Os equívocos da Fundação Renova

“Agora, cinco anos depois do rompimento de Fundão, fica complicado pensar em ter esperança. Não há mais nenhuma boa expectativa... a nossa vida nunca mais será a mesma”. (Carla Gomes Barbosa, da Comunidade de Paracatu de Baixo, em depoimento dado à dado à repórter Caroline Hardt em 07/11/20)

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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A Fundação Renova é uma organização não governamental sem fins lucrativos criada em março de 2016 por um Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC) assinado pela Samarco e suas controladoras, Vale e BHP Billiton, envolvendo os Governos Federal e Estadual e diversas autarquias, com o objetivo de reparar os danos causados pelo rompimento da Barragem de Fundão, ocorrido em novembro de 2015.

O que poderia ter sido uma estratégia genial, na verdade transformou-se em um caso lamentável em termos de gestão!

Recentemente, tornou-se destaque na mídia a fala do Governador de Minas Gerais Romeu Zema, fazendo duras críticas ao trabalho desenvolvido pela Fundação, afirmando que ela não tem interesse em resolver os problemas dos atingidos pelo rompimento da barragem:

“Eles criaram uma grande estrutura, que se chama Fundação Renova, para poder analisar quem vai receber os recursos, onde, quando, e é essa fundação que consome os recursos e não os afetados. E ela não tem interesse de resolver, me parece, porque se ela resolver ela perde o motivo da existência. É como se eu pedisse para alguém limpar algo e falasse: ‘na hora que você terminar a limpeza você está dispensado’, e a pessoa nunca termina, porque ela continua recebendo.”

Na verdade, a fala do Governador faz todo o sentido, mas retrata de forma retardatária o que muita gente já sabia. Já no princípio de sua criação, podemos observar uma falha estratégica grave na criação da Fundação: Mariana, a cidade mais impactada pelo desastre ficou fora do processo e não teve nenhuma participação na formatação do TTAC. É como se alguém destruísse a casa onde você mora com a sua família dentro e você não fosse convidado para decidir qual a forma de reparo.

O problema é que as falhas não pararam por aí! A estrutura organizacional e funcional de encaminhamento dos enormes problemas gerados é um emaranhado de Conselhos e Câmaras que acabam se desentendendo entre si, com reuniões burocráticas e intermináveis e a solução vai sendo postergada até Deus sabe quando!

Externamente, a governança trabalha com um Conselho Interfederativo, o CIF. Este Conselho se reúne mensalmente e é formado por representantes dos governos. É a principal instância externa de interlocução dos órgãos públicos com a Fundação. Para assessorá-lo foram criadas onze Câmaras Técnicas, todas elas compostas por um elevado número de participantes, que também se reúnem mensalmente. São reuniões de oito horas de duração, exaustivas e pouco produtivas, com apresentações extensas, onde são comuns os ataques à Fundação e a ocorrência de discussões improdutivas, com discursos inflamados dos atingidos e seus representantes que eventualmente usam o espaço para desabafar as traumáticas dores sofridas pelo desastre.

(*) Júlio César Vasconcelos é Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas

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