200km), destinos que contemplem natureza e preocupação com a biossegurança dos turistas, prestadores de serviço e população local. A retomada teve como uma das principais ações a criação do Selo Turismo Responsável.

Na consulta ao site do Ministério do Turismo, verifica-se até a data de 21 de outubro que apenas 70 selos foram emitidos para os setores turísticos da região, sendo 36 para Ouro Preto, 30 para Mariana e 4 para Itabirito. Destes, 25 (35,7%) foram para Guias Turísticos; 18 (27,1%) Meios de Hospedagem; 13 (18,6%) Agências; 6 (8,6%) Transportes Turísticos; 5 (7,1%) para Organizadora de Eventos e Prestadores Especializados em Segmentos Turísticos e apenas 4 (5,7%) para Restaurantes, Cafeterias, Bares e Similares. Ou seja, pelo menos na nossa região, o Selo Turismo Responsável, uma das principais ações do Plano de Retomada, parece que ainda não “colou”.

Apesar de uma boa ideia, talvez tenha faltado mais divulgação, ou interesse dos prestadores, ou pior, dos turistas, que deveriam ser os mais interessados. Ou desconhecem o Selo, ou não estão mais preocupados com a pandemia do coronavírus. Chama a atenção, o fato da baixíssima adesão de dois dos segmentos turísticos mais importantes: os meios de hospedagem e os restaurantes. Entretanto, tem-se observado um certo fluxo turístico na região, principalmente nos fins de semana e nos dois feriados prolongados de 7 de setembro e 12 de outubro. Porém, ainda sem dados medidos para comparação com números de visitantes anteriores à pandemia.

Apenas a título de informação, o site do ministério do turismo apresentava no mesmo dia 21/10, mais de 23 mil selos emitidos no Brasil, sendo 2055 para segmentos turísticos de Minas Gerais, Rio de Janeiro (3411) e São Paulo (4458). Destaques para Belo Horizonte com 437 selos emitidos, Juiz de Fora (103); Capitólio (69); Poços de Caldas (64); São Lourenço (57) e Monte Verde com 46 selos. A previsão inicial do Ministério do Turismo é chegar a 50 mil selos no verão. A adesão ao Selo Turismo Responsável pode vir a ser uma boa estratégia de marketing para o turismo da nossa região, não só para os turistas de localidades mais distantes que demandam hospedagens, como para aqueles de municípios mais próximos, que deverão ser a maioria. Estes representam o chamado Turismo de Proximidade, objeto principal das reflexões desse texto.

O Turismo de Proximidade, como assim denominou o Plano Nacional de Retomada do Turismo, é representado por um perfil de visitantes que deve predominar nessa retomada, ainda com a pandemia e mesmo no início da pós-pandemia. É o turista oriundo de localidades mais próximas, viajando em veículos próprios ou ônibus, com permanência média de 1 a 2 dias nas localidades visitadas e demandando serviços como guias, alimentação, compras de pequenas lembranças, visitas a locais abertos, como praças, parques e atrativos naturais e alguma hospedagem. Como muitos dos atrativos da nossa região ainda continuam fechados almejam um turismo mais de contemplação.

Há muito defendo o turismo de proximidade para a nossa região. Apresentei a ideia para algumas pessoas e empresários do setor, resultando no projeto “Mais Ouro Preto” elaborado em 2012 pela Alltype Publicidade e Marketing Ltda. Com o objetivo de aumentar o fluxo turístico em Ouro Preto, o projeto apresentava estratégias para atingir os potenciais visitantes de municípios situados até 200km de Ouro Preto. Constituído de pesquisas de mercado nas cidades vizinhas, plano de marketing, formas de monitoramento e orçamento detalhado, o projeto baseava-se na hipótese de que muitos moradores dos municípios próximos só haviam visitado Ouro Preto por ocasião das excursões de colégios, desconhecendo o seu potencial cultural, gastronômico e natural dos dias de hoje. A proximidade e um bom plano de marketing que mostrasse os vários atrativos do município, aliado a uma diversificada programação cultural, foram apresentados como bons indutores para que estas pessoas voltassem a Ouro Preto mais e mais vezes no ano. O financiamento do projeto dependia de uma boa coordenação entre o setor público, representado pela Secretaria de Turismo e o setor privado, representado pela Associação Comercial e Industrial de Ouro Preto. À ocasião, não houve essa articulação e restou apenas o projeto.

Nos dias de hoje, o próprio Ministério do Turismo aponta para o “Turismo de Proximidade” como caminho para a retomada da atividade no país. O próprio Secretário Nacional de Desenvolvimento e Competitividade do Turismo, por ocasião do lançamento do Plano de Retomada em Ouro Preto no dia 3 de setembro, disse do potencial das cidades históricas mineiras para o segmento do turismo de proximidade.

Em 2018, quando encerrava o meu mandado de Presidente do Conselho Municipal de Turismo de Ouro Preto, fiz um levantamento da população dos municípios distantes até 250km de Ouro Preto e que poderiam representar o potencial do turismo de proximidade.

Com base no Censo de 2010 do IBGE e considerando municípios de até 40.000 habitantes encontrei os seguintes dados: 18 cidades distam até 140 km de Ouro Preto, totalizando 5.196.735 pessoas, sendo 4.768.455 de 11 municípios da Região Metropolitana, incluindo BH, e mais 426.280 de outras 7 regiões. Expandindo para municípios distantes até 250 km encontramos mais 2.340.067 pessoas em 16 municípios. Ou seja, estamos falando de um contingente estimado para 2020 de mais de 8 milhões de pessoas. Na sua maioria, 5,5 milhões, distantes até 140km de Ouro Preto, podendo alcançar a Região dos Inconfidentes em 2 horas ou pouco mais, viajando em veículos próprios. Outra grande vantagem é a concentração em Belo Horizonte e Região Metropolitana, o que facilita muito uma campanha publicitária. Completam o levantamento, as datas de feriados municipais de cada cidade pesquisada. Este é o potencial da região com relação ao turismo de proximidade. Entretanto, independente da pandemia, é preciso cativar esse turista com oferta de atrativos com boa sinalização, conservação, receptividade, acessibilidade e qualidade dos serviços para que ele sinta vontade de retornar. Apesar da quantidade e diversidade de atrativos que a região oferece, é necessário um bom plano de marketing para que os potenciais visitantes tenham conhecimento. Além das condições citadas anteriormente é fundamental que se ofereça uma permanente programação cultural e uma boa gastronomia.

O potencial turístico da região é enorme, mas é preciso investir ainda em muitos itens, como acessibilidade, mobilidade urbana, sinalização turística estacionamento, receptividade, monitoramento do fluxo turístico, qualificação profissional e campanhas publicitárias.  Isto só será possível com a união das três administrações municipais e os empresários do setor, tendo à frente uma coordenação eficiente que possa aglutinar estes atores para buscar também apoio nos governos estadual e federal. Neste sentido, duas das grandes ações seriam a duplicação da Rodovia dos Inconfidentes e a propalada volta da linha férrea entre Belo Horizonte e Mariana.

No próximo texto apresento algumas ideias de novos atrativos e eventos culturais para a região.

(*) Jorge Adílio Penna éProfessor Titular aposentado da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e músico.

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