Jorge Egito acusa ex-prefeito de Mariana, Duarte Jr., de contratar matador de aluguel para evitar divulgação de supostos crimes
A denúncia está sendo analisada na Promotoria de Justiça de Mariana e ainda não há decisão a respeito da instauração de investigação policial
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Protocolada inicialmente por meio eletrônico, no final da tarde desta terça-feira (06) e assinada de forma digital pelo advogado Eustáquio Antônio Nogueira Pereira e pelo denunciante, a notícia-crime foi protocolada também de forma física no Fórum de Mariana, uma vez que, segundo informações obtidas pela Agência Primaz, os arquivos eletrônicos juntados como provas das acusações não teriam sido suportados pelo sistema.
Nossa reportagem teve acesso à íntegra dos documentos, bem como aos arquivos de reprodução de troca de mensagens de WhatsApp e de áudios anexados à denúncia.
Primeiras transações entre os envolvidos:
Identificado como casado, empresário e residente em Mariana, Jorge Moreira Egito informa que “exerce, tanto pessoalmente quanto por meio daquela pessoa jurídica, a atividade lícita de intermediação e captação de recursos para aplicação no mercado financeiro” e identifica Anderson Ferreira Guimarães como sócio-gerente da empresa Indaiá Turismo e Transportes Ltda, e Duarte Eustáquio Gonçalves Júnior como “real dono da referida empresa e em favor de quem Anderson atua como ‘laranja’”. Em seguida afirma que os denunciados, “conhecem o Denunciante e sabem que ele tem conhecimento de como aplicar dinheiro no mercado financeiro e, por isso, vinham insistindo com ele desde dezembro de 2020 para que ele fizesse aplicações financeiras em favor de ambos, no afã de obterem acesso a carteiras de investimentos com maior rentabilidade e liquidez”.
Alega Jorge Egito que, “após muita insistência de Anderson e Duarte, o Denunciante concordou em auxiliá-los na aplicação de recursos financeiros, tendo ficado acertado que o dinheiro a ser aplicado seria depositado na conta da empresa do Denunciante”, revelando ter recebido, na conta de sua empresa, três transferências bancárias, no valor total de R$ 630 mil, feitas pela Indaiá Turismo e Transportes Ltda, juntando ao processo “prints” de comprovantes de depósitos.
Egito afirma que, “desconfiou da licitude da origem do dinheiro que lhe foi confiado para aplicar e, por isso, resolveu que não representaria Anderson, Duarte e a empresa Indaiá Turismo e Transporte Ltda naquelas transações financeiras”, tendo feito contato com Anderson, no mesmo dia, para acertar a devolução dos recursos financeiros. Na ocasião, de acordo com o denunciante, “Anderson disse que uma parte do dinheiro transferido deveria ser usada para pagar algumas dívidas indicadas por ele (R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais)) e que a maior parte deveria ser depositada na conta pessoal de Duarte Eustáquio Gonçalves Júnior”, o que foi feito no mesmo dia, sendo Duarte notificado por mensagem de WhatsApp, cuja reprodução também foi anexada ao processo, reportando a transferência de R$ 580 mil.
A partir daí, de acordo com a denúncia apresentada, “Anderson e Duarte passaram a insistir várias vezes ao dia com o Denunciante para que ele concordasse em movimentar e aplicar grandes somas de dinheiro da empresa Indaiá Turismo e Transporte Ltda, com promessas de lucros substanciais e benefícios para todos os envolvidos”. “Apresentando-se como porta-voz de Duarte, [Anderson] dizia que Duarte tinha muito dinheiro para aplicar e que confiava no Denunciante para fazê-lo. Segundo Anderson, Duarte tinha interesse que o Denunciante recebesse uma quantia elevada de dinheiro em espécie que ele guarda em sua residência (e que segundo Anderson somaria quantia superior a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais)) para que fosse aplicada no mercado de capitais”, além de oferecer “oportunidades de acesso do Denunciante a outros empresários que também estariam dispostos a confiar grandes somas de recursos financeiros a ele para que fossem aplicados no mercado financeiro”, acusa o denunciante.
Dinheiro Vivo:
Apresentada como prova da tentativa de entrega de dinheiro em espécie, Jorge Egito anexou à notícia-crime a reprodução de mensagem recebida de Anderson, na qual Jorge informa estar em São Paulo, na ocasião. Para o denunciante, essas “ofertas” teriam como objetivo “fazer com que ele estivesse pessoalmente na presença de Duarte ou de Anderson, ou, ao menos, de que ambos saberiam onde ele estaria, caso concordasse em se encontrar com eles”.
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Contratação de matador de aluguel:
Jorge Egito fundamenta sua denúncia de que Duarte Júnior “vem tramando a execução do Denunciante, tendo até contratado matador de aluguel para executar esse delito de sangue”, anexando ao processo a reprodução de uma mensagem recebida no dia 05 de março, via aplicativo de WhatsApp, tendo o cuidado de impedir a identificação da origem do aviso, mas afirmando tratar-se de “fonte fidedigna e de sua confiança”.
A notícia-crime, imputando a Anderson Guimarães o crime de falsidade ideológica (art. 297 do Código Penal), atribuído também a Duarte Júnior, além do crime de ocultação de bens e valores (art. 1º da Lei nº 9.613/98), solicita providências do Ministério Público do Estado de Minas Gerais para que “as atividades, em tese, ilícitas de Anderson Ferreira Guimarães e de Duarte Eustáquio Gonçalves Júnior sejam investigadas”.
Versões dos envolvidos:
A Agência Primaz fez um breve contato telefônico com Anderson Guimarães que confirmou ter aplicado recursos financeiros por intermédio de Jorge Egito, desde dezembro de 2020, mas não confirmou os valores envolvidos e não deu detalhes das operações, alegando que o assunto está na esfera da Polícia Civil de Mariana, que desenvolve investigação sobre o assunto. Entretanto, nossa reportagem teve acesso a uma decisão da Juíza Cirlaine Maria Guimarães, titular da 1ª Vara Cível, Criminal e da Infância e da Juventude da Comarca de Mariana, proferida no dia 24 de março, na qual indeferiu pedido liminar interposto por Anderson Ferreira Guimarães, no dia 17 do mês passado.
Na solicitação, Anderson Guimarães informa que a empresa Indaiá Turismo e Transportes Ltda celebrou contrato de prestação de serviços de intermediações financeiras com a empresa Jorge Egito – Intermediações Financeiras Ltda, tendo desembolsado o valor total de R$ 1.554.800,00, em transferências realizadas entre 17 de dezembro de 2020 e 02 de março deste ano. O pedido de “efetivo bloqueio de valores em conta bancária de titularidade da ré, expedição de Ofício à B3, determinando o bloqueio dos investimentos, liquidação das ações e depósito judicial do valor correspondente ao devido à autora [Indaiá Turismo]”, além de “expedição de Ofício à B3, requisitando informações acerca das transações realizadas pela empresa ré [Jorge Egito – Intermediações] no período de 17/12/2020 em diante”, foi negado, mas a Dra. Cirlaine Guimarães designou “audiência de conciliação não presencial, por videoconferência, através de chamada de vídeo de WhatsApp, […] devendo a Secretaria providenciar o agendamento de data e horário, conforme pauta disponibilizada pelo CEJUSC [Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania]”.
Duarte Júnior, depois de afirmar não ter feito qualquer tipo de negociação com Jorge Egito, concedeu hoje (09) entrevista conjunta à Agência Primaz e ao jornal “O Espeto”, na qual apresenta sua versão dos fatos. Na entrevista, Duarte desmente ter qualquer participação na empresa Indaiá Turismo e Transportes, reconhece que usou os serviços de Jorge, mas afirma que os recursos transferidos a Jorge Egito são de origem legal, obtidos mediante empréstimo contraído junto ao Sicoob em dezembro de 2020, e que uma parte substancial deles (R$580 mil foram devolvidos). Segundo ele, isso se deu mediante a montagem de um estratagema que despertasse a cobiça de Jorge, prometendo a ele investimentos maiores e indicação de mais investidores. E ainda relatou que, após recuperar seu dinheiro, fez um boletim de ocorrência no dia 11 de março, na tentativa de deixar a Polícia Civil inteirada de suas ações, bem como pressionar Jorge para devolver pelo menos parte dos recursos transferidos por outros investidores marianenses.
Confrontado com um dos áudios anexados à denúncia e obtidos pela Agência Primaz, Duarte Júnior reconheceu a autenticidade, dizendo tratar-se de uma mensagem que tinha o objetivo de atrair Jorge com a promessa do repasse de grande volume de recursos para novos investimentos.
As demais declarações completas do ex-prefeito serão publicadas ainda hoje no site da Agência Primaz.
Por sua vez, Jorge Egito, em contato com a Agência Primaz via chamada de voz pelo WhatsApp, reafirmou todas as informações contidas na denúncia e informou que deixou o país em virtude das ameaças, sem revelar quando e onde se encontra. Também informou ter remetido aos seus “clientes” um comunicado onde compromete-se a estudar a forma de fazer o ressarcimento dos recursos investidos. Porém ainda não encaminhou, como prometido, as comprovações oficiais das perdas ocorridas nas aplicações financeiras realizadas por ele.
Questionado sobre como obteve recursos para viajar, Jorge disse apenas que conseguiu ajuda de familiares, já que também perdeu todos os seus investimentos em dezembro de 2020, numa operação mal sucedida de compra de dólares.
No momento Jorge é investigado, pela Polícia Civil, por crimes de estelionato, lavagem de dinheiro, falsificação de documento e exercício ilegal da profissão.