Editorial: Um ano de pandemia na Região dos Inconfidentes

Compartilhe:

[wpusb layout="rounded" items="facebook, twitter, whatsapp, share"]

Segunda-feira, 16 de março de 2020:

Em entrevista coletiva, Duarte Júnior, então Prefeito de Mariana, anunciava as medidas que seriam tomadas pela administração municipal para enfrentamento à pandemia do coronavírus. Em nota técnica, publicada no início da noite daquele dia, os detalhes dos três primeiros casos suspeitos na cidade eram divulgados: um casal com histórico de viagem à Alemanha, Hungria e República Tcheca, e uma mulher com histórico de contato com essas duas pessoas, todas em isolamento domiciliar e apresentando quadro clínico leve.

Três dias depois foi divulgada a notícia do primeiro caso confirmado. Em 05 de maio foi noticiado o primeiro caso positivo em Itabirito, e 11 dias depois, em Ouro Preto.

No último dia de março era anunciada a primeira morte associada ao novo coronavírus em Mariana. O mesmo aconteceu em Itabirito, no dia 17 de maio, e em Ouro Preto, no dia 1º de junho.

Terça-feira, 16 de março de 2021:

Um ano se passou e é muito grande a tentação de fazer uma análise retrospectiva, de buscar explicações, de fazer juízos de valor e, até mesmo, procurar enumerar as lições, aprendidas ou não.

Mas, para que isso serviria?

Para constatar que, de acordo com os dados divulgados ontem (dia 15), 17.430 pessoas tiveram resultado positivo para o contágio da Covid-19, na soma dos casos ocorridos em Mariana, Ouro Preto e Itabirito? Para comemorar que, desse total, quase 17 mil são considerados recuperados?

Mas como esquecer as 154 vidas perdidas?

Fazer apenas esse tipo de contagem seria relegar essas mortes a meras estatísticas, e isso é inadmissível. Em que medida contribui o apontar de dedo, ao bel prazer de nossas conveniências e convicções nem sempre embasadas em dados científicos?

A Agência Primaz não tem se afastado um milímetro sequer de seus valores nesses 12 últimos meses, buscando sempre desempenhar seu papel de fazer jornalismo de maneira responsável, séria e independente. E não será agora que deixará de lado esses elementos norteadores de seu trabalho.

Desse modo, reportando os fatos e buscando fornecer informação de qualidade, não vamos buscar aqui induzir a perpetuação de um clima de nós contra eles, de execração pública, ou posar de donos da verdade.

Entretanto, os mesmos princípios mencionados nos impelem a um posicionamento sobre dois pontos específicos.

O primeiro é relativo à falta de conscientização de uma parcela da população da Região dos Inconfidentes que, imaginando-se dotada de imunidade, insiste em menosprezar o potencial letal da pandemia, promovendo festas clandestinas e, das mais variadas formas, desrespeitando as recomendações de quem, no legítimo direito de autoridades constituídas, e no sagrado cumprimento de suas capacidades técnico-científicas, orientam e lutam para conter o avanço da disseminação desse vírus mortal. Por mais que tentemos, não conseguimos sequer imaginar as justificativas para tais atitudes, embora reconheçamos que não faltem exemplos de negacionismo e irresponsabilidade.

A segunda questão que pretendemos deixar registrada com bastante clareza, é o posicionamento da Agência Primaz em relação à forma que vem sendo empregada, principalmente nos últimos dias, para o anúncio de medidas restritivas de combate à Covid-19. Não foram poucas, nas últimas semanas, as ocasiões em que administrações municipais da Região dos Inconfidentes convocaram entrevistas coletivas, nas quais a possibilidade de formular perguntas e fazer questionamentos só era permitida a profissionais de comunicação com presença física nos eventos.

Que sentido faz isso, considerando que, pela própria natureza do trabalho, esses profissionais já estão altamente expostos à pandemia? Qual a dificuldade em abrir canais já utilizados em tantas “lives” e videoconferências nesses tempos difíceis?

A Agência Primaz tem se posicionado firmemente contra essa prática, mas nem sempre lhe dão ouvidos. Fundador e sócio proprietário da Agência Primaz, eu, Luiz Loureiro, aos 66 anos, sou um dos integrantes de grupo de risco. E do mesmo modo que não me exponho, acredito ser inadmissível submeter meus colegas de trabalho a situações de desnecessária ameaça. Até porque os conceitos de grupo de risco estão em permanente mutação e, infelizmente, começa a crescer o número de casos em praticamente quase todas as faixas etárias, com registro de contágio em jovens, crianças e até bebês.

Continuamos o nosso trabalho e, ao nosso modo, buscamos manter a coerência de nossa posição, principalmente por não esquecer que, das 154 mortes relacionadas à Covid-19 em nossa região, duas são de colegas da área de comunicação.

Em respeito a todas as vítimas, e em especial à memória de Alessandra Alves e Jota Missias, permaneceremos firmes em nossa posição, esperando que essa atitude seja reconhecida e compreendida por todos e todas que acompanham nosso trabalho.

(*) Luiz Loureiro é jornalista, graduado pelo Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), fundador e sócio proprietário da Agência Primaz de Comunicação

Veja Mais