Angelo Oswaldo: “Lutaremos para que Ouro Preto seja reconhecido como município atingido”

Prefeito reforça a necessidade do diálogo com as mineradoras e Fundação Renova, propõe mudanças nas estruturas administrativas da cidade e pretende rever o contrato com Saneouro.

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Em entrevista exclusiva para a Agência Primaz, Angelo Oswaldo revela detalhes da transição do governo - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

Em entrevista exclusiva para a Agência Primaz, o prefeito eleito em Ouro Preto, Angelo Oswaldo, conta como foi o processo eleitoral, fala sobre sua rivalidade com o atual prefeito Júlio Pimenta e revela os nomes dos primeiros secretários escolhidos para compor o governo municipal a partir de 2021. Angelo revela ainda como serão os novos arranjos pensados para algumas secretarias sob o seu governo.

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Na última quarta-feira (16), a equipe da Agência Primaz entrevistou o futuro prefeito de Ouro Preto. Angelo Oswaldo revelou com exclusividade à nossa equipe as dificuldades de comunicação entre a administração atual e sua equipe de transição para a disponibilização de informações sobre a prefeitura. O prefeito eleito fez duras críticas à atual gestão e, para ele, sua eleição foi resultado de uma frente de resistência em oposição à máquina criada nos últimos 4 anos. 

Eleições

Questionamos o prefeito eleito sobre quais os indícios sustentam as acusações de corrupção praticada pelo atual prefeito. Para Angelo, os asfaltamentos ocorridos nos últimos meses na cidade merecem ser investigados. “Houve um empréstimo de 45 milhões de reais, 45 dias antes das eleições e sem licitação. São adesões de atas em valores muito altos, isso gera uma preocupação grande para os gestores públicos e para as pessoas que sabem o que é uma administração pública. Teve asfaltamento de áreas particulares, áreas privadas. Em diversos locais você vê que asfaltaram garagens, vias de acesso internas, todo tipo de arbitrariedade. Todos sabem que há indícios graves de irregularidades na prefeitura, isso é fato corrente em Ouro Preto”, afirma.

Angelo fala sobre as ameaças que recebeu durante o processo eleitoral que, segundo ele, vieram de pessoas próximas a Júlio Pimenta. O futuro prefeito explica: “Houve muita pressão, não só contra minha pessoa, dizendo: ‘ele vai ver’,  ‘ele que se cuide’, toda hora eu recebia um recado dessa natureza. ‘Ele está brincando’ ou ‘não é por aí, tem que retirar a candidatura’. Várias vezes esse tipo de recado chegou, ficou no ar isso. Várias companheiras e companheiros nossos, muitos funcionários da prefeitura receberam pressões terríveis. Houve até pedidos para que funcionários da prefeitura colocassem avatares da campanha (de Júlio) no telefone celular,  para colocar mensagens no Facebook, no Instagram. Pressões terríveis contra familiares dos funcionários.”

Em entrevista concedida para a repórter Nathália Souza, o então candidato à prefeitura de Ouro Preto afirmou ter encaminhado o nome de Júlio Pimenta para a Polícia Federal, para o caso de “ele tentar alguma coisa contra minha integridade física”. Ao ser questionado sobre as motivações dessa iniciativa, o prefeito eleito foi enfático: “Nós temos casos em nossa região, o ex-prefeito João Ramos foi executado em uma eleição por um cidadão, candidato que tinha o interesse que ele fosse eliminado. Então, o exemplo está aqui, uma pessoa de nosso tempo que foi prefeito de Mariana por diversas vezes, João Ramos Filho. Com base nesses indícios e nesse caso já ocorrido na nossa região, eu comuniquei às autoridades. Eu disse o seguinte: “ Se acontecesse alguma coisa comigo, o mandante seria descoberto mais rápido do que encontraram o mandante de João Ramos”, explica.

Em mais um exemplo de como a “máquina” teria frustrado alguns planos de seu partido, Angelo Oswaldo exemplifica: “Durante as eleições, muitas candidatas a vereadora de nosso partido (PV) foram assediadas para desistir da candidatura, pois com cada desistência de candidata, tem que sair dois homens da disputa, pela regra da proporcionalidade. Nós perdemos muitas candidatas, nosso partido só teve 13 candidatos a vereador, podíamos ter tido 23 candidatos a vereador e não conseguimos ter”.

Por outro lado, o prefeito eleito vê grande sucesso na campanha eleitoral. “O resultado mostrou a posição firme e consistência do eleitorado ouropretano, houve uma pressão tremenda sobre os eleitores na cidade e nos distritos, quase um rolo compressor montado pela prefeitura municipal. No entanto, os eleitores se mantiveram firmes na posição que já era anunciada por pesquisas, sondagens e conversas. A política é muito sentida na rua, você ouve na rua e percebe para onde a política está soprando. Tudo era favorável para a nossa candidatura desde o início, por isso eu aceitei essa convocação, esse chamamento”, se orgulha.

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Transição de Governo

Quanto à atual situação da prefeitura e como estaria acontecendo o diálogo entre o atual prefeito e a equipe de transição, Angelo reclama da pouca comunicação e resistência da atual gestão em disponibilizar informações sobre como está a situação das contas do município. “O que nós apuramos até agora corresponde àquilo que já imaginávamos. A prefeitura está completamente desorganizada, desestruturada, inchada, com grande número de contratados, com muitas nomeações para cargos e funções. É uma máquina hoje pesada, ineficiente e não tem programa, então realmente nós vamos começar do zero, vamos fazer um levantamento da situação, reorganizar a casa e depois nós vamos ver como as pessoas podem ser aproveitadas de forma positiva para a administração pública”.

Ainda sobre a organização da administração pública municipal, Angelo afirma que “os últimos oito anos têm sido de insucesso na administração municipal. Na verdade, nós constatamos um retrocesso diante daquilo que deixamos em 2012. Dois mandatos consecutivos não conseguiram oferecer um projeto à altura das reivindicações, necessidades e demandas de Ouro Preto. O que se viu foi uma regressão enorme, um vazio dentro da administração da prefeitura”. E para o enfrentamento dessa ineficiência do atual governo, o prefeito eleito promete: “Não vamos cometer os mesmos erros da atual gestão, que é abarrotar a prefeitura de gente e muitas ficam em casa, porque nem tem pra onde ir. Basta olhar as redes sociais que você vai ver várias pessoas que foram nomeadas pela prefeitura e ficavam o dia inteiro atacando desafetos políticos.”

Questionado sobre qual seria a equipe de secretários que compõem seu governo, Angelo preferiu preservar a divulgação de alguns nomes e deu prioridade ao divulgar apenas aqueles que, segundo ele, precisam iniciar os seus trabalhos no primeiro dia de governo. É o caso da Fazenda, Saúde e Educação, além do anúncio de Crovymara Batalha como Secretária de Planejamento. A ex-vereadora participa da equipe de transição e será responsável por uma das áreas mais estratégicas do próximo governo. As demais escolhas ainda são mantidas em sigilo, a pedido de dirigentes políticos e vereadores e, por isso, serão anunciadas mais à frente.

Para a Secretaria de Fazenda, o escolhido foi o auditor fiscal concursado pela prefeitura, Felipe D’Almeida e Pinho. Servidor de carreira da casa, Felipe já aceitou o cargo e deverá tomar posse como Secretário.

Na Secretaria Municipal de Educação, o prefeito escolheu dois professores, o Secretário será Rogério Fernandes, enquanto a Secretária Adjunta, Deborah Etrusco. O desafio da pasta será “o processo dois em um”, como explica o prefeito eleito: “não tivemos praticamente nenhuma atividade pedagógica em 2020, nós vamos ter que montar dois anos letivos em 2021, recuperar 2020 e avançar para 2021”.

Na área da saúde, o Secretário escolhido pelo futuro mandatário do município é o médico Tuian Cerqueira e a Secretária Adjunta será Consola Souza, nutricionista e servidora de carreira também da prefeitura. Angelo explica que a dupla já está trabalhando e preparando estratégias de como se dará o combate ao coronavírus.

Angelo Oswaldo promete ainda uma reestruturação das secretarias municipais, pretende desmembrar a atual Secretaria de Cultura e Turismo ao separar suas atribuições: “Nós vamos ter uma Secretaria de Cultura, outra Secretaria de Turismo e uma Secretaria de Políticas Urbanas. Por que isso? Porque o turismo tem uma especificidade, ele precisa estar voltado para o interno, para o trade turístico, enquanto se projeta para o externo para atrair o turismo. Por outro lado, Ouro Preto é uma cidade que tem mais de 400 eventos culturais por ano, então a Secretaria de Cultura pede uma autonomia, e já que cortaram uma árvore em Brasília, (extinção do MinC), nós plantamos uma semente aqui.

Quanto à Secretaria de Políticas Urbanas, entre suas atribuições constará a proteção e defesa do patrimônio; políticas de crescimento urbano; bem como as questões relacionadas à moradia que passarão a ser atendidas por essa pasta. Angelo explica que não haverá aumento de despesas, pois haverá cortes em outras áreas para equilibrar as contas e defende que essa é uma forma mais moderna de pensar as políticas públicas de uma cidade única como Ouro Preto.

Mineração

Em relação à mineração, Angelo defende maiores investimentos públicos nas localidades onde existem atividades minerárias: “Eu falei muito durante a campanha sobre essa questão das comunidades em praticar a justiça tributária. Em Antônio Pereira, eu já fiz isso nas minhas outras administrações e nos três governos nós sempre realizamos muitas obras”. O prefeito eleito defende a importância de Ouro Preto se reconhecer também como um município minerador: “Fazem oito anos que Ouro Preto não participa da AMIG, que é a Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais, por aí você nota que não houve interesse político”.

Angelo defende o reconhecimento de Ouro Preto como município atingido. “A Fundação Renova não compreendeu o Município de Ouro Preto. O único município atingido pelo desastre de 5 de novembro de 2015 que não foi contemplado na reparação dos danos foi Ouro Preto, que é o chão da Samarco no distrito de Antônio Pereira. A Vila Samarco, a Mina de Germano, a Mina de Timbopeba e as atividades centrais da Samarco estão em solo ouropretano. No entanto, com todo o desemprego que aconteceu ali, com todo o drama social, psicológico, econômico que ocorreu aqui, o município de Ouro Preto não pode permanecer lesado depois de tudo isso.”

Sobre os diversos problemas que a população do distrito de Antônio Pereira e Vila Samarco enfrentam diante do descomissionamento da Barragem de Doutor, Angelo Oswaldo defende o diálogo como alternativa no enfrentamento dos problemas. “Quem promove essa interlocução entre comunidade e as empresas é a prefeitura. O prefeito é um representante e os representados são os eleitores. Então, é essencial que a prefeitura municipal e a câmara de vereadores, em sintonia, tenham esse diálogo”, esclarece.

Saneamento

Por fim, o futuro prefeito defende a necessidade de uma revisão no processo de outorga da Saneouro. “Ouro Preto passou para uma empresa particular todo patrimônio do SEMAE, que é o Serviço Municipal de Água e Esgoto, uma autarquia municipal que poderia realizar um trabalho com foi feito em Itabirito”, e completa: “a água na torneira é um produto industrial e isso exige toda uma participação da comunidade para que seja garantido. Então, nós vamos estudar esse caso dessa privatização e buscar o melhor caminho que é o abastecimento de Ouro Preto com uma tarifa justa”, finaliza.  

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