Moradores da ZAS na Vila Antônio Pereira ficam de fora de remoção anunciada pela Vale

Cinco famílias ainda não conseguiram negociar remoções junto à mineradora.

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Ao centro da foto, a Barragem Doutor é um lembrete do risco em que as famílias estão expostas - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

Quando foi anunciado no dia 10 de fevereiro a realocação de 30 famílias que se encontram na ZAS da Barragem Doutor no distrito de Antônio Pereira, os moradores das Zonas de Autossalvamento (ZAS), comemoraram. Porém, as famílias da Rua Água Marinha e arredores, apesar de constarem no laudo de moradores remanescentes da Defesa Civil Municipal de Ouro Preto e residentes sobre a mancha da Barragem Doutor, não estão entre as pessoas que deverão ser removidas pela mineradora.

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Em janeiro, após protestos e a interrupção de mais de 8h da MG-129, os moradores conseguiram uma reunião com o prefeito Ângelo Oswaldo. A principal pauta era tratar da situação das famílias que ainda residem sobre a mancha no hipotético rompimento da Barragem Doutor. Após tratativas com a prefeitura; Defesa Civil Municipal e Vale, ficou decidido que a mineradora removeria trinta famílias dessas localidades. Porém somente os moradores da Rua Projetada 10 e arredores serão removidos, os residentes da Rua Água Marinha terão que esperar.

Na localidade são cinco famílias que não conseguiram negociar com a mineradora. Três residem sobre a mancha e duas têm suas casas a menos de 5 metros da ZAS, o suficiente para caracterizar o imóvel como atingido e justificar a retirada das famílias, mas de acordo com os moradores, a Vale ainda não se dispôs a negociar com eles.

Morando na ZAS

“Não é mais só uma questão de barragem”, foi o que disse Ana Carla, atingida residente na Rua Água Marinha e uma das principais representantes da comissão dos atingidos, Ana se referia aos recentes atentados e ameaças que recebe. Segundo ela em razão de “estar à frente das lutas junto da comunidade”. No último fim de semana, a moradora teve a janela da frente de sua casa quebrada, não se sabe com qual objeto, nem por quem. As diversas câmeras de segurança posicionadas na vizinhança pela mineradora só podem ser acessadas através de solicitação judicial.

A moradora questiona a colocação das câmeras pela Vale no local, “por uma questão de segurança e privacidade, se as câmeras são importantes para a segurança, as imagens deveriam ser redirecionadas para a polícia ao invés de ficar em posse da Vale. Parece que as câmeras servem na verdade para nos espionar.”

Ana é engenheira geológica e ex-funcionária da mineradora, durante o tempo que trabalhava na Vale, investiu em imóveis na Vila na esperança de ali morar e criar sua família. Todo o projeto de futuro e investimento financeiro da sua família estão aplicados em um local que, afetado pelo descomissionamento da barragem, pode deixar de existir.

As famílias de Ana, Dôra e Conceição são as últimas que ainda moram na Rua Água Marinha - Foto: Lui Pereira/Agência Primaz

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Suas vizinhas, Conceição e Dôra, moram na Vila desde a década de 70 e 80 respectivamente, investiram toda uma vida na criação de filhos e na construção de suas casas no local e precisam negociar a tranquilidade de uma vida com a Vale. As mulheres querem manter suas vidas do modo como aprenderam há tempos. O temor é não poderem voltar mais para as suas casas e de não conseguirem outro lugar para se estabelecerem.

Com exceção das três famílias, as outras casas já estão vazias, já é possível ver um grande crescimento de mato e as moradoras relatam que animais que até então não eram vistos ali com facilidade, como ratos, começaram a aparecer. Nas passarelas agora transformadas em rotas de fuga, o mato está bem alto e, de acordo com as moradoras, é muito escuro de passar a noite.

Defesa Civil

Em reunião realizada na manhã desta quinta-feira (04) entre a comunidade e o Secretário da Defesa Civil Municipal de Ouro Preto, Juscelino Dos Santos Gonçalves, algumas dúvidas foram esclarecidas junto da população, entre eles o secretário esclareceu que como a Barragem Doutor se encontra no nível 2 de risco de rompimento, as remoções devem ocorrer, mas não existe a necessidade de evacuação imediata dessas famílias.

Mesmo sem a necessidade de evacuação imediata, o compromisso da Defesa Civil é acompanhar o caso de todos os moradores que residem sobre as ZAS, independentemente de já existirem ou não tratativas para a retirada desses moradores. De acordo com Juscelino, a Vale não iniciará as obras do descomissionamento da Barragem Doutor enquanto não houver a remoção completa dos moradores das ZAS.

Após a publicação da matéria, a mineradora Vale encaminhou a nota abaixo com o posicionamento da empresa sobre as situações relatadas.

A Vale esclarece que a remoção das famílias residentes da Zona de Autossalvamento (ZAS) da barragem Doutor, da mina Timbopeba, em Ouro Preto (MG), é preventiva e resultado do comprometimento da empresa com a segurança desses moradores, uma vez que a estrutura, que permanece em nível 2, está passando por obras de descaracterização. Todas as famílias elegíveis à remoção estão sendo abordadas individualmente para tratar a questão da melhor forma. As famílias estão sendo realocadas sob a coordenação da Defesa Civil, com o apoio da Vale. Elas estão recebendo assistência integral da empresa, com participação ativa na escolha de suas moradias, que serão entregues após reforma e limpeza. Além do acolhimento às famílias, a Vale reforça que segue atuando na entrega de projetos que promovam mudanças duradouras e sustentáveis para recompor, dentro do possível, as condições de vida anteriores das comunidades realocadas. As tratativas para a manutenção de estruturas evacuadas na ZAS, que seguirão com programação de limpeza periódica ou conforme a necessidade, estão em andamento. A instalação das câmeras de segurança na ZAS faz parte das ações que foram acordadas com a Defesa Civil municipal para melhorar a segurança das áreas evacuadas. Além disso, a empresa mantém uma equipe de Segurança Patrimonial que realiza rondas diárias e periódicas e o contato frequente com os órgãos de segurança pública em caso de alguma ocorrência.

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