O torcedor é um narciso às avessas

A pandemia comprova: o torcedor pode sim liquidar um time. Se tivéssemos público, algumas equipes teriam ido tão longe nos campeonatos e aguentado a pressão que vem da arquibancada?

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

Compartilhe:

[wpusb layout="rounded" items="facebook, twitter, whatsapp, share"]

Uma vez Nelson Rodrigues escreveu que “a torcida pode salvar ou liquidar um time” e, durante a pandemia da COVID19, eu passo a concordar mais ainda com ele.

Bom, o futebol e os demais esportes tiveram que adaptar algumas coisas e criar alguns protocolos para continuarem entretendo os torcedores durante a quarentena. Assim, a primeira mudança anunciada acabou sendo que nenhum jogo teria público.

Dias e meses passaram e, agora, nem sabemos mais como entrar em um estádio.

 

Se pegarmos para analisar financeiramente, para o clube, foi horrível, perdeu o dinheiro da bilheteria. Para o torcedor, até que foi bom, deu pra dar uma economizada. Mas acho que o peso maior disso tudo é que realmente a torcida pode aniquilar um time.

Analisa comigo. O Palmeiras é finalista da Copa Libertadores de 2020 e da Copa Do Brasil, mas você acha mesmo que com torcida chegaria até as finais?

Os palmeirenses são uma espécie rara, pessoas que fundaram o clube do amendoim e começaram com as cornetas. Sim, nós somos os primeiros corneteiros.

Na esquina das ruas Caraíbas e Turiassu, lá na época de 1930, quando o Palmeiras ainda era chamado de Palestra Itália, conselheiros se reuniam em um bar que era vizinho da empresa Corneta Ferramentas. Esse pessoal era a famosa oposição na Diretoria.

Em uma entrevista para o Portal UOL, em maio de 2015, o historiador do Palmeiras, Jota Christianini, conta que, rapidamente, associaram esse grupo de palmeirenses que só gritava e reclamava com a Corneta Ferramentas.

“Alguém, em um dia, disse algo assim: “lá vem a turma da corneta”.

Segundo Jota, essa galera gritava muito nas reuniões e assim, naturalmente, o pessoal da corneta virou os corneteiros.

Agora, imagina se, na cabeça do Abel Ferreira, tivesse algum corneteiro, alguém do clube do amendoim gritando: tira o Rony! Bigode titular, não!

Essa leitura de jogo não é só minha. Mais palmeirenses já questionaram a chatice de algumas pessoas da digníssima torcida alviverde. Vou desenhar aqui: jogo de ida da semifinal. Palmeiras 3 x 0 River Plate, lá na Argentina. Ok, resultado lindo, ótimo. Seria por falta dos Los Borrachos del Tablón?

Temos agora o jogo de volta, no Allianz Parque. Palmeiras jogando muito mal e perdendo por 2×0. Time adversário marcas mais vezes, VAR anula. O que a torcida estaria gritando das arquibancadas? Vaias?

Claro que não seriam palavras de apoio, afinal, mais um gol válido do River e iríamos para a disputa de pênaltis.

Isso, é um fato. A torcida do Palmeiras precisa cornetar alguma coisa. Mesmo com o time sendo finalista da Copa do Brasil e da Libertadores, sobra para o menino de 18, que acabou de subir da base, ouvir xingamentos por ter perdido um gol. Uma verdadeira torcida impaciente e chata.

Como diria Nelson Rodrigues: “Se vence de cinco, se dá uma lavagem, o torcedor acha que o adversário não presta. Se empata, quem não presta somos nós”.

Por agora, eu só espero que meu time ganhe o próximo jogo. E nem precisa ser de cinco.

(*) Luiza Boareto é jornalista formada pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), comentarista profissional de programas de TV e apaixonada por esportes. Espero que “o teu desejo seja sempre o meu desejo”. Mas se não for, é culpa do meu sol em Leão

Veja Mais