Cancelamento do Carnaval em Itabirito: os reflexos econômicos e culturais da não realização da maior festa brasileira

Integrantes de blocos entendem como decisão necessária, mas apontam falhas de apoio para quem vive da festa

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Bloco Zé Pereira, tradicional no carnaval de Itabirito, arrastou foliões pelas ruas - Foto: Sanderson Pereira/PMI-2017

Se engana quem acredita que o carnaval só move a economia e a cultura nos meses de fevereiro ou março. Antes da chegada da data no calendário, a festa movimenta muito trabalho, entusiasmo, dinheiro e desafios para diversos setores. É o caso dos blocos de carnaval. Durante todo o ano, inúmeros eventos são realizados aguardando a data de definição da festa. Ensaios, desfiles fora de época, oficinas, cursos e apresentações culturais (gratuitas ou não).

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De acordo com o fundador do Bloco Urucum, Felipe Cunha, todo o valor arrecadado no carnaval e eventos “pré”, realizados durante o ano, é utilizado para o fomento à cultura do município, profissionalização dos integrantes, produção do bloco para o carnaval e custos como estrutura, artistas plásticos e outros. Nenhum integrante recebe qualquer remuneração pelos trabalhos.

Bloco Urucum, em um dos seus desfiles de carnaval, com performances artísticas em 2020 - Foto: paulo Henrique/PMI

Apesar da iniciativa de ajuda financeira para o setor cultural, com a Lei de Incentivo Aldir Blanc, Felipe considera que houve um descaso com todos os envolvidos na realização do carnaval. “Acredito que é necessário que seja disponibilizado algum incentivo emergencial, não só para a classe artística da cidade, como também para aqueles e aquelas que dependem da renda gerada no período de folia (por exemplo ambulantes, barraqueiros, entre outros)“, afirma. Julia Nascimento e Joice Santos, integrantes do Minabloco, compartilham da mesma opinião de Cunha. “Houve falta de um posicionamento mais afetivo – que voltasse o olhar para a situação da classe artística – por parte dos órgãos públicos“.

Desfile Bloco Urucum, pelas ruas de Itabirito, em 2020 - Foto: Paulo Henrique/PMI

Alguns blocos, durante o ano de 2020, realizaram lives e oficinas de forma virtual, porém esses projetos paralelos não conseguem suprir o retorno que eventos presenciais proporcionam financeiramente.

Demais setores sofrem com o cancelamento da festa

Com a proximidade da data da festa de maior expressão cultural e artística brasileira, vários setores se movimentam para propiciar diversas experiências para os foliões. Além disso, muitos comerciantes e famílias dependem da arrecadação deste período para o sustento.

É o caso de Berenice Gonçalves, de 63 anos, que perdeu o emprego na Feira Municipal de Itabirito com o início da pandemia. Há 10 anos Berenice trabalhava durante o carnaval com a venda de feijão tropeiro, macarrão e bebidas. Segundo a comerciante, o carnaval é um momento importante para acrescentar na renda familiar. “É um dinheiro que você conta com ele e, infelizmente, este ano não tem“, lamenta. Junto com seu irmão, Berenice mantinha sua barraca na Praça de Alimentação, de quinta a terça-feira de carnaval. Por noite, eles arrecadavam, em média, R$ 8 mil – numa noite de maior movimento – e R$ 5 mil com o movimento mais baixo.

Foliões de todas as idades acompanham o Bloco Zé Pereira, no carnaval de Itabirito - Foto: Sanderson Pereira/PMI-2017

Flávio Bastos, do Bloco Zé Pereira, destaca, com alegria, a movimentação dos lojistas. “Fica até bonito de ver, os lojistas se preparam para essa época, quando o carnaval se aproxima é comum a gente ver as lojas cheias de chitão, roupas vermelhas, laranjas e roxas nas vitrines. Eles reconhecem que é uma demanda dos blocos!”.

Pandemia e empatia: cancelamento é opinião unânime entre os envolvidos

Todos os entrevistados foram enfáticos: o cancelamento da festa foi a decisão mais responsável do poder público. Para Felipe Cunha, “não faz sentido nenhum fazer festa em meio a um cenário tão negativo. Não existe a dúvida de cancelar ou não. Os números de mortos estão subindo, familiares envolvidos e várias perdas. Dentro do bloco o pensamento é unânime“.

Também idealizador e fundador do bloco Urucum, Marcos Paulo Romualdo, lamenta: “estamos com o coração na mão de não poder ir para a avenida este ano. Mas acreditamos muito nessa colaboração coletiva de ficar em casa neste momento“. Jonas Batista, integrante do Unidos da Boa Viagem, disse que o bloco é “pró ciência e pelo cancelamento da festa, já que mais aglomerações implicam em maior proliferação do vírus“.

Julia e Joice, do Minabloco também concordam com a decisão, mesmo sabendo dos prejuízos econômicos e culturais. Apesar de estarem de mãos atadas diante da situação, todos os blocos se colocam em posição de empatia com o momento e a decisão, e esperam que, em coletividade, todos passem por essa situação da melhor forma.

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Prefeitura mantém o feriado da terça feira (15)

Apesar do cancelamento da festa, a administração pública decidiu manter o feriado da terça feira (16). Questionados sobre a possibilidade de haver aglomerações e qual o efetivo seria destinado à fiscalização, considerando o descanso autorizado, a prefeitura informou que “para garantir o cumprimento das determinações, além da adoção de medidas orientativas e fiscalizatórias por parte da equipe de fiscalização, o planejamento inclui ações integradas entre as forças de segurança da cidade. Tais ações, com logística diferenciada em razão dos protocolos sanitários de prevenção à Covid-19, contarão com a participação de agentes da Guarda Civil Municipal e das Polícias Civil e Militar do Estado de Minas Gerais, com o intuito de evitar aglomerações em todo o município“.

Nossa reportagem solicitou à administração municipal um balanço do carnaval do passado, em relação à economia do município, retornos e investimentos para a festa popular. Mas, até o fechamento da matéria, a Agência Primaz não recebeu retorno.

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