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Hoje é sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Os filmes da Netflix são ruins?

Nem parece, mas 2020 está acabando. E nessa época do ano, costumamos fazer retrospectivas e análises se o ano realmente valeu a pena. Nesse propósito, vale a reflexão sobre os longas produzidos pela Netflix. Afinal, as produções originais do streaming estão aquém daquelas das salas de cinema?

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”

Fotomontagem de cartazes de filmes da Netflix, que podem ser questionados como filmes ruins

Ouça o áudio de “Os filmes da Netflix são ruins?”, de Kael Ladislau:

Verdade seja dita: 2020 é um ano para ser esquecido, mas que, infelizmente, não sairá de nossas memórias. Para o bem ou para o mal. Se a pandemia, de maneira geral, fez com que relações fossem ressignificadas, trabalhos fossem remodelados, entre outras muitas coisas, o cinema viu a necessidade de entender, de vez, que o seu público está mudando.

Praticamente sem grandes lançamentos graças às salas fechadas por causa da pandemia, fica a pergunta: a sétima arte entendeu o recado?

A resposta seria complexa e precisaria de uma análise muito profunda. Mas há recortes a serem feitos que poderiam nos ajudar a chegar lá. Com os cinemas fechados, ganhou mais notabilidade os streamings: essas plataformas pagas em que você encontra um catálogo amplo de filmes para assistir em casa.

Não só em casa, mas da maneira que quiser: aqueles que podem têm boas telas de TV e usufruem de uma experiência muito próxima do que seria uma sala de cinema. Aqueles menos abastados podem ainda ter o privilégio de uma Smart TV. Há aqueles que preferem a tela do computador ou mesmo a do celular.

Qualquer que seja o dispositivo, é uma maneira válida de se consumir cinema, mesmo que alguns critiquem, por exemplo, os celulares.

Esse longo início pode ajudar a pensar na pergunta-título. Afinal, o principal e mais popular streaming do mundo faz filme bom?

Toda a introdução foi feita para se pensar que: a experiência de uma sala de cinema certamente ajuda a “qualificar” melhor os filmes exibidos nela. Isso é inegável e ajuda a medir melhor a “temperatura” de aceitação de uma obra.

Essa característica ainda permite pensar na restrição de alguns filmes. Ir ao cinema sempre foi um capricho que nem todo mundo pode se dar ao luxo de ter. Nem toda cidade possui fácil acesso. Nem todo público tem dinheiro para ir ao cinema. O valor do ingresso para um filme pode ser o valor de uma mensalidade da Netflix, com muitos mais filmes disponíveis.

Tudo isso dá uma sensação de exclusividade. Um filme que está no cinema não é acessível ao público de maneira geral, então, tende-se a achar – em uma visão muito elitista – que filmes de cinema são melhores que aqueles em que se paga menos.

Há também um ponto importante que poderia ser mencionado antes de tudo isso: as palavras “bom” e “ruim” são qualidades que podem ser atribuídas pelo seu gosto pessoal. Um filme premiadíssimo pode ser elogiado por grandes entusiastas, mas ser detestado pelo público de modo geral. É uma equação difícil de ser equilibrada, por se tratar apenas de gosto.

Algumas plataformas tentam fazer isso, como o Rotten Tomatoes ou o IMDB. Em cada uma, há uma “nota” em que se público e crítica especializada classificam os filmes. Isso ajuda a dar uma noção de que filme pode ser bom ou ruim de maneira geral – o pessoal sempre será… pessoal!

Bom, então não temos respostas definitivas para os filmes da Netflix?

Infelizmente… não. Mas seguindo a linha de raciocínio que, modestamente tentei seguir, é capaz de imaginar que a Netflix, como qualquer outra grande produtora de filmes, possui obras que podem ser grandes clássicos como serem fracassos. Como qualquer outra produtora, reafirmo.

E exemplos não faltam, como o mais recente lançamento “Era uma vez um sonho”, que já teve uma breve crítica aqui nesse espaço. É um filme que poderia ter sido levado aos cinemas antes da pandemia. Isso não mudaria, talvez, as fortes críticas negativas que o filme teve dos especialistas. Mas, graças aos nomes do filme, como Amy Adams ou Glenn Close, poderia levar milhões às salas. É uma conjectura possível, mas na minha opinião, não mudaria o fato do filme ser fraco.

Contudo, filmes como Project Power, também merecedor de crítica nesse espaço, tem todas as características de um filme “arrasa quarteirões”, como uma trama simples, atores populares, como Jamie Foxx e Joseph Gordon-Levitt, que certamente o público pode adorar…, mas não necessariamente a crítica especializada.

Mas, talvez, nenhum filme tenha mais característica de uma obra Netflix como Enola Holmes: uma trama cheia de suspense, mas bem simples, que pode fazer amar tanto a crítica quanto ao público. E dois pontos que principalmente a internet ama: a protagonista Millie Bobby Brown e o mega galã Henry Cavill.

Até aqui, temos filmes que agradaram o público, os que se dividiram no meio e os que não foram necessariamente filmes populares. Mas a Netflix certamente deixou todos bem saciados nesse 2020 com obras de todos os tipos.

E para citar aqueles filmes mais conceituais que só os mais apaixonados por “entender uma mensagem” ou por caçar enigmas nos vários signos e significados da obra, temos Estou Pensando em Acabar com Tudo.

O filme gerou grande debate na web por não deixar uma mensagem clara e um final dúbio… tudo aquilo que “grandes crânios” adoram debater, mas que o grande público não necessariamente fique agradado. A crítica por sua vez, fica dividida.

E, claro, filmes que agradam os dois e que com muita certeza podem sair imortalizados deste ano terrível, como o caso do mais recente lançamento A Voz Suprema do Blues. Um filme que carrega a fama de ser o último de Chadwick Boseman, o Pantera Negra, morto em 2020. Além dele, Viola Davis que, além de popular, sempre é elogiada por atuações belíssimas e, mais uma vez, não deixa essa fama para trás.

A trama conta a história da gravação de um disco de Ma Rainey. Mais do que uma biografia, o longa detalha como foi o processo da obra em questão, colocando em conflito os músicos, destaque para o trompetista Levee, na pele de Boseman, os interesses da gravadora com a genialidade de Ma, aqui, Viola e, claro, em cena discussões sobre racismo.

Há ainda os 7 de Chicago, filme lançado no meio do ano que conta a história de um julgamento de ativistas e manifestantes acusados de conspiração pelo Governo Americano na década de 60.

O filme foi bem recebido por público e crítica e deve voltar ao debate na época das premiações, em 2021. Bem como “Destacamento Blood” que teve merecido hype na época de seu lançamento (e uma crítica por aqui) e que tem a assinatura de Spike Lee na direção, diretor que, por si só, já carregaria alguns milhares de fãs às salas de cinema.

Haveria ainda algumas dezenas de filmes que poderiam ilustrar o debate sobre os filmes da Netflix serem bons, ou não, como o mais recente O Céu da Meia Noite, com o galã George Clooney.

Mas seria somente mais um ingrediente que nos levariam a um debate pessoal sobre o que é bom e o que é ruim no cinema.

Fato é que a Netflix, como toda e qualquer produtora de filmes, visa seu público final, que é amplo, e oferece obras originais que agradam gregos e troianos. Se, uma resposta definitiva poderia ser dada é que o streaming merece a atenção e o reconhecimento de ser produtor de filmes que estão ao alcance do grande público.

Obras que poderiam valer suados reais nas salas de cinema, estar a quilômetros de distância em um shopping e que estão, literalmente, acessíveis na palma da mão.

Características que, uma hora, poderiam ser taxados como “fácil demais para ser bom” e que a pandemia nos obrigou a repensar esse significado.

Se é bom ou ruim, não será um crítico com formação em audiovisual e fã de Ingmar Bergman que dirá. Muito menos esse que vos fala, um mero jornalista que aprecia cinema.

No fim, para o espectador, vale o que ele gosta e pensa. E o público, hoje, nunca esteve tão próximo dessas obras – sejam elas originais Netflix, Amazon, Globoplay – ou não.

E seja qual for o seu streaming favorito, ele te oferecerá obras que você pode sim gostar ou não. Não será um Oscar que vai dizer isso. E, sim, alguns desses filmes citados aqui estarão no ano que vem lá. E você teve acesso fácil a eles.

Feliz ano-novo e agradeço ao público da Agência Primaz pela atenção. Meus mais sinceros votos de um ano melhor. Nós merecemos!

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Kael Ladislau é Jornalista graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

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