O capitalismo bancário e o desastre do coronavírus

“Uma organização que visa somente o lucro é, não apenas falsa, mas também irrelevante. O lucro não é a causa da empresa, mas sua validação. Se quisermos saber o que é uma empresa, devemos partir de sua finalidade, que será encontrada fora da própria empresa”. (Peter Drucker)

Os textos publicados na seção “Colunistas” não refletem as posições da Agência Primaz de Comunicação, exceto quando indicados como “editoriais”

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O sistema capitalista selvagem tem por princípio maquiavélico a obtenção de lucros excessivos a todo custo, não importando para isso que tenha que colocar em risco a vida humana ou o meio ambiente. E aí nós temos consequências traumáticas com barragens se rompendo, mares, rios e lagos sendo contaminados, explosões, incêndios, elevados índices de acidentes do trabalho com ocorrências fatais, atendimentos desumanizados e muitos outros problemas de proporções gravíssimas, com perdas de diversas vidas humanas.

O nosso sistema bancário, infelizmente, no meio da pandemia do Corona Vírus, tem demonstrado que vem se alinhando muito a essa filosofia. Coitado do simples cidadão que depende de um atendimento presencial em qualquer agência nos dias de hoje. Terá necessariamente que enfrentar por horas e horas a fio, filas enormes espalhadas pelas calçadas, expostos a excessivos raios solares ou a chuvas torrenciais. Além da total falta de estrutura, a falta de informação e orientação disponibilizadas para esses pobres coitados são precárias ou mesmo inexistentes. Já tive oportunidade de presenciar uma senhora idosa, com uma ferida na perna aguardando na calçada por mais de hora para ser atendida em uma fila preferencial e, o pior, o problema era tão simples que seria resolvido praticamente de imediato, se houvesse respeito e gente para orientar. Depois de todo o martírio da espera, quando o cidadão consegue ser atendido, observa que lá dentro do estabelecimento existe um grande número de guichês ou mesas vazias e um número reduzido de pessoas para atender os clientes, totalmente desproporcional à demanda.

Já tive oportunidade de me manifestar educadamente junto aos gerentes e ouvi-los em suas argumentações. As justificativas vazias tais como disponibilização de serviços via aplicativos, redução do quadro de pessoal devido a afastamento por contaminação pelo Corona ou desenvolvimento de trabalho pelos funcionários via Home-office explicam e reforçam o desastre, mas não convencem por que não resolvem o problema. Recentemente, tive oportunidade de ver na mídia um gerente de uma agência bancária dizendo que não procedem esses tipos de reclamações por que o Banco tem tomado as devidas providências. Infelizmente é fácil de observar que ele está redondamente enganado! Para comprovar é só ele descer do seu castelo e ir para as calçadas, principalmente no princípio do mês, para ver de perto a desgraça formada! Já tive oportunidade de dizer para um deles para tomar cuidado para não ser agredido, tendo em vista a fúria justificada das pessoas que estão por ali.

Recentemente, notícia estampada na mídia informa que o sistema bancário, setor que mais lucra no Brasil, fechou 1,7 mil agências e reduziu 10 mil postos de trabalho em 2020. Observem a expressão “setor que mais lucra no Brasil”. O site www.cnf.org.br em matéria recente informou que o lucro líquido combinado de Itaú Unibanco, Banco do Brasil (BB), Bradesco e Santander cresceu 18,4% em 2019 e atingiu R$ 86,6 bilhões, o maior valor nominal da história. É um fato que no momento atual esse lucro deve ter sofrido uma queda, mas é impossível deixar de ecoar algumas perguntas que não querem se calar: para onde foi esse lucro? Nesse momento tenebroso em que estamos vivendo não seria a ocasião de humanamente e respeitosamente revertê-lo para dispensar um melhor atendimento aos clientes, mantendo o quadro de pessoal ou até mesmo contratando mais gente e melhorando a infraestrutura precária que disponibilizam para o atendimento?

O que mais incomoda nisso tudo é que enquanto isso, de uma forma geral, os pequenos comerciantes que se desdobram para atender a todos os inúmeros requisitos de combate ao vírus são transformados em vilões e obrigados a fechar as portas!

As agências bancárias precisam entender que existe uma quantidade enorme de clientes, muitos deles idosos que são analfabetos digitais e não conseguem acessar os aplicativos disponibilizados ou mesmo acessar um caixa eletrônico, que aliás ainda possui uma série de limitações. Os clientes e principalmente os nossos velhinhos merecem todo o nosso respeito e necessitam urgentemente de um atendimento presencial e personalizado, não importa o valor que eles têm na conta bancária.

As agências bancárias precisam entender que responsabilidade social corporativa não se faz somente nos momentos de bonança no estilo “Green-Washing” e quando a coisa aperta, a filosofia muda. Os lucros exorbitantes obtidos durante longos anos deveriam, nesse momento, serem revertidos de forma séria em benefícios para seus clientes e para a sociedade. Não adianta reduzir o quadro de pessoal e deixar meia dúzia de atendentes expostos à ira dos clientes, tentando justificar o injustificável.

Quiçá as autoridades competentes se sensibilizem e comecem a usar o mesmo rigor que utilizam com os comerciantes, que na verdade são mais vítimas do que culpados!

Quem tem ouvidos que ouça!

(*) Júlio César Vasconcelos é Mestre em Ciências da Educação, Professor Universitário, Coach, Escritor e Sócio-Proprietário da Cesarius Gestão de Pessoas, publicado na Agência Primaz (https://www.agenciaprimaz.com.br) em 10/03/2021.

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