Dez anos de Rock Generator

Os aprendizados, as influências e as expectativas para o evento que conquistou amantes do rock da cidade

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O evento ocorre tradicionalmente no Morro da Forca - Foto:Lucas de Godoy

Carnaval, eventos universitários, mostras de arte, festivais com os mais variados temas motivam a cena cultural ouro-pretana. Em 2021, o festival Rock Generator, evento que tem incendiado o Morro da Forca e diversos outros ambientes com rock autoral da melhor qualidade, completa uma década.

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Para os organizadores, os dez anos de crescimento do evento significaram principalmente uma evolução de mentalidade. “No começo, o interesse era tocar música autoral, mas diante da dificuldade de arranjar bandas autorais aqui na região, o coletivo admitia apresentações covers. Não temos problemas com bandas que tocam cover, mas nos interessa fazer aquilo que realmente contribui com a arte em forma de desenvolvimento e de criação”, descreve um dos organizadores do evento, Paulo Victor Azevedo (Castor).

Trajetória do festival

Idealizadas, em janeiro de 2011, por amigos que se juntavam para tocar em lugares ermos da cidade de Mariana munidos de um pequeno gerador a gasolina, as Lives for Nobody reuniam poucas pessoas. Aos poucos, foram ganhando público, chegando a vender centenas de ingressos. A iniciativa mudou de nome e atualmente reúne bandas de rock autoral nacionais e internacionais. 

“Percebemos que não existia espaço para tocarmos nossas próprias músicas [dos grupos autorais da região]. Três bandas – Arqueologia Siderúrgica (que é minha ex-banda), Fucking Noise e Selvagens – juntaram-se, compraram o pequeno gerador e começaram a se reunir num terreno baldio em Mariana”, conta Paulo Azevedo.

Em 2012, já com o nome Rock Generator, o movimento foi transferido para o Morro da Forca, em Ouro Preto. Nessa transição, aconteceu o roubo do gerador. No ano seguinte, os organizadores promoveram a Festa do Dique, na casa do Paulo, o que possibilitou a compra de um gerador próprio e a continuação do projeto, com a articulação de intercâmbios entre bandas da região e de fora. 

Segundo ele, foi interessante, também, perceber como Ouro Preto é uma cidade atrativa para as bandas, para além do seu viés patrimonial: “A gente ia percebendo que a galera se empolgava muito em tocar em Ouro Preto, que sempre teve uma tradição de rock and roll. À medida que trazíamos bandas de fora, o público foi só aumentando, e as pessoas ficaram motivadas a criar o próprio trabalho”. 

Além disso, houve a evolução em termos de técnica, sonorização, aparelhagem e de diversificação dos eventos, que também passaram a acontecer em lugares fechados, além do festival no Morro da Forca: as chamadas Generator Sessions. “A gente foi buscando uma profissionalização, uma ação que causasse mais impacto”, acrescenta Paulo.

O festival rendeu, em 2018, o documentário “Inflamável” produzido por dois estudantes do curso de Jornalismo da UFOP, Matheus Santiago e Daniel Tulher, que cobriram a edição daquele ano. Eles também são músicos e desejavam mostrar um evento cultural relevante no cenário musical ouro-pretano. “Nossa grande preocupação no filme era falar de uma Ouro Preto que não necessariamente é a histórica”, salienta Matheus.

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Mulheres no rock

O organizador falou, também, sobre a evolução do gênero rock em relação à presença feminina: “No Dia Internacional da Luta contra a Violência contra a Mulher, a gente chamou a Generator Sessions de Generator Grito das Minas, foi no Bar do Heleno’s e vendemos cerca de 300 ingressos em uma noite […] O rock sempre foi uma coisa muito masculina, e música sempre foi de acesso vedado às mulheres […] as vezes o rock é muito quadrado, aquela coisa do homem com cara de malvado, que é um saco, ninguém aguenta mais isso”, ele afirma. “O rock não morreu, ele só não é mais aquele discurso reacionário, de ostentação e objetificação feminina. A gente procura lidar com as questões do nosso tempo, e o público responde a isso de forma muito agradável. ”

Adriana Viz, moradora de Ouro Preto que já prestigiou uma das versões do Rock Generator, assina embaixo: “Eu acho que, como ocorre há milhões de anos, as pessoas acham que há espaços que só homens ocupam. Isso vem mudando […] No evento que eu fui no Bar da Nida, teve uma banda feminina excelente, e a presença do público feminino. Acho que as mulheres têm ocupado cada vez mais espaços, inclusive no rock n’ roll, tanto para tocar quanto no público. Eu gosto muito de rock mais pesado, é novo para mim também, mas gosto muito […] e o que eu espero do próximo evento é que seja regado a boa música e que mantenha essa questão de trazer bandas da região, com as mulheres ocupando cada vez mais esse espaço”.

Cenário pós-pandemia

“Em abril do ano passado, fizemos um festival on-line com bandas da França, Itália, EUA… Foi bem legal! Também estamos fazendo publicações no sentido de resgatar essa identidade e divulgar coisas novas”, descreve Paulo. Sobre a primeira década do festival, ele assegura que o coletivo tem muitos planos: “A gente programou várias ações: algumas entrevistas com pessoas que fizeram parte dessa construção, também faremos uma live de entrevistas para mostrar um pouco do que é produzido aqui na região”. 

Sem revelar detalhes, o organizador do evento adianta que, para o final do ano, o grupo está programando “uma surpresa” para celebrar os dez anos, no formato on-line. Já para um cenário pós-pandemia, “acho que o primeiro passo é fazer uma festa para reunir todo mundo”, ele brinca. “Depois vamos realizar quatro eventos [que estavam planejados e foram interrompidos pela pandemia] e seguir com a produção. Estamos animados com as perspectivas, o que gera uma ansiedade perturbadora, mas vamos que vamos”.

Confira abaixo o documentário produzido sobre a trajetória do festival.

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