EXCLUSIVO: O coordenador do SINE de Mariana, Gustavo Ribeiro fala sobre emprego, vagas e funcionamento do órgão em meio a pandemia

A expectativa do coordenador é voltar com o serviço de divulgação de vagas em abril, mas isso dependerá da evolução da pandemia na cidade.

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Gustavo Ribeiro, coordenador do SINE de Mariana - Foto: Arquivo Pessoal

Em entrevista exclusiva à Agência Primaz, o coordenador do SINE de Mariana dá explicação sobre a suspensão da divulgação de vagas na cidade, índice de empregabilidade e sobre os novos projetos do órgão para otimizar as contratações, como o call center e a implantação de uma sala de videoconferências voltada para a realização de entrevistas de emprego à distância.

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A entrevista ocorreu na última quinta-feira (25), confira:

Agência Primaz: Para iniciar nossa conversa, gostaria que você explicasse para os nossos leitores o que o SINE e quais são os serviços que ele oferece para a população?

Gustavo Ribeiro: O SINE, Sistema Nacional de Emprego, é um convênio firmado entre o governo federal, estadual e municipal. Hoje quem arca com os custos do SINE no município de Mariana é a prefeitura e desde quando eu assumi o cargo de coordenador, sempre deu total suporte para desenvolvimento e melhoria do setor. Os principais serviços que o SINE oferece hoje são: Cadastro do trabalhador, cadastro do empregador, acesso ao empregador web que auxilia as empresas para que elas habilitem o seguro desemprego. A gente também auxilia o trabalhador no cadastro da carteira de trabalho digital e todas as intervenções referentes ao seguro desemprego, além do encaminhamento para vagas, acompanhamento do processo seletivo, dentre outros. Têm ainda os cursos de qualificação profissional, mas como não tem verba do governo federal, está parado esse setor. A gente está buscando parcerias com Samarco, Vale e Fundação Renova pra ver o que a gente pode fazer com relação a essa qualificação, até como uma forma de aprimorar a nossa mão de obra local. Além de dar oportunidade para os trabalhadores, isso é fundamental para fortalecer nossa economia.

Agência Primaz: Como está o funcionamento do SINE durante a pandemia e especificamente agora com a Onda Roxa?

Gustavo Ribeiro: Nesse momento de pandemia a situação é muito complexa, a maioria das unidades SINE do Estado de Minas Gerais estão fechadas, algumas parcialmente e outras totalmente. Desde quando começou a pandemia no ano passado o SINE Mariana ficou fechado por aproximadamente uma semana. A partir dessa dificuldade, a gente desenvolveu uma ferramenta que está sendo pioneira que é o call center. É uma iniciativa nossa que inclusive a gente está trabalhando já para aprimorar essa ferramenta, precisamos ampliar porque hoje a gente tem uma demanda muito grande de fluxo de ligações, então está na hora de aprimorar isso para que atenda com mais eficiência a população de Mariana. A previsão é que dentro de 45 dias aproximadamente já esteja concluída essa ampliação.

A Secretaria de Estado (SEDESE), que gerencia 133 unidades SINE em todo estado de Minas Gerais, tem conversado bastante conosco para levar essa ideia nossa para outros lugares também para poder atender a população. 

Com essa evolução da pandemia aqui na cidade, onda roxa infelizmente, nós tivemos que restringir ainda mais o acesso aqui na unidade. A gente está tentando atender de forma remota pelo call center ou pelo e-mail. Incentivamos bastante o uso da ferramenta do SINE nas plataformas online que é o aplicativo SINE fácil, o Portal Emprega Brasil também e até o próprio call center, né? Estamos trabalhando de portas fechadas, os atendimentos presenciais a gente teve que cancelar em função da gravidade da pandemia. Estamos aguardando para ver se a gente flexibiliza um pouco mais o atendimento à população.

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A princípio não estamos fazendo a divulgação de nenhuma vaga justamente para não atrair mais pessoas de fora, a situação está muito grave então a gente tem que preservar também o cidadão.

Agência Primaz: O que motivou a suspensão da divulgação de vagas pelo SINE Mariana?

Gustavo Ribeiro: A gente sabe da importância de atender tanto o empregador como o trabalhador, mas neste momento a gente sabe que a saúde é muito mais importante né? A gente vem conversando com a Fundação Renova, com a Vale, Samarco também para entender como vai ser esse procedimento, se vai continuar, se vai paralisar mas a gente se preocupou muito com essa situação, porque estamos aqui na ponta e atendemos muitas pessoas. Nós percebemos que estava havendo um grande trânsito de pessoas de outros estados. Isso nos deixou muito preocupados, nós entramos em contato com duas empresas que estavam tendo um fluxo muito grande dessas pessoas de outros estados e falamos: “olha, vamos suspender essas vagas até que seja normalizada a situação”. A princípio não estamos fazendo a divulgação de nenhuma vaga justamente para não atrair mais pessoas de fora, a situação está muito grave então a gente tem que preservar também o cidadão.

Agência Primaz: Qual a expectativa de retorno dessas atividades no SINE mariana?

Gustavo Ribeiro: Estamos aguardando. A princípio a gente estava com a intenção de retomar aos poucos essa atividade a partir do dia primeiro de abril. Mas tudo vai depender da evolução da covid, né? Se vai diminuir ou se vai aumentar. Nós torcemos para que diminua e a gente volte a funcionar normalmente como estava sendo feito.

Agência Primaz: Como o SINE estava funcionando antes deste grande aumento de casos de covid?

Gustavo Ribeiro: A gente estava fazendo agendamento, as vagas estavam sendo divulgadas normalmente, porém as inscrições só estavam sendo feitas por telefone, via aplicativo ou pela internet. O trabalhador fazia a inscrição e quem não tinha como imprimir o encaminhamento vinha aqui na unidade, tomando todos os cuidados, pegava seu encaminhamento e era direcionado para a empresa. Só que agora com essa gravidade maior da pandemia, nós tivemos que parar com a divulgação das vagas. Estamos estudando também aqui uma novidade, vou te adiantar agora em primeira mão. Estamos estudando implantar aqui uma sala de videoconferência para ser disponibilizada para fazer entrevistas, será um ponto muito positivo, isto está em andamento ainda, a gente está discutindo, mas se tudo der certo será implantado o quanto antes esse serviço na unidade.

No mês de fevereiro a gente teve 290 solicitações de seguro desemprego, é um número baixo se levarmos em consideração os anos anteriores, tinham meses chegava a 600, 700 solicitações. Então com relação ao emprego na cidade, a situação permanece estável no momento.

Agência Primaz: Ainda sobre a pandemia, mas focando agora em outro ponto. Diariamente nós vemos notícias de que o desemprego está em alta em função da pandemia no Brasil e no mundo, mas falando especificamente de Mariana, qual a nossa situação hoje? Qual é a porcentagem de desempregados na cidade?

Gustavo Ribeiro: Vou fazer um breve histórico aqui, no ano após o rompimento da barragem, o índice [de desemprego] chegou a quase 30% da população, um número altíssimo. Se a gente for pagar os anos de 2009 a 2011, a taxa de desemprego na cidade era em torno de 3, 4% no máximo, então a gente teve esse pico de quase 30% de desempregados. No final do ano passado, a taxa de desemprego em Mariana estava em torno de 9,8%, então essa foi uma queda significativa. É bom a gente levar em consideração também que aumentou muito os índices de contratações de mulheres que antes eram de 8 a 10% e no ano passado chegou a quase 30%. Então é um número muito significativo apesar de o ideal ser 50% né? Mas já é uma evolução significativa. Nesse ano de 2021 não houve uma grande aceleração, a taxa permanece entre 9,8 a 10,2%. Eu falo que se  Mariana não sofreu muito com o desemprego ainda, é em função dessas obras da Renova né? A reparação, a retomada da Samarco e também da Vale, ajudaram a manter essa taxa estável, não teve esse fluxo de demissões muito grande. No mês de fevereiro a gente teve 290 solicitações de seguro desemprego, é um número baixo se levarmos em consideração os anos anteriores, tinham meses chegava a 600, 700 solicitações. Então com relação ao emprego na cidade, a situação permanece estável no momento.

Agência Primaz: Você mencionou sobre a diferença de empregabilidade por gênero em Mariana, recentemente nós fizemos uma reportagem sobre o assunto, inclusive com algumas mulheres da cidade se associando para buscar a melhor forma de se inserir no mercado de trabalho. Elas disseram para a nossa reportagem que tinham grande dificuldade em se inserir no mercado através do SINE, em função da natureza das vagas anunciadas, a grande maioria são de vagas tradicionalmente masculinas. Sobre essa situação, existe por parte do SINE alguma iniciativa para ampliar a contratação feminina na cidade?

Gustavo: Sim, na verdade a gente trabalha aqui com conscientização. O SINE não pode impor condições de forma alguma, quando a empresa vem trabalhar com a gente em parceria não pode haver distinção de qualquer forma. Baseado nisso a gente pede para as empresas uma flexibilidade tanto para contratação de mulheres quanto também para jovens em relação ao primeiro emprego. Em função disso, a gente conseguiu chegar nesse número de quase 30% de contratação de mulheres justamente em função dessa campanha nossa de conscientização. Nós temos alguns exemplos aqui, a Andrade Gutierrez e a HTB, por exemplo, contrataram um índice muito grande de mulheres para a obra. A gente sabe que perto do total, o número é pequeno, tem muito que ser melhorado ainda, mas é um trabalho de formiguinha a gente vai construindo ao longo do tempo. Hoje já existe essa cultura né? Fala se de mão de obra para a área de mineração, construção civil já tem aquele olhar voltado mais para o público masculino. A gente tenta trabalhar com as empresas em parceria, com a conscientização mesmo para que melhore esses índices e a gente tem conseguido bons resultados.

Agência Primaz: Em relação ao primeiro emprego, o principal gargalo é a exigência de experiência em carteira para a grande maioria das vagas. Mas o jovem que está à procura do primeiro emprego ou até mesmo um trabalhador que pretende mudar de área de atuação, ficam de fora por não atingirem esse pré-requisito. Sobre esta situação, existe alguma iniciativa para ampliar a contratação de jovens por parte do SINE?

Gustavo Ribeiro: Essa é outra preocupação nossa, essas duas questões são as mais preocupantes, tanto em relação às mulheres quanto em relação ao primeiro emprego. As empresas quando divulgam uma oportunidade são 100% responsáveis por aquelas afirmações. Elas passam o número de vagas, colocam as exigências de experiência e formação, a gente não pode interferir nem alterar essas informações. A gente faz a mesma linha com relação ao trabalho voltado ao público feminino. É um trabalho de conscientização também, eu vou dar outro exemplo: A Andrade Gutierrez e HTB contrataram muitos jovens sem exigir experiência, logo após a gente conversar muito com a Fundação Renova algumas empresas como a Samarco e Vale também seguiram a mesma linha e para muitas vagas eles flexibilizaram a exigência de experiência para dar mais oportunidade. A Renova qualificou mais de mil pessoas junto com o Senai. E a gente está buscando essas informações, para quais cursos foram para que dê oportunidade para esse público que ela mesmo qualificou para que evite vir pessoas de outros estados para cá nesse momento que a gente sabe que a situação da pandemia está muito grave no Brasil, o que pode afogar ainda mais o nosso sistema de saúde.

 Então a gente acredita que daqui pra frente com certeza o trabalho vai aparecer e a gente vai criar mecanismos aqui para atender os trabalhadores.

Agência Primaz: E sobre a alta rotatividade dos empregos, na mesma matéria que citei anteriormente, uma fonte nos disse que até consegue pegar uma vaga, mas o empregador muitas vezes promove demissões frequentes ainda em períodos de experiência, o que segundo ela apenas “suja a carteira” e ainda atrapalha o retorno à programas sociais como o Renda Mínima por exemplo. Sobre isso, o SINE tem algum poder sobre essas situações relatadas?

Gustavo Ribeiro: Não, infelizmente não. O SINE de forma alguma pode intervir numa ação de uma empresa, de forma alguma. Qualquer solicitação nesse sentido, se a pessoa se sentir lesada, tem que procurar a Justiça do Trabalho.

Agência Primaz: Sobre a Fundação Renova, existe uma determinação judicial para que ela mantenha uma porcentagem mínima de trabalhadores locais, né?

Gustavo Ribeiro: Bem, isso mesmo, é o mínimo de 70% conforme estipulado no TTAC.

Agência Primaz: Sobre isso, as vagas anunciadas pela Renova e terceirizadas com essa característica de vaga local, como ela é tratada internamente pelo SINE?

Gustavo Ribeiro: Na verdade, a empresa trás a vaga pra gente e quando inserimos essas vagas no sistema do governo federal que se chama Sistema de Intermediação de Mão de Obra, no sistema nós informamos que a vaga é voltada para trabalhador local. Só que pra gente aqui , se um trabalhador chega de fora, de outro estado chega pra gente com um contrato de locação aqui da cidade, a gente tem que atender, de forma alguma a gente pode privar o trabalhador, a gente tem que atendê-lo à medida que ele mostra para a gente a documentação. A Fundação Renova tem um trabalho de auditoria interna junto com as empresas, mas no meu ponto de vista eu acho que esse sistema de monitoramento deve ser aprimorado porque a gente percebe muitas pessoas de fora chegando à cidade. Tanto é que a gente aqui suspendeu a divulgação de várias vagas em função disso. É responsabilidade da Fundação Renova criar um mecanismo para aprimorar esse monitoramento, porque hoje ele precisa ser melhorado. A gente adota alguns mecanismos, eu vou te dar um exemplo aqui em função da pandemia, se um trabalhador entra em contato conosco. Ele pode atualizar seu cadastro sem problema, mas a gente não está fazendo a modificação do endereço dele no cadastro. Isso impede que ele concorra às vagas voltadas à esse público aqui da cidade, mas isso é em função da pandemia, é um caso atípico né.

Agência Primaz: Nós gostaríamos de agradecer pela sua disponibilidade e pela abertura em responder nossas dúvidas, e aproveitamos para fazer uma última pergunta: No que depender do SINE, o trabalhador marianense pode ter esperança de se inserir brevemente no mercado?

Gustavo Ribeiro: A gente ainda espera superar esse momento difícil, nós temos uma esperança muito grande que esse ano vai ser muito bom, a economia de Mariana já vem mostrando isso desde o ano passado. A gente esperava uma movimentação maior já no início deste ano, mas infelizmente nós precisamos recuar um pouco, às vezes começa a recuar um pouquinho as contratações, mas a gente acredita que com certeza surgirão muitas oportunidades ainda. A Samarco já retomou, a Renova tem essas obras de reparação e reconstrução tanto de Bento quanto de Paracatu, então a contratação de mão de obra vai ser inevitável, ela vai acontecer. A gente nota também a estabilidade na questão do emprego, apesar da pandemia, Mariana está estável e isso é muito bom. Então a gente acredita que daqui pra frente com certeza o trabalho vai aparecer e a gente vai criar mecanismos aqui para atender os trabalhadores. Em breve a gente vai conseguir atender a todos, mas também precisamos nos preocupar com a saúde do trabalhador, tanto daquele que vem buscar empregos, quanto daqueles que trabalham aqui no SINE. Isso agora é fundamental, a economia a gente recupera, mas as vidas não.

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