Só há sociedade se há mulher, viva!

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “Editoriais”

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Mirei a lua findando o ocaso: cheia, enorme, esplendorosa; paisagem propícia à feitura de poesia, ápice da expressão livre. Mirei a lua e acabei encontrando uma estrela ali, outra acolá. Sinto-me extasiada, é mês dedicado às mulheres, seus feitos inumeráveis pela existência do planeta. Apesar da tristeza inominável e desmedida que vivemos no maior pandemônio deste século, do caos generalizado de um desgoverno que incita a propagação do vírus, o descumprimento das normas de isolamento e segurança, o desprestígio da ciência, a inexistência efetiva de campanhas de vacinação, o não uso de máscaras etc., é mês para elevar as vozes femininas. Vozes e ações de mulheres que não têm cor, religião, política e nacionalidade. Vozes, ventres (férteis ou não), gestações, ações simples ou complexas, que marcam a história de uma família, cidade, país ou do mundo. Eva nasceu da costela de Adão? Não creio. Eva escutou a serpente? Não creio. Eva levou Adão ao pecado? Não creio. Eva confabulou com a serpente? Não creio. Eva desobedeceu às leis de Deus? Não creio. Não creio que Eva nasceu da costela de Adão. Não creio que Adão nasceu primeiro do que Eva. Não creio que Deus tenha criado o homem ou a mulher, primeiro. Não creio que Deus faça distinção entre gêneros. Não creio que Deus é masculino ou feminino. Creio em Deus, que criou a natureza, os seres, as coisas boas; creio num Deus que não pune com mãos de aço e cólera; creio num Deus que não castiga os seres com pragas, pestes ou doenças, creio num Deus que não faz ninguém comer o pão que o diabo amassou (estamos comendo nossos desfeitos e descuidados com a natureza!). Nascemos: Evas, Marias, Anas da costela de Adão, e nos foi dado o milagre de gestar e dar à luz? Não creio neste preceito de Adão ser autor da vida de Eva. Se fosse, por que ele foi privado de dar à luz? Não sei, meu livre arbítrio é questionador. Neste texto de homenagem às mulheres, às geradoras de grandes feitos, de funções múltiplas na sociedade; que trabalham de sol a sol, de chuva a chuva, nos lares, escritórios, escolas, comércio, construções, laboratórios; na arte, cultura, educação, ciência e outras áreas de conhecimento e das ações humanas. Mulheres criativas, criadoras de engenhosas produções e reproduções; mulheres que questionam, mulheres que se calam; mulheres tímidas, mulheres desinibidas; mulheres que fazem um grito ou sussurro múltiplo de vozes emaranhadas do fundo da alma. Mulheres que lutam por liberdade de expressão, por reconhecimento de seu lugar na manutenção da sobrevivência, do amor, desse pulso incessante e paradoxal que se chama: Vida.  

Somos mulheres que não nasceram da costela de Adão, mas do sopro divino de um Deus nem homem, nem mulher – apenas Energia Criadora. Sem a ordem masculina do surgimento, fruto da cultura machista dos livros do antigo testamento, que mulheres e homens sejam apenas pessoas humanas que se respeitam incondicionalmente! Se estrela ou lua, se frio ou calor, miro o céu e me perco no brilho da luz ou da escuridão, buscando uma esperança de ver sociedades harmoniosas, sem rastros machistas, sem pregações que insistem em restringir os passos femininos (que incentivam feminicídios); sem caminho, senda, mares construindo preconceitos, sem qualquer força feminicida que amordace a voz feminina ou limite o direito feminino de ir e vir, sair e voltar, nascer e viver! Só há sociedade se há mulher, viva!

(*) Andreia Donadon Leal é Mestre em Literatura, Especialista em Arteterapia, Artes Visuais e Doutoranda em Educação. Membro da Casa de Cultura- Academia Marianense de Letras, da AMULMIG e da ALACIB-MARIANA. Autora de 18 livros.

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