Moradores de Constantino sofrem com isolamento extremo e reivindicam direitos básicos à Prefeitura de Mariana

Estradas, acesso à água, atendimento básico de saúde e sinal de celular estão entre as principais demandas dos habitantes do subdistrito mais distante de Mariana

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A ponte de madeira ameaça cair, mas moradores se arriscam ao atravessá-la - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
A ponte de madeira ameaça cair, mas moradores se arriscam ao atravessá-la - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

Apesar de várias promessas, em Constantino, subdistrito de Mariana, moradores enfrentam problemas com estrada, pontes caídas, interrupções no abastecimento de água, falta de escola, transporte público, ausência de sinal de celular e precariedade no atendimento à saúde. O povoado, que fica a 43 km da sede, se encontra sem a prestação de serviços públicos básicos e a população clama por soluções.

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É muito provável que o distanciamento social, como prevenção à Covid-19, tenha feito você ampliar suas conexões virtuais, sobretudo por meio do celular. Exceto se você for morador de Constantino, subdistrito de Mariana, que enfrenta uma situação de isolamento grave, com problemas que antecedem, e muito, a crise causada pela pandemia. O local pertence ao distrito de Furquim, mas os moradores recorrem ao município de Diogo de Vasconcelos para irem à escola, fazerem compras básicas e buscarem atendimento emergencial de saúde.

Em Constantino, os serviços públicos (quando existem) são precários e a comunidade precisa se desdobrar para ter acesso ao básico, como água, coleta de lixo, lazer, educação ou saúde. Os problemas são tantos que a comunidade fica em estado de isolamento do resto do mundo, sem transporte ou comunicação. Por isso, a convite dos moradores, a Agência Primaz visitou o subdistrito para conhecer de perto as principais reivindicações apontadas por eles.

As dificuldades de locomoção são apontadas por todos os moradores ouvidos como um dos maiores problemas enfrentados por quem vive em Constantino. O subdistrito não dispõe de qualquer meio de transporte público e a rodovia que dá acesso à localidade é asfaltada na maior parte do trajeto. No entanto, a parte final entre o asfalto e o subdistrito, um trecho de pouco mais de 1km, é um grande declive que quando chove impossibilita a saída das pessoas da localidade. Os moradores afirmam que existe a promessa de asfaltamento da estrada há décadas, mas são obrigados a se contentar com medidas paliativas. Para quem precisa se deslocar até Mariana, tem a opção de fretar um carro particular, pelo valor de cerca de 120 reais.

O ponto de ônibus próximo de Constantino está desativado, nenhuma linha passa por ali - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
O ponto de ônibus próximo de Constantino está desativado, nenhuma linha passa por ali - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
Constantino sofre com isolamento - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
Constantino sofre com isolamento - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

Arlindo Benjamin da Silva é nascido em Constantino e explica quais são as demandas mais urgentes para melhorar as condições de vida da população do subdistrito. “O principal são as estradas e as pontes. Quando adoece alguma pessoa aqui dentro é o maior trabalho, isso quando tem ponte. Porque agora nem ponte tem. Aí tem que pegar o pessoal e trazer na mão até o lugar que dá acesso ao carro.” A ponte citada por Arlindo liga as duas metades do povoado. Aliás, são duas pontes no mesmo local. Isso porque uma primeira ponte, feita de concreto, caiu e outra, de madeira, foi construída sobre seus escombros. A segunda ponte também ameaça vir abaixo e já se encontra toda retorcida. Veículos não atravessam mais a estrutura, mas os moradores, sem opção, precisam se arriscar ao cruzar, a pé, para acessarem suas residências.

Dona Terezinha tem dificuldades de locomoção e mora após a ponte, carros não chegam próximos à sua casa - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
Dona Terezinha tem dificuldades de locomoção e mora após a ponte, carros não chegam próximos à sua casa - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
Em Constantino, após a primeira ponte de concreto ruir, outra, de madeira foi construída sobre os escombros - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
Em Constantino, após a primeira ponte de concreto ruir, outra, de madeira foi construída sobre os escombros - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

É o caso da família de Luiz Fernando da Silva. Sua avó mora do outro lado da ponte e, com dificuldades para se locomover, não consegue ter um carro em sua porta para socorrê-la. Luiz também aponta as dificuldades de locomoção como prioridade dos problemas a serem resolvidos em Constantino, mas apresenta outras demandas urgentes do subdistrito. “Aqui não tem saúde. Tem um posto só que não tem médico. A escola está abandonada e, para as crianças que querem estudar, o município de Diogo de Vasconcelos faz um favor, porque não tem transporte”.

“De que adianta posto se não tem um comprimido aí dentro?”, pergunta Arlindo. Sem ambulância para socorrer os doentes, a questão (da falta) do transporte em Constantino vira questão de vida ou morte. Este não é, no entanto, o único problema relacionado à preservação da saúde dos habitantes do subdistrito. O povoado conta com um posto de saúde e a cada 15 dias um médico visita a localidade, mas não há medicamentos, plantões, curativos ou ambulância. Em caso de algum morador sofrer qualquer tipo de acidente ou mal súbito, é a própria população que precisa fazer as vezes de socorrista, já que o único telefone do subdistrito, um orelhão localizado em um bar, não funciona.

O único telefone de Constantino é esse orelhão que está com defeito há muito tempo - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
Local de reunião e descanso dos moradores, a arquibancada de concreto está se desmanchando, no local uma praça deveria ser construída - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

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Moradora do distrito desde que nasceu, Natália Carvalho conta que o cunhado sofreu um acidente há 3 anos e precisa de atendimento médico e fisioterapêutico de forma constante, mas a família afirma não receber nenhum tipo de apoio do poder público para o tratamento. “Aqui não tem remédio e nada de fisioterapia. Ele fez muito pouco até hoje. Médico vem no posto a cada 15 dias, mas não tem remédio. Quando passa mal aqui tem que correr para Mariana ou Ponte Nova. Aí tem que pagar carro, 120 reais a corrida”.

Natalia aponta ainda a dificuldade enfrentada pelos moradores para ter acesso à água encanada no distrito. O abastecimento de água de Constantino é feito através do bombeamento a partir de um poço artesiano, mas quando a bomba deixa de funcionar, as casas não recebem água, isso porque a caixa d’água de 15 mil litros, instalada para garantir o abastecimento da população estava completamente vazia quando nossa reportagem foi até o local.

Natália Carvalho lamenta o descaso com a saúde do subdistrito - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
Natália Carvalho lamenta o descaso com a saúde do subdistrito - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
A caixa d'água de 15 mil litros que deveria servir para garantir o abastecimento de Constantino estava completamente vazia - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
A caixa d'água de 15 mil litros que deveria servir para garantir o abastecimento de Constantino estava completamente vazia - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

Como adiantado por Luiz Felipe da Silva, o isolamento relatado pelos moradores também produz impactos na educação dos habitantes de Constantino. No subdistrito existe uma escola municipal, mas está fechada e os estudantes do município estudam “de favor” no município de Diogo de Vasconcelos, com a utilização inclusive do transporte escolar da cidade vizinha. Os motivos para o encaminhamento dos alunos para outra localidade não são claros para a população e como as estradas nem sempre estão em boas condições, por vezes os alunos perdem a aula porque o transporte escolar não consegue chegar até eles.

Em tempos de pandemia e, por consequência, com o cancelamento das aulas presenciais, os alunos ficaram sem nenhuma assistência estudantil. Isso porque, são poucas as casas que têm algum serviço de internet, via rádio, contratado. Assim, os alunos ficam sem acesso também ao ensino remoto. Além de não ter nenhuma linha fixa, não há sinal de qualquer operadora de celular.

Essa é, inclusive, outra grande reivindicação dos habitantes de Constantino. Para amenizar a sensação de isolamento e abandono, os moradores pedem que seja instalada uma torre de telefonia celular no subdistrito. Vanderlei Maia é morador de Constantino há 11 anos e lamenta, sobretudo, as dificuldades de comunicação. “Entra prefeito, sai prefeito e nós não temos uma torre de celular, não temos internet. Todos prometeram e até hoje nada. Eu perdi uma sobrinha e, quando conseguiram comunicar comigo, que eu fui lá no alto do morro do Corujão para saber quem era, já estava na hora do enterro, chegando de Belo Horizonte”.

Os habitantes reclamam, por fim, das poucas opções de lazer disponíveis em Constantino. O campo de futebol está abandonado, além de ficar na parte do distrito inacessível a veículos, depois da queda da segunda ponte. Em 2017, o vereador João Bosco apresentou a indicação Nº 310/2017 para a “construção de uma praça em frente ao bar do Carlos no centro do povoado no subdistrito de Constantino”. A indicação foi aprovada por unanimidade pelos vereadores, mas quatro anos após a indicação, raízes de árvores e chuvas destroem aos poucos o banco de concreto e a calçada que fazem as vezes da praça que ainda não existe.

Vanderlei Maia mora há 11 anos em Constantino - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
Vanderlei Maia mora há 11 anos em Constantino - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz
O posto de saúde de Constantino tem médico uma vez a cada 15 dias - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

Enviamos questionamentos à Prefeitura de Mariana sobre as reivindicações feitas pelos moradores de Constantino mas, até o fechamento desta reportagem, não obtivemos resposta. No Jornal O Espeto, foi publicada uma visita do vereador Zezinho Salete ao subdistrito em 16 de janeiro de 2021 e, no dia 21 de janeiro, o prefeito interino Juliano Duarte divulgou, no Instagram, uma visita em Constantino. Em 27 de janeiro (dia da visita da Agência Primaz), foram percebidas máquinas da Prefeitura de Mariana fazendo intervenções preliminares nas estradas de Constantino, ainda sem indícios de asfaltamento.

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