Maria-chuteira ou torcedora?
Nem todas as mulheres só assistem e gostam de futebol por conta dos atletas. Antigamente, todas eram marias-chuteiras, mas hoje, descobriram que lugar de mulher também é no esporte.
- Luiza Boareto (*)
- 12/03/2021
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As primeiras partidas oficiais de futebol, na cidade de São Paulo, ocorreram no Velódromo. As arquibancadas estavam sempre cheias de cavalheiros, de senhoras e senhoritas. O primeiro campeonato paulista foi disputado em 1902 e, as mulheres, eram destaques entre os torcedores que lotavam as arquibancadas para assistir ao “belo sport inglês”.
A torcida era formada por pessoas educadas, já que o esporte, até então, era alimentado pela alta sociedade endinheirada. Para praticar o futebol, era preciso importar os materiais diretamente da Inglaterra, e o preço para traze-los era alto o suficiente para só a elite praticar.
A ideia de que mulher e futebol jogam em campos diferentes sempre fez com que seja necessário muito mais do que o “gostar do esporte” para que ganhem o reconhecimento como torcedoras. É preciso ir contra todas as representações e estereótipos.
O conceito de que damas não possuem conhecimento nas regras de futebol é um tema recorrente em campanhas publicitárias e programas esportivos que, em período de Copa do Mundo, acabam sendo temas de vários programas e peças de marketings. A indústria acredita que em Copa, mulheres se interessam pelo esporte porque a Seleção joga, porque é uma festa internacional, e não porquê gostam do esporte.
Claro que o público feminino não é formado, apenas, por quem está interessada no futebol. A grande diferença com o masculino é que elas possuem mais liberdade para assumirem seus interesses, por exemplo, nos jogadores.
Indubitavelmente, o aumento da presença de moças e senhoras no campo faz com que essas afirmações sejam postas em xeque para não serem generalizadas: nem todas as mulheres só assistem e gostam de futebol por conta dos atletas.
Essa luta por legitimidade que, normalmente as torcedoras precisam enfrentar, é uma espécie de busca por legitimação que tem a intenção de separar as torcedoras “autenticas” das famosas “marias-chuteira”.
É muito comum notarmos que as pessoas se referem como maria-chuteira às mulheres que vão aos estádios não para torcer, mas para ver seus ídolos.
Embora as “Marias chuteiras” continuem existindo, acredito que esta visão sobre a presença feminina já quase não existe. Hoje, as “marias” são absoluta minoria nos estádios. Antes, usado para identificar todas as torcedoras em geral, agora, já foi percebida a presença das “verdadeiras torcedoras” em grandes clássicos, em caravanas para outros estados e até outros países.
Dessa forma, O termo “maria-chuteira” passa a designar, apenas, uma camada específica do público feminino, aquela camada de mulheres que dão menos importância às questões técnicas do esporte.
Essa diferença entre as torcedoras cria uma oposição entre as esferas do ver e a do torcer.
Ver, representa um contato superficial onde, o importante é o impacto da imagem – o jogador. Torcer, representa um ato, como salienta Roberto DaMatta em “A bola corre mais que os homens”: “eu admiro com os olhos e vejo com a mente, mas, para torcer, sou obrigado a usar meu corpo: minhas mãos, minhas pernas, minha boca e todo meu corpo”.
(*) Luiza Boareto é jornalista formada pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), comentarista profissional de programas de TV e apaixonada por esportes. Espero que “o teu desejo seja sempre o meu desejo”. Mas se não for, é culpa do meu sol em Leão
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