Preparemo-nos para um Natal atípico

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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Natal é momento propício ao recolhimento, à humildade, à oração, sobretudo à introspecção. Pensemos e reflitamos em nossa trajetória; conquistas e perdas. Haverá Natal de Luz em 2020, não nas ruas, não nos bares, não nas festas em viagens de final de ano, mas um Natal diverso, interiorizado; mergulho profundo na essência da nossa luz espiritual; nas relações de empatia, respeito, solidariedade e fraternidade com o próximo, ao modo e exemplo de Jesus. Haverá um Natal com a singeleza da manjedoura da natividade, experimento ímpar de humildade, mas pleno de espiritualidade: sem esbaldação, abraços, afagos, aos moldes do apelo de Angela Merkel, no início deste dezembro, para que os alemães não façam festas neste Natal; porque ela deseja que no Natal do ano que vem todos possam estar vivos para, enfim, festejar. Distantes, mas vivos. Distantes, mas próximos da plenitude e do amor ao próximo.

A pandemia não está no final. Pelo contrário, cresce e novamente colapsa o sistema de saúde do Brasil, de Minas Gerais e o de nossa região dos Inconfidentes. O hospital de Ouro Preto está com 100% dos leitos de UTI ocupados com pacientes de Covid-19. É assustadora, a forma potente de contaminação que se alastra e multiplica. Vírus potente feito praga, solta, liberta em cada canto do mundo, ceifa vidas, sonhos e planejamentos. Eu sei que não é fácil, mas é essencial, manter-se afastado de entes queridos e de reuniões de confraternização. Tentações estarão à solta nos convidando a sair pelas ruas, ir à casa de parentes, para comemorar as festas de final de ano. Prova de fogo será driblar a solidão necessária, por mais alguns meses. Falta pouco, creio. A vacina está a caminho…

Nesse Natal atípico, prova de fé e amor maior é distanciar-se, para proteger quem se ama. Distantes, mas próximos, como nos sentimos na presença espiritual de Deus. Distantes, mas unidos em desejos de que o mal avassalador deste ano seja aplacado da forma que Jesus resistiu às tentações no deserto. Distantes, mas próximos/vivos, porque cuidar de nossa vida e de quem amamos será um ato heroico e diferenciado em resistir à sedução de festejar compulsivamente neste fim de ano.

Embora a pandemia e seus efeitos deletérios sejam questões cujas resoluções estejam na ciência, a religiosidade tem muito a nos ensinar. O discurso religioso é aquele que se organiza em torno do conceito de fé, de crer sem nunca ter visto ‘a olhos nus’, de crer que Deus está presente em espírito; de crer que podemos conferenciar e celebrar a presença Dele, de crer na palavra autorizada. Angela Merkel é autoridade, e tem credibilidade diante de seu povo. Jovens e adultos estão se expondo ao coronavírus por descuido, tédio, forte estresse, e descrenças às recomendações dos cientistas e dos sanitaristas. Jovens contaminam seus familiares, muitos vulneráveis por idade ou por comorbidades. Milhares de vozes se calaram em dois mil e vinte, independentemente se famoso ou ilustre desconhecido. Milhares de covas foram abertas. Milhares de famílias choraram a morte de seus entes queridos.

Temos uma vida inteira pela frente. Temos um Natal atípico e solitário batendo à nossa porta. Um Natal de luz interior, sem esbaldação, encontros e afagos. Um Natal mais próximo da vida humilde, plena e espiritual do Salvador, desse Menino Jesus que aplacou todos os males do mundo, sem se esmorecer, para nos salvar. Distantes, mas vivos. Distantes, mas próximos da plenitude da oração e do recolhimento. Distantes, mas próximos, como nos sentimos na presença espiritual de Deus. Que esse Natal atípico cure, restaure e promova a salvação de todos!

(*) Andreia Donadon Leal é Mestre em Literatura pela UFV e autora de 16 livros; Membro efetivo da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais e Presidente da ALACIB-Mariana

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