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Hoje é sexta-feira, 20 de setembro de 2024

“O Gambito da Rainha” e “Era uma Vez um Sonho”: sucesso e decepção na Netflix

Final de ano é repleto de surpresas. Isso vale também para o catálogo da Netflix. Como as opções são muitas, me reservo ao direito de um texto diferente dos demais até aqui, com dois comentários sobre obras que podem valer a pena para o seu começo de festas!

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O Gambito da rainha, série da Netflix

Ouça o áudio de "“O Gambito da Rainha” e “Era uma Vez um Sonho”: sucesso e decepção na Netflix", de Kael Ladislau:

O Gambito da Rainha

A série, inspirada em um livro de Walter Tevis publicado em 1983, nos apresenta Beth Harmon, uma jovem órfã que, após um trágico acidente automobilístico da mãe, vai viver em uma casa para meninas em mesma situação.

Driblando o rígido controle de suas supervisoras, Beth aprende xadrez observando o zelador do local, às escondidas, e começa a desafiá-lo. Impressionando o mentor, ela desperta também a curiosidade de outros jogadores.

Com um dom único para o jogo e com uma ótima memória, Beth, interpretada por Anya Taylor-Joy, é adotada enfrentando resistências para entrar, de fato, no machista mundo dos torneios de xadrez.

Impressionando com o talento, ela não tem dificuldades para ganhar de grandes nomes locais até, enfim conquistar fama. Obviamente, esse trajeto é cheio de percalços, com a protagonista enfrentando vícios com drogas, como tranquilizantes e o álcool.

Não é à toa que “O Gambito da Rainha” está há um mês entre os mais assistidos da Netflix. Se Anya dá vida a uma personagem forte, enigmática e marcante, o roteiro não fica pra trás. Linear, ele cativa o espectador a seguir a jornada de Beth até o seu maior desafio: o de enfrentar o campeão mundial de xadrez, que é russo. Aí, talvez, seja um pequeno ponto fraco da série, que teima em colocar o clichê da rivalidade EUA x Rússia na trama, mesmo que justificado pelo contexto da Guerra Fria.

Ainda assim, nada que estrague a bem-feita produção que, a princípio, deveria ser um filme, dirigido por Heath Ledger, ator do aclamado Coringa de “O Cavaleiros das Trevas”. Com sua morte, em 2008, o filme foi engavetado e recuperado, agora, por Scott Frank, roteirista de “Logan” e da ótima série da Netflix “Godless” (aliás, uma baita indicação).

Tudo isso para dizer que “O Gambito da Rainha” tem muito mérito em estar quebrando recordes de audiência no Streaming. Se você gosta de xadrez, é quase uma obrigação assisti-la. Se não for, certamente você sairá mais curioso a respeito do Jogo.

Era uma vez um sonho

Não dá pra ignorar o fato que bons filmes começam a aparecer essa época do ano que, normalmente, ganha a atenção de grandes jurados de prêmios de cinema. Agora, com a pandemia da Covid-19, a Netflix e outros grandes streamings ganham protagonismo para serem a plataforma de lançamento dessas obras.

E uma que certamente tem ganhado a atenção da crítica e do público é “Era uma vez um sonho”. Essa atenção pode ter a ver por duas de suas protagonistas: Amy Adams (de filmes como “A Chegada”) e Glenn Close (veterana de clássicos como “Atração Fatal”).

Mesmo com as duas estrelas em cena, Era Uma Vez Um Sonho foca da história de J. D. Vance (Gabriel Basso, quando mais adulto e Owen Asztalos, quando mais novo), desde o interior do estado de Ohio até chegar à faculdade de direito em Yale. Essa história é contada por flashbacks entre a vida adulta de J. D. e a sua fase de adolescência, quando já vivia com problemas com a mãe, Bev (Amy), e o convívio com a avó, Bonnie (Glenn).

As expectativas com o filme também tem, em partes, a ver com a direção: Ron Howard é recorrentemente aclamado por contar biografias nas telas, como “Uma Mente Brilhante”. Mesmo com filmes não tão bem recebidos assim como “Han Solo”, da franquia Star Wars.

Contudo, as idas e vindas do filmes entre a viagem de J. D. de Yale até Ohio para dar atenção a sua mãe, internada por overdose, e pontos entre a sua juventude, não permite que as duas personagens femininas se desenvolvam tão bem. Nem mesmo o personagem principal.

Em determinada cena, J. D. discute com um importante advogado em uma entrevista de emprego, por causa do uso da palavra “Jeca” (em tradução livre) ao se referir a sua família e o seu estado de origem (Ohio). Porém, o próprio filme não permite que as personagens se desenvolvam mais do que duas pessoas do interior dos EUA, fazendo com que elas sejam severamente caricatas.

As atuações são ótimas e isso é inegável. Certamente tanto Glenn quanto Amy estarão (mais uma vez, diga-se) no radar de grandes premiações, com forte chances de ganharam um prêmio compensatório, já que as duas são esnobadas principalmente no Oscar. Porém, o público pode sentir falta de descobrir mais sobre aquelas mulheres. Aliás, não só.

A construção de J. D. não fica atrás. De um aborrecente a um estudante dedicado, com um ponto e virada muito enfático, não permite conhecer mais um processo do amadurecimento da pessoa. Apenas ele viu que a sua avó se esforçava para criá-lo, enquanto sua mãe mergulhava na vida errática, e resolveu ser uma pessoa melhor. Fim. Não é tão simples assim na vida, sejamos francos, ainda que, vale destaque, o filme seja baseado em uma história real.

Ainda que seja um filme de pouca profundidade, vale a pena se você for uma pessoa apegada a dramas familiares e que não mostra uma vida como as propagandas de manteiga na TV. Não é um filme que alcança a expectativa alta que se criou, mas também não é algo completamente descartável, ainda mais se falarmos de Glenn Close e Amy Adams em cena. Confira por si mesmo. Acabou de estrear na Netflix e deve gerar, ainda, muito barulho. E estar presente nas premiações americanas (para o bem e para o mal).

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Kael Ladislau é Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
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